quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Uma saga em Spank Chip


Tentar por um olho muito crítico em cima dos shows apresentados no Tim Festival é bem difícil para mim. Quando se pensa em um cabra que veio do interior do Piauí e que se embrenhou em uma good trip to Sampa para ver gente que antes só existiam nos downloads da vida, é pedir muito quantidades críticas de discernimento na hora de escrever um texto.

Mas, ele existe sim, apesar de toda a empolgação. E é ele que me fez ver que, entre os dois primeiros shows, existiram muitas semelhanças e diferenças. A maior semelhança: poucos ali estavam interessados em Spank Rock e Hot Chip. Apesar dos fãs ensandecidos em certos momentos dos ingleses, o certo é que eles eram esparsos, mais como uma forma de o Tim Festival dizer que ainda investe em quem está em cena no momento.

No entanto, esse fato não diminui a qualidade de certos momentos. Apesar de terem tocados para uma platéia ainda mal-formada, os americanos do Spank Rock não fizeram doce: começaram o show com pancadas de suas pick-ups, mesmo sendo elas as primeiras a terem sofridos com os problemas de som que permearam todas as apresentações.




O certo é que a disposição que eles aparentaram em fazer o show dava boas vindas com muita vontade a maratona que, pelamorde, foi enorme. Com simulações masturbatórias, coreografias ensaiadinhas, sorrisos e muito motherfucker, eles fizeram uma apresentação pequena, ainda que suficiente para perceber que dali ainda pode vir muito hip hop eletrônico.

Mas, nem tudo que começa bem, continua bem. Os ingleses do Hot Chip chegaram estilosos, espalhando a banda por todo o palco, com suas carinhas de nerds neo-sessentistas. Entretanto, a atitude pareceu bem mais o blasé inglês do que a nerdice rockeira. A apresentação foi muito arrastada, como se o show fosse deles para eles, o que tirou muito da graça de uma banda que já brincou com sons até de brasileiros, com o remix de Let's Make Love and Listen To Death From Above, do CSS.




O problema do som foi mais grave para o Hot Chip. Com uma parada de 18 minutos, eles voltaram ainda mais introspectivos, só se refazendo no momento de seu hit-mor, Over and Over. Só que aí a gente já estava esperando a Björk e nada mais importava.

Fonte da fotos: Terra Online

Texto por Rafael Campos
O Calo... no TIM


O TIM Festival passou e te levou feito ventania leva pipa bem feita?

O TIM Festival passou e te deixou no mesmo lugar como ventania que zero afeta pedra?

Você só gosta de música, gostaria de ter ido ao TIM, mas não foi, tava até a fim, mas tava caro, "vou ver tudo pelo youtube"?

Bom, aqui no Calo na Orelha a cobertura vai trazer impressões traduzidas diretamente da cabeça, coração e dedos de novos colaboradores [que esperamos não ficarem apenas numa única participação] e de 66,666% do nosso staff - eu e ele.

Aguardem para o fim do dia os textos sobre os shows de abertura da noite de domingo [é, a gente não é "cobertura oficial", fomos todos para a mesma noite com o suor do nosso rosto e sem direito a acesso aos bastidores!]. Spank Rock e Hot Chip serão debulhados pelo amigo e irmão Rafael Campos.

Até mais ver!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Estilo? Eles criaram o estilo.




Se você é aquele cara que se acha estiloso, por qualquer motivo, está na hora e reavaliar seus conceitos.

É, diante desses três caras, você não tem a menor chance. Em 1991, no Brooklin, NY, três músicos, John Medeski, Billy Martin e Chris Wood, se juntaram para fazer um som inicialmente com uma formação de trios de jazz acústico (piano, bateria e baixo), resultando no album Notes From The Underground. Sua sonoridade jazz/soul/groove já explicitava a competência singular de cada um deles, porém ainda não o amadurecimento estético da grande maioria de seu trabalho.
Este amadurecimento apareceu no decorrer dos próximos álbuns e revelou um funk mais eletrônico com uma formação quase sempre de uma bateria, órgão e baixo elétrico. Abdicando da sonoridade completamente acústica, MMW apresenta um som altamente urbano, sujo, com mais influências de Hip Hop, porém sempre sustentado pelas raízes jazzísticas e do groove.

A busca , segundo eles mesmos, é uma batida de Hip Hop que contenha tanto swing quanto os ritmos de jazz, mas sempre mantendo a simplicidade, podendo assim, criar texturas hipnóticas, melodias e harmonias livremente, no instinto, no improviso.
Sabe aquelas trilhas sonoras supostamente estilosas que tocam bem na hora que o mocinho(a) está andando em câmera lenta? Titica.




É o seguinte, o som é pesado: mas não é um guitarrista cabeludo tocando milhões de notas ou aquele baterista com seu kit do tamanho da sua sala de estar.É uma batida simples e incessante, cheia de groove, que faz seu pescoço se mexer como o de uma pomba (pior que é); É um órgão Hammond sendo tocado com notas curtas, sujas e estilosas; É um baixo incansável, cheio de poder e groove. I Wanna Ride You (cd Uninvisible), por exemplo, começa somente com um órgão bem estilo gospel americano, todo estiloso numa demonstração de virtuosismo, quando de repente, o baixo entra desvirginando praticamente junto com a batera, arrebentando notas distorcidas com uma levada simples e contagiante. Um nojo.




O som é sofisticado: filhos do Jazz, não lhes faltam frases complexas, baterias originais nem sensibilidade para segurar a mão. Sons como Where's Sly (cd Last Chance to Dance Trance) demonstram a competência para lidar com melodias simples, sem banalizá-la. Altas influências de Cool Jazz nessa faixa, que inclui belos arranjos de sopros. Fino.




O som é eclético: Latin Shuffle (cd Combustication) demonstra que não é tão simples assim. Uma levada de bateria com um nível de dificuldade realmente fora do comum evidencia uma vida de estudo musical. Como diz o nome da música, é uma levada latina bem caliente com precisão e swing. Essa música é, talvez, o melhor exemplo da capacidade que a banda tem de reciclar o que existe por ai. Não faltam bandas fazendo sons latinos, no entanto, Latin Shuffle soa mais do que um gênero musical. Soa Medeski, Martin and Wood. Inspirador.

Sempre buscando a espontaneidade, muitas vezes esse trio novaiorquino abre as portas para participações de djs, metais, guitarristas, como por exemplo John Scofield, guitarrista bem conceituado do mundo do Jazz.
Essa parceria que rendeu dois ótimos trabalhos: A Go Go (trabalho com nome do Scofield) e Out Louder, nomeado de Medeski, Scofield, Martin and Wood. Vale dizer que essas parcerias são especiais. Scofield toca com MMW como se tivesse tocado com eles a vida inteira.

Como vocês puderam perceber, essa resenha não trata de um único cd, mas de todo o trabalho de Medeski, Martin and Wood. Pensei em evidenciar pelo menos uma música boa de cada álbum, mas como meu objetivo é expor coisas diferentes para os leitores desse blog, deixo pra vocês descobrirem a discografia dessa banda que é um tesão.

Aproveitem essa dose. Vale a pena.

Notes from the Underground (01/01/1992)
It's a Jungle in Here (18/10/1003)
Friday Afternoon in the Universe (24/01/1995)
Shack-man(15/10/1996)
Farmer's Reserve (11/02/1997)
Bubblehouse (08/04/1997)
Combustication (11/08/1998)
Combustication Remix EP (20/04/1999)
Last Chance to Dance Trance (Perhaps) (12/10/1999)
Tonic (25/04/2000)
The Dropper (02/10/2000)
Electric Tonic (31/10/2001)
Uninvisible (09/04/2002)
End of the World Party (Just in Case) (07/09/2004)
Note Bleu: Best of the Blue Note Years 1998-2005 (04/04/2006)
Out Louder (como Medeski Scofield Martin ' Wood) (26/09/2006)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Se José Saramago escrevesse um livro baseado nos fatos que ocorreram nos últimos dias, ele provavelmente começaria assim: E naquele dia, nenhum cd foi vendido.

Divagação literária à parte, foi praticamente o que aconteceu. A guerra foi declarada na época em que o Napster começou a machucar o calcanhar das majors. Músicas começaram a ser compartilhadas a torto e a direito e daí por diante, o estado de sítio foi instalado. De um lado, as grandes gravadoras comandadas por obesos de ternos caros, charutos na boca e acompanhados de suas esposas a la Mariah Carey. Do outro lado da trincheira, artistas dependentes e independentes que queriam liberdade criativa, liberdade de escolha, liberdade pessoal e profissional. E o desenrolar da história todos conhecemos: Kazaa, P2P, E-Mule, SoulSeek, Torrent, Youtube, queda vertiginosa nas vendas de cds, pirataria, desaparecimento de uma leva de artistas que eram dependentes demais (boys band e outros), MTV deixando o videoclipe em segundo plano na sua grade de programação, bandas encerrando atividades e parcerias com as grandes gravadoras ao criar, produzir e distribuir suas músicas por conta própria, o fim do cd, mp3, mp4, Ipod, Arctic Monkeys, Ufa!!!

Até o começo de outubro de 2007, a musica dominou o mundo digital e fuzilou gravadoras, fazendo-as sangrar em notas e moedas. E como em toda guerra, o inimigo nunca é perdoado, o tiro de misericórdia foi dado quando uma das bandas mais respeitadas do mundo resolveu vender seu mais recente trabalho de duas maneiras: 1 - o cliente compraria previamente o álbum duplo mais um vinil por um valor equivalente a um valor aproximado de R$150,00 para receber tudo em dezembro; 2 - o interessado entraria no site da banda e compraria as músicas de forma digital, para recebê-las em mp3 no dia 10 de outubro, assim mesmo pela Internet. O preço? Quanto você quiser. Sim, se quiser pagar. Se não quiser, coloca aí no lugar do valor o número zero. Sim, você também vai receber as músicas.

Obviamente, o site congestionou até travar. Obviamente, a mente dos ex-poderosos das ex-grandes gravadoras fritaram até travar. Obviamente, a música e a sua forma de distribuição nunca mais serão as mesmas. Obviamente, o público ganha e perde com isso (ganha no sentido de se abrir cada vez mais o leque de bandas e artistas pra se conhecer e perde por que a cada dia o tangível da música vai desaparecendo). Obviamente, a banda que causou todo esse alvoroço atestou sua genialidade no golpe final contra a indústria fonográfica e na música, nos presenteando com um ótimo álbum que, com certeza marcará a história musical para todo o sempre.

Senhoras e senhores, é com muita honra e prazer que lhes apresento, Radiohead em In Rainbows.

[por Jader Pires]

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Meu arco-íris são pixels



O que direi abaixo, passa a quarteirões de ser alguma análise técnica. Não sou bem um músico [como os outros daqui devem ser], nem tenho muito saco de dissecar letras e entrelinhas de sentidos [importantes, mas...], sou muito mais orgânico pra descrever algum sentimento ao toque invertebrado de melodias. E é disto que mais me alimento quando ouço e re-ouço "In Rainbows" nesses dias [principalmente nesses dias em que tudo conspira para ele].

Se ainda há alguém com dúvidas ou que simplesmente negue que Radiohead é a maior banda dos últimos tempos e a mais influente entre o Mar Vermelho do rock [como eu vi em algumas declarações em matérias comemorativas dos 10 anos de Ok Computer], se mate! Ver seu último trabalho publicado de forma tão corajosa, inovadora e reflexiva [quanto eu valho para seus sentimentos?], para ainda de quebra tomar listas de discussão, blogs e o escambal, onde segundos depois do lançamento no dia 10/10, centenas de pessoas se agregavam para debater cada centímetro das música e descrever sua experiência com o álbum, tudo isso e um pouco mais, já tornam Radiohead uma das coisas únicas que [graças] perduram no cenário musical.

E ouvir "In Rainbows"... bem, desde mui tempo a banda não criava algo tão redondo, construindo um sentimento de continuidade entras as faixas, algo explícito em Ok Computer mas que ficou confuso de ser percebido depois de Kid A. Algumas das músicas já são velhas conhecidas de apresentações, a exemplo de Nude, que se conjugaram com outras inéditas de uma forma natural e correta, evitando que uma ou outra música sejam saltadas pela estranheza do primeiro toque.

Correr pelas faixas deste álbum pode ser algo decepcionante para uns que esperavam algo mais "genial/inovador", elas [as músicas] são como engrenagens integrantes de uma máquina simples, que conjuga um trabalho coeso e maravilhoso para aqueles que esperavam apenas ouvir e mergulhar num ambiente tortuoso de emoções das músicas do Radiohead. O piano agonizante [Videotape], a guitarra estridente [Bodsnatchers], a bateria meio jazz eletrônica [Reckoner], o coro de vozes suplicantes [Nude], a música que lhe dá vontade de berrar [Jigsaw Falling into Place] e o sentimento de se estar inconformado com a vida pessoal [seja consigo e com outros através dos relacionamentos], está tudo casado, todo aquele estilo que faz do Radiohead a banda que ela é e montou no decorrer de sua carreira.

Este é um álbum que como poucos merece ser visitado mais de trinta vezes [todos da banda merecem isto, mas este em especial], de abraçar cada filigrana para enfim perceber que não importa mais pensar que a banda vai fazer algo parecido ao The Bends, Ok Computer ou Kid A novamente, nem tentar revolucionar as coisas. Este é, como os dois clássicos da banda, um trabalho pessoal para quem ouve, que conversa aos ouvidos para lhe fazer pensar e então fazê-lo perceber que o chão vai mais abaixo que os pés, cobrindo-lhe até os ombros com aquela atmosfera linda e melancólica para depois se sentir vivo e renovado. E só agora, depois de ouvir trocentas vezes [e até levar uma multa de velocidade por desatenção ao ouvi-lo no carro] percebo que não haveria melhor título para este trabalho da banda, numa visão íntima, que se desmembra em vários caminhos e cores.

O que você consegue avistar entre o arco-íris de pixels?

[Texto por Dario Mesquita]

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Antes tarde do que nunca (ou antes nunca do que tarde?)
Por Jader Pires




Se eles tivessem vindo dois, três anos antes, eu poderia dizer que foi um dos shows mais legais que já vi. Demoraram. Demoraram demais, mas vieram.

E eu estava lá fazendo parte do público que estava no Citibank Music Hall nos últimos dias 14 e 15, local que a banda californiana Incubus subiu ao palco para mostrar sua energia. E o fizeram bem.

O som da casa (pra variar um pouco) não estava muito bom, embolando os instrumentos a ponto de deixar o baixo de Ben Kenney (baixista bem estiloso da banda) praticamente inaudível. Falhas à parte, Just a Phase foi o som escolhido para a abertura do espetáculo, aquecendo gargantas, músculos e almas. A Kiss To Send Us Off veio na seqüência e foi a primeira música do último álbum (Light Granades – 2006) que mostrou realmente não ter emplacado no Brasil (das 13 músicas do álbum, apenas três foram executadas – duas delas, singles com videoclip). Mas vamos à performance da banda.





O que o Incubus mostrou no dia 15 foi um show eficiente e conciso. O vocalista Brandon Boyd prova por A mais B ter uma grande voz que encanta as menininhas (milhares de olhinhos femininos estavam brilhando e extremamente focados na direção do palco, acompanhando os passos e pulos do vocalista) e empolga os marmanjos. Últimos sucessos como a frenética Anna Molly e a gostosinha Dig dividiram espaço com os chamados clássicos do grupo, como Drive, I Miss You, Wish You Were Here, e a grande surpresa da noite, Pardon Me (A mais pedida pelo público e surpresa pelo fato de que corriam rumores de que a banda estava deixando-a de lado nos últimos Setlists para não forçar a mão recém recuperada do guitarrista Mike Einziger, causa do adiamento do show de Maio para Outubro). O show seguiu uma linha boa de músicas mais pesadas como Megalomaniac e Favorite Thing, uma versão acústica de Redefine e a dançante e sempre sexy Are you In?.


A banda toda provou ser competente, tanto na instrumentação quanto no quesito performance; com destaque para o DJ Chris Kilmore que mandou muito bem nos improvisos e no chacoalhar da enorme cabeleira rasta.

Um show rápido, bem parecido com as apresentações registradas em dvd ou nos milhares de vídeos youtubianos, porém bem executados. Um prato cheio para os fãs mais recentes da banda, mas um prato um pouco frio para os mais antigos que esperaram demais e esperavam mais.
Mas quando tem qualidade, mesmo requentada a comida é muito boa!

domingo, 14 de outubro de 2007

E aí, meu bom amigo?

Eu tenho um lance bizarro com o rock n’ roll. Já conheci artistas das maneiras mais inesperadas possíveis. Quando percebo, estou fascinado.

Tava lá um dia lendo a antiga Bizz, Showbizz, sei lá, sonhando com as matérias, todos aqueles textos legais pra caramba... daí eu vejo um comentário do cd da banda totalmente desconhecida pra mim chamada The Charlatans. O cd? Us and Us Only...




Nem lembro o que o texto dizia, mas fiquei impressionado com a crítica, achando o disco bom pra caramba, sem nem ter ouvido. Mania de gente entusiasmada demais.

Qual não foi a minha surpresa ao ver que, numa daquelas queimas de estoque sem sentido de um dos shoppings de Teresina, o próprio "Us and Us Only" estava lá, lindíssimo, esperando por mim, por módicos R$ 19,90. Fiquei chocado, empolgado, travado. ‘Será se eu posso ouvir?’ Podia... tinha só dois cds lá, uma fechadinho, e o outro já todo lascado, com pequenos arranhões no cd e tudo o mais. Peguei esse, coloquei no cd player, e ouvi a primeira música... ‘Forever’... Pulei rápido pra segunda... ‘Good Witch Bad Witch 1’ linda... a terceira, ‘Impossible’, perfeita... a quarta... ‘The Blonde Waltz’, arrepiante... e a quinta me chamou a atenção pelo nome... ‘A House Is Not A Home’. Pronto... um disco de 11 canções, que cinco já te deixam fascinado deve ser comprado. E comprei!

...

E aí fui muito feliz.

À época, formado por Tim Burgess (vocal), Martin Brunt (baixo), Jon Baker (guitarra), Jon Brookes (bateria), Tony Rogers (teclados), o Charlatans investiu, nesse disco, num country/folk metido a besta, mas tem sua carreira baseada mesmo é no britpop.

Vindos da absoluta Madchester, eles começaram sua carreira bem cedo, em 1990 [quatro anos antes da estréia do Oasis no mundo do britpop...]. Depois desse "Some Friendly", de 1990, tivemos "Between 10th and 11th" (1992), "Up to Our Hips" (1994), "The Charlatans" (1995), "Tellin' Stories" (1997), "Us and Us Only" (1999), "Wonderland" (2001), "Live It Like Love It" (2002), "Up at the Lake" (2004) e o "Simpatico" (2006). Para os próximos dias de outubro, um disco novo batizado "You Cross My Path".




Esse Us and Us Only foi um disco de transição, com Tim Burgess morando em Los Angeles e com uma série de contratempos para que o álbum desse certo. No fim, deu. Principalmente porque antes de Tony Rogers, o grupo britânico contou com Rob Collins nos teclados. O músico morreu em 1996 em um acidente de carro e essa perda fez a banda parar por um bom tempo pensando na vida. A volta, com Tony Rogers nas teclas, levou a esse Us and Us Only: intimista, familiar, soturno, confidente...

Esse disco é de uma força e uma expressão que são incríveis.... Além das ótimas recordações, ele sempre tem uma coisa nova a se perceber, está sempre mudando, encaixando de um jeito diferente nos nossos ouvidos. É maravilhoso para ouvir de uma vez só, já que ele transita por diversas influências, marcando o ouvinte de várias formas. Ele é atraente, sexy, vivo, inspirado [as letras são ótimas], tem um instrumental lindo, fantásticas linhas melódicas, e uma faixa escondida...

Hoje, num tempo em que os discos estão se acabando, seja fisicamente, seja na filosofia do comprar o disco, ter esse na minha pequena coleção é motivo de extrema alegria.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Da série: álbuns que carrego no MP3 Player
[mas não tenho MP3 Player, porque junto dinheiro pra um IPod]

Eu ia escrever sobre outras coisas que venho plantando nos meus tímpanos nesses dias. Mas encaro que devo seguir alguma ordem cronológica do meu calendário de bandas [depois que viciei em torrent para baixar discografias completas, minha listinha de bandas tem virado uma orgia e meu HD um apartamento pequeno onde filmes, músicas, games e trabalhos gráficos brigam por espaço]. Deixando de embromação.



The Magic Numbers - The Magic Numbers (2005)


A história da banda começa basicamente assim: deste lado da arena temos dois irmãos Romeo Stodart (guitarra, vocal) e Michele Stodart (baixo, vocal), originários de Trinidad e por um breve período residentes em Nova York até se mudarem para Londres. Onde eles, num dia ordinário qualquer, conhecem do outro lado da arena musical as irmãs irlandesas Sean Gannon (bateria) e Angela Gannon (escaleta, glockenspiel, percussão e vocal). Eis nasce em 2002 a banda inglesa [?] The Magic Numbers, com aquele ar 1960 [vocal-folk], new-hippie-higiênicos e cara de grupo musical família [na primeira vez que os vi na MTV, pensei que eram todos irmãos mesmo].

A minha história com a banca tem um início mais tardio. Até o início deste ano só conhecia uns gatos pingados dos seus dois álbuns através de videoclips, e crítica nacional apenas se limitava a explicá-los como uma banda com críticas internacionais bem sucedidas e som "fofo". Pera aí, FOFO? Simplificá-los assim é de doer os bangos! [na verdade, a crítica nacional anda muito "hypada", simplória, e às vezes desacreditada - como no infeliz caso da revista Veja]. The Magic Numbers é uma daquelas bandas que sempre espero que surja e consiga se manter, aquele grupo que deixa de lado a lorota de fazer algo novo e híbrido [que muitos tentam, e uma merreca consegue manter por mais de um trabalho] para admitir com sinceridade e criatividade seu som, sem frescuras!

A levada melódica e sentimental que carrega seus dois trabalhos se enquadra com perfeição às capacidades de cada um dos membros, que se inovam a cada meio tempo das músicas, deixando a obra [quem ouve] crescer através daquela cadencia instrumental de vocais há muito tempo deixada de lado pelo rock [saudade dos primeiros anos de Beach Boys]. Não é preciso duas ou três audições para simpatizar com aquela ou outra música, todas apresentam tal desenvolvimento e carisma que é demente não dá replay no álbum inteiro.



The Magic Numbers - Those The Brokes (2006)


Não desejo eleger o melhor dos dois álbuns, apenas recomendo que eles sejam ouvidos em seqüência, por encará-los como trabalhos complementares, sendo do The Magic Numbers (2005) o mais melódico [com "Forever Lost", "I See You, You See Me", "This Love" como minhas paixões imediatas], e Those The Brokes (2006) o melhor trabalhado e com algumas musicas mais intensas [tendo "Boy" e "Undecided" como ótimas surpresas].

Se tiver compaixão pelo seu sentido auditivo, e nunca ouviu a banda, dedique umas horinhas do fim de tarde para ouvi-los. Garanto, os riscos de surgir algum sorriso de satisfação depois de apreciar coisas como "Hymn for Her" serão enormes.

Texto por Dario Mesquita

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Gramophone: "audiovisual aqui na terrinha precisa ser mais utilizado"

Conheço a Gramophone desde um feliz cartaz espalhado pela Universidade Federal do Piauí que anunciava uma calourada de Biologia, nos tempos perdidos de 2004. Lembro que, dias depois, perguntei a um amigo como tinha sido o show. "Alguns covers de Strokes, Franz Ferdinand, e umas duas músicas próprias".

Dentro da canseira dos mesmos shows de sempre, das mesmas bandas de sempre, parecia ser um belo atrativo aquela banda que nascia com músicas próprias e covers de bandas novas. Sons novos pareciam chegar à Teresina.

Um bom tempo se passou até que novamente eu voltasse a ouvir falar da tal Gramophone, que agora já era uma banda de músicas próprias encaminhadas, shows pequenos e médios pela cidade e uma pequena legião de fãs atraídos, principalmente, pelos covers ofertados ao longo dos shows. Mas as músicas próprias já estavam ali, colocando a cara de fora do repertório, pedindo espaço.

Com essas e outras músicas próprias, lançaram, em 2006, uma demo com sete músicas. Com elas, conseguiram espaço na mídia, em festivais e em grandes shows.

Daí que dessa demo [e por outros diversos bons caminhos], os rapazes receberam uma proposta da Associação de Documentarista - PI para fazer um clipe para a música Bota Fé, uma das composições mais antigas do grupo. "Em julho desse ano, segunda-feira pela manhã, acordei com um telefonema de madrugada, coisa de 09h. Do outro lado da linha: 'quer gravar um clipe?'. Depois de longos décimos de segundo: 'Assino onde?'. Duas semanas depois estávamos nós, a 22 andares, com câmeras e obturadores captando a luz de Teresina com a gente em primeiro plano."



confira aqui o clipe de Bota Fé


O nós referido é composto por Márcio Pessoa [guitarras], Rigoberto Lima [voz/guitarras], Sergio Moreira [baixo] e Diego Alencar [bateria/voz]. Rigoberto, que assume também o comando da entrevista, segue explicando. "O Dalson Carvalho [diretor da ABD/PI] sacou bem o espírito da banda. Nada de caricatura, estorinha boba pra gente interpretar... A gente filmou naquilo que a gente se propôe a fazer: tocar. a gente não sabe atuar".




No clipe, além dos meninos da Gramo, a atriz Talita do Monte, escolhida pelo diretor do clipe Dalson Carvalho e que participou recentemente do curta "partida", realizado por concludentes do curso intensivo de cinema da ABD-PI.

De acordo com o vocalista, a preocupação com o audiovisual tem que ser mais forte entre os artistas teresinenses. "Audiovisual aqui na terrinha precisa ser mais utilizado. As bandas se preocupam em tocar, tocar, tocar e só tocar, falam em profissionalização a cada três linhas de entrevista, mas não buscam meios pra isso. Deus me livre parecer um burocrata cristão que grita 'deus me livre', mas a gente vende música. Então que seja num pacote padrão overseas".




O próximo passo da banda é divulgar o clipe e continuar fazendo shows. "A gente envia pra MTV essa semana, e canais de todos os lugares que a gente pôde achar também."

A banda já compôs material para uma nova demo, a ser lançada no início de 2008.


UPDATE

O CalonaOrelha cataloga aqui os clipes de bandas e artistas piauienses disponíveis no YouTube. Há ainda clipes como o da banda Madame Baterflai, que não se encontra disponível no site de compartilhamento de vídeos, mas que já teve exibição nas TVs teresinenses.

Alguns dos clipes linkados abaixo já venceram concursos de vídeo e edição em nível estadual e nacional.

Káfila - Folia
Q.i69 - Dia 26
Narguilé Hidromecânico - Maquetes Loucas
Narguilé Hidromecânico - Jumento Bom [Melhor vídeo Piauiense no X Festival de Vídeo de Teresina - 2002]
Conjunto Roque Moreira - Lee Van Cleef
Escalla Richter - Amor HC
Lado2Estereo - Le Singe Punk
Lado2Estereo - Liberation
Lado2Estereo - Samba Bloody Samba [Vencedor do Prêmio de Melhor clipe de toda categoria Eletrônica do Gradiente+Trama Clip Mobile]
Lado2Estereo - Sambaque Torto
Teófilo Lima - Jararacas
Obtus - Sangue no Olho [Prêmio de Melhor Vídeo Experimental e Melhor Vídeo no X Festival de Vídeo de Teresina - 2003]

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Sem fantasia, nem alegoria.
Por Jader Pires


melancolia
me.lan.co.li.a
sf (gr melagkholía) 1 Psicose maníaco-depressiva. 2 Estado de humor caracterizado por uma tristeza vaga e persistente. 3 pop O mesmo que vitiligem.
Elvis Perkins é um músico norte-americano de 31 anos e um homem melancólico. Não, claro que não posso afirmar isso, pois nunca tive sua companhia e muito menos convivência. Mas posso afirmar que seu trabalho de estréia lançado em fevereiro deste ano e intitulado Ash Wednesday é um álbum melancólico. Ruim? – Claro que não! Melancolia nunca é um defeito quando se trata de música e esse artista soube usar muito bem a sua, ou simplesmente “a” melancolia.

Numa primeira vista mais desapercebida, seu nome remete ao rei Elvis Presley, mas o sobrenome incomoda e, quando se pára pra pensar (ou pra pesquisar, nos caso dos curiosos mais desavisados) chegamos ao resultado óbvio e simples. Elvis é filho do ator Anthony Perkins, conhecido principalmente por seu papel marcante na pele do assassino Norman Bates, do filme Psicose (obra-prima do diretor Alfred Hitchcock – 1960). Anthony faleceu em 1992, decorrente de complicações causadas por AIDS, quando Elvis tinha dezessete anos. Sua mãe, a fotografa Berry Berenson, faleceu no dia 11 de setembro de 2001, quando estava a bordo de um dos aviões seqüestrados que se chocaram contra o World Trade Center.



Perfeito. Já temos uma das facetas do rapaz de topetão bagunçado e vestuário estilo “vovô”, típico dos indies mais tranqüilos, mais folk. O que nos falta agora? - desvendar as emoções e sensações dessa quarta-feira de cinzas (em tradução livre).

A quaresma se inicia com a canção While You Were Sleeping, em que violão e voz conduzem suavemente a melodia que vai crescendo e se definindo com a entrada de bateria, rabecão e trompete, tornando-se uma música grandiosamente simples, com uma sutileza adorável.

E essa é a bandeira do álbum, permeado de letras tristonhas como em All The Night Without Love, May Day! e It’s A Sad World AfterAll, mas isso não quer dizer que seja um álbum para se ouvir durante uma tentativa de suicídio ou em épocas de namoros mal resolvidos. Não senhor, pode guardar a corda ou os objetos cortantes.


Os arranjos de Ash Wednesday são tranqüilos e tão gostosos de ouvir que chega a bater uma sensação de esperança. Além do violão folk, encontramos violinos e instrumentos diversos de teclas que atenuam o clima carregado. As vozes são melancólicas, mas bem estruturadas ao espírito da obra que termina com a bela mensagem de Good Friday, embalada por um piano e uma voz feminina cheia de paz.

As impressões são diversas no decorrer do contato com esse novo artista que tem uma pitada de Nick Drake e Johnny Cash, mas com espírito próprio e vivências profundas. É pegar esse compilado de canções acústicas, achar o clima certo e se aprofundar em sentimentos abstratos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A covardia de não saber quem se é

Acompanhando o rastro de uma notícia a respeito do Q Awards, cheguei a uma mini-resenha [na verdade só uma chamada] para o primeiro disco do grupo inglês The Rumble Strips, Girls & Weather, lançado em meados desse último setembro.




"Quem!?", eu até posso ouvir a pergunta sincera do outro lado do monitor. Poiszé, caran, eu também nunca ouvira falar da banda até a tal chamada na Q, mas com um nome foda desses [uma referência àquelas calosidades no asfalto das estradas pra acordar os motoristas vacilões], eu tinha que dar algum crédito.

Dois segundos depois, São Google me mostrava que a banda, formada por Charlie Waller [vocais e violão], Tom Gorbutt [sax, vocais e baixo], Henry Clark [trompete, vocais e piano], Matthew Wheeler [bateria] e Sam Mansbridge [baixo, vocais e tambor] não aparecera na Q por acaso [sim sim, ingleses histéricos, mas limpinhos]. Além do som bacanudo, da formação peculiar, o The Rumble Strips possui diversos singles bombados lá fora. “Singles continuam sendo a melhor forma de ampliar a visibilidade de uma banda. É bom para as pessoas que podem ter alguma coisa concreta para ouvir, levando ao lançamento de um primeiro álbum”, entrega a banda, numa entrevista por e-mail.

Mas apenas bons singles não salvam a pátria e o primeiro disco dos Strips, Girls & Weather, veio para solidificar o caminho dos rapazes.




Assim, baixei o disco e me encantei mais ainda. Na referência dada no MySpace, eles se definiram como "soul, regional mexican and powerpop". O álbum, no entanto, mostra muito mais versões da mesma banda. Diversas facetas num “corpo” só. Quando perguntei à banda sobre as minhas impressões em relação ao estilo do grupo, recebi como resposta uma sincera negação. “Nós realmente não sabemos o que somos, para sermos honestos. Ainda estamos trabalhando nisso”.

As músicas, doze petardinhos compostos e executados em bateria, violão de rancheiro, trompete e saxofone [mas também em baixo e piano], fazem você cair numa sincera dúvida: o new rave pode ter melodias felizes e letras meio down down na high society? Pode, cara, claro que pode, tudo pode nesse mundo. Mas eu falei em new rave? Falei. Quer dizer, estou falando agora. Pega aí uma cruza sonora e superficial do Klaxons com o Bob Dylan [só por causa do violão, cara...].




Mas, inclusive, não tem só new rave. Tem indie rock, tem alguma coisa de alternativo, tem 1,2,3,4. Tem uma voz forte, e backing vocals certeiros. Tem levadas de violão graciosas e precisas, batida esperta de bateria, daquele jeitinho que faz o povo pular... Mais umas letras boas, boas letras, espertas... e no meio disso tudo? Um trompete e um saxofone...

“Nós apenas tocamos os instrumentos que sabemos. Quando alguém vem com uma música nova, nós pensamos: ‘qual a melhor maneira de construir essa música? Ela vai soar melhor com metais ou no piano?’. Nós apenas experimentamos e tentamos não seguir regra nenhuma”, explicam os rapazes na entrevista concedida por e-mail.

Fácil assim? Covardia...