terça-feira, 27 de novembro de 2007

It's a big...a big hard sun!
Por Jader Pires



Eddie Vedder saiu de Evanston, no Illinois rumo a San Diego, California. Recebeu uma fita com três gravações instrumentais de um amigo (Jack Irons, baterista da formação original do Red Hot Chilli Peppers). Reza a lenda que Vedder ouviu-as, foi fazer uma session de surfe e, quando retornou, tinha as letras das três músicas prontas na cabeça. Foi para Seattle e conheceu seus criadores.

Bom, se você conhece essa história, conhece o resto de cor. O Pearl Jam se tornou uma das maiores e mais importantes bandas do planeta.

Euforia, revolta, posicionamento político, abstração, introspecção, conformismo, redenção. Algumas facetas da banda estado unidense que segue sua carreira de nove discos de estúdio lançados. Mas algo que permeia a trajetória do grupo é a importância que sempre foi dada aos fãs.

Um dos mimos oferecidos vem do fato de que Eddie Vedder sempre aparece no palco horas antes dos shows da banda para fazer uma pequena apresentação solo de algumas músicas que ele gosta, seja sons lado B do Pearl Jam, covers ou músicas que ele compõe por diversão ou para projetos paralelos. Dentre esses projetos interessantes, temos a contribuição das famosas Last Kiss e Soldier Of Love para o álbum beneficente Sem Fronteiras (1999), para ajudar sobreviventes da guerra de Kosovo (Vale lembrar que ambas as músicas não são do Pearl Jam, mas sim covers). Outro “presente” de Vedder é a de contribuir com trilhas de filmes, como em 2001, quando participou da trilha do filme I am Sam (Uma Lição de Amor) com a música You've Got to Hide Your Love Away e podem até colocar esse blog para queimar chamando-me de herege, mas ficou ainda mais bonita que a versão original dos Beatles. Em 2003 tivemos o privilégio de ouvir a belíssima Man Of The Hour, feita para o até então mais recente filme do diretor Tim Burton, o Big Fish (Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas).

Tá bão, tá bão! – Vamos ao que interessa.




Sean Penn é talentoso, versátil e se aventurou novamente atrás das câmeras dirigindo o filme Into The Wild, que conta a história de um rapaz que decide cair na estrada para chegar até o Alaska e viver com a natureza. Eddie Vedder compôs, gravou, tocou, cantou e assinou a trilha sonora toda.

Music For The Motion Picture: Into The Wild é simples, cru, sensível e eficiente (muito cuidado com esse último adjetivo, pois ainda não vi o filme para afirmar a eficiência da trilha, mas que, como álbum, funciona muito bem). São 11 músicas bem ao estilo folk tranqüilo, estilo esse que Vedder vem traçando e adentrando mais e mais em suas exibições solo (tá vendo como a lenga-lenga do começo tinha uma razão de ser!?). Quem conhece o trabalho do Eddie Vedder não encontrará surpresa nesse álbum, e isso obviamente não quer dizer que seja previsível e/ou tedioso. Melodias sinceras, a voz singular e cheia de interpretação de um Vedder muito mais calmo que da época da explosão do grunge, mas excepcionalmente capaz de produzir algo agradável e com letras que se encaixam perfeitamente na música, de uma maneira muito interessante (uma capacidade muito foda que Eddie Vedder tem).




Como se trata de uma trilha sonora, o conselho é ouvir todo o álbum na seqüência, pra tentar entender o contexto e a ordem proposital colocada na obra. A violada começa com a Setting Forth, bem ao estilo “baladinhas alegres” de Vedder. O violão nesse caso funciona muito bem em todas as músicas, na pegada acústica dando aquela impressão de que ele está cantando na varanda de alguma cabana no deserto ou nas montanhas, com um cigarro na boca e um chapéu na cabeça. Os instrumentos de cordas se entrelaçam de modo a formar um todo muito consistente e que soa bem demais aos ouvidos.

Rise é uma canção muito simples e aconchegante, provando de uma vez por todas que o less is more. Tuolumne é um instrumental curto, porém certeiro, na medida, ali bem no meio do álbum. Hard Sun tem a canção Society na seqüência e ambas têm refrões muito potentes e são dotadas de uma sinceridade única que chega a emocionar dependendo do volume em que ouve e/ou se canta. Em The Wolf temos o Vedder em seus rituais, em uma espécie de busca de respostas com os espíritos nativos (assim como na canção Arc do penúltimo álbum do Pearl Jam, Riot Act, de 2002). End Of The Road é o prenúncio do fim, com um instrumental bem feito e que culmina na linda Guaranteed que dá adeus ao ouvinte, mas não sem olhar pra trás para o last goodbye. Com 2:43 minutos, o fade out acontece e o final parece iminente quando, aos 4:43 minutos, a canção retorna com um Vedder fazendo a melodia da letra, mas sem cantá-la. A despedida é simples e bela, daquelas que se lembra de tempos em tempos.

Não há mais o que se falar. Uma obra para se conhecer de ponta a ponta e para imaginar-se tocando-a ou escutando-a nas paisagens do filme. Abaixo, deixo o trailer para ajudá-los.


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Back to the future (ou Pai Mei tupiniquim).
Por Jader Pires




Todos conhecem (ou deveriam conhecer) a carreira do diretor de cinema Quentin Tarantino. Rato de locadora, roteirista do filme Assassinos Por Natureza e criador maior dos já clássicos Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Kill Bill (Vol. I e II).

Reza a lenda que todas as obras do Tarantino tem conexões bizarras umas com as outras, ligando personagens e fatos numa grande trama que atravessa suas películas (entenda melhor o fato conferindo o vídeo Tarantino’s Mind, estrelado pelos ótimos Selton Mello e Seu Jorge). O que se sabe realmente é que Tarantino nada mais faz do que usar sua enorme bagagem de quem trabalhou em uma locadora quando jovem e devorou a seção de filmes B para criar obras recheadas de homenagens a essas peças raras. Seus trabalhos são compilados de cenas que ele sempre adorou.

No Brasil nós temos o Kassin. Nerd por natureza, muito mais introspectivo que Tarantino, mas igualmente brilhante. Produtor de nada mais, nada menos que Vanessa da Matta, Los Hermanos e Orquestra Imperial, Kassin também resolveu encarar outro projeto ambicioso: o +2.

Ao lado de Moreno Veloso (filho do Caetano) e de Domenico Lancelotti (que também toca na Orquestra Imperial, entre outros projetos), o projeto +2 consiste em formar um trio para gravar músicas. Mais ou menos assim:

Em 2001, lançaram o álbum Máquina de Escrever Música, com o nome de Moreno +2, em que o líder do projeto era justamente Moreno. Já em 2003, foi a vez de Domenico encabeçar a coisa com o Domenico +2, lançando o álbum Sincerely Hot.

Como é de se esperar, em 2006 Kassin fica à frente do projeto e lança o álbum Futurismo usando seu selo (Ping Pong Discos). Tava formado o Kassin +2.



O álbum que consegui para escutar foi uma versão nipônica com 20 faixas (a versão nacional possui apenas 14). Os arranjos têm um cuidado especial e faz com que cada vez que se ouve, descubra novos instrumentos, novos detalhes em cada música. Os estilos também são bem variados passando pelo samba, rock, levadas latinas, e com lembranças de várias bandas como na música de abertura, O Seu Lugar, que tem uma pegada bem de Orquestra Imperial, soando como trilha de gafieira, assim como a canção Tranqüilo, que embalaria tranqüilamente um salão de baile. Conseguimos perceber um estilo bem Paralamas do Sucesso na faixa Água, uma bateria bem Planet Hemp em Ponto Final, Los Hermanos incrustados na belíssima Pra Lembrar e em Antes da Chuva que termina com aquele barulhinho gostoso das gotas entrando em contato com alguma superfície qualquer.

Momentos difíceis de digerir também ocorrem nas faixas Astronauta e Sal do Pedro Sá, onde o peso de uma e a forma desafinada da outra soam como provocação ou pura ironia, assim como Tarantino também gosta de fazer em seus filmes. Até Queens Of The Stone Age aparece como influência (direta ou não) no álbum, com três faixas que funcionam como vinhetas de uma rádio japonesa (No álbum Songs For The Deaf de 2002, que contou com a participação de Dave Grohl nas baquetas, a banda também inseriu vinhetas de rádios no final e começo de algumas músicas).




O fato é que, ouvindo o álbum, percebe-se claramente os bons ares de tudo que Kassin conhece e participa. Um álbum gravado com instrumentos, músicos e ritmos diversos, arranjos brincando entre o clássico, o nostálgico e como não haveria de faltar, o futurismo. Assim mesmo, tudo junto e misturado, adicionando letras com propósitos difusos e inquietos. Enquanto Tarantino utiliza tudo que admira, Kassin se apropria de coisas que ele mesmo ajudou a criar. Kassin usa o Futurismo para homenagear a si mesmo, ou melhor, sua música. Na verdade ele não faz homenagens, mas apenas usa a despretensão para criar uma obra gostosa e sincera. É Kassin até o osso e armação de óculos!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Alala alala - gimme three wishes
(CSS no Planeta Terra – 10/11)

Sim, a Lily Allen é uma fofa. Mas perguntei as horas ao casal do lado: 10h35. Então, fui para o Indie Stage (e nem era tão perto) para ver o esperado retorno do CSS aos palcos brasileiros. O tal Indie Stage era um galpão. O show já tinha começado. Música nova (não reconheci).

O microfone da Lovefoxx estava um pouco baixo. E ela, vestida com um body (sabe o que é? Tipo um macacão, uma peça única) todo colorido e brilhante. O local estava cheio e não consegui chegar muito perto do palco. Melhor, eu gosto de espaço, e eu precisava de espaço.




Ao vivo, as músicas ficam mais rock e mais rápidas também. Além dos tradicionais hits (e olha que a banda tem apenas um disco) “Meeting Paris Hilton”, “Alcohol”, “Music is my hot hot sex”, um cover de “Pretend we´re dead”, do L7 – menos pesada que a original, mas mesmo assim, muito bacana.

A última apresentação do CSS em um festival no Brasil foi no Tim de 2004. E foi como um trauma, a banda foi supercriticada e gongada. Mesmo assim, continuou tocando no circuito independente de São Paulo (Entenda-se por circuito independente – indie – lugares como Outs, Funhouse, CB, entre outros). Talvez a escalação da banda para esse Tim tenha sido prematura. Alguns sons já bombavam na internet (leia-se Trama Virtual), mas segundo as críticas da época, as meninas ainda tocavam mal.

Pois é, um dos grandes responsáveis pelo sucesso do CSS foi Adriano Cintra, o único homem da banda. Mais velho e com mais bagagem roqueira (afinal tocou no cultuado Thee Butcher´s Orchestra), é o que tem melhor desempenho no palco. Claro que a Lovefoxx aparece mais, é a vocalista, faz gracinhas, se joga e tal. Mas musicalmente, é ele quem manda.




A banda ficou famosa pela internet, pelo “apadrinhamento” de jornalistas como Lúcio Ribeiro e Érika Palomino, que hyparam o Canseide até dizer chega. Aí somam-se a performance de palco, mais a identificação do público jovem e modernete com as músicas e letras. CSS é diversão pura, apenas isso. As letras, bem-humoradas, falam de álcool, sexo, Paris Hilton e contêm gírias típicas dos moderninhos paulistanos. Para fechar a receita, o electro-rock dançante. E pronto: temos a banda brasileira que ganhou maior projeção internacional em menos tempo.

Após o lançamento do disco, no final de 2005, a trajetória da banda rumo aos palcos internacionais foi meteórica. Contrato com a Subpop, turnê pela Europa, EUA e participação nos principais festivais de música do mundo (sim, Reading, Coachella, Lollapalloza). Lovefoxx acaba de ser eleita a 3a pessoa mais cool do mundo. Ah, e tem o casamento! O sucesso da banda no exterior pegou carona na coisa new rave (que tem como expoente a banda inglesa Klaxons): rock eletrônico para dançar e visual colorido. E não é que a Love vai se casar com Simon, do Klaxons?! Pois é. Ainda tem essa.

Voltando ao Planeta Terra: antes desse eu só tinha visto um show, em março de 2006 – no Centro Cultural Vergueiro. E adorei. De lá para cá, as coisas não mudaram muito. No meio do show, Adriano saiu da bateria e passou as baquetas para Carol, assim como faziam antes. As meninas tocam melhor sim (tanta turnê dá experiência, né?) e a platéia continua enlouquecida. Love continua uma graça, agitando muito, se jogando e trocando de roupa. Com o símbolo da paz rabiscado na cara, aproveitou as bexigas da decoração para inalar gás hélio e cantar “I wanna be your Jlo” com uma voz engraçada.




Como perdi o começo, achei que acabou muito rápido. Mas saí com a mesma sensação do show de 2006: diversão. CSS é pra dançar, se divertir, como se o mundo fosse acabar amanhã. E isso tem muito a ver com o hedonismo praticado pela juventude; talvez essa seja a explicação do sucesso no exterior. Musicalmente, não é tudo isso. O conceito do have fun é que predomina. E quem se importa?

Texto por Márcia Campos

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Simulacro e a conquista do mundo

Deve ser alguma coisa que colocam na água. O cheiro de lá. O mar cheio de tubarões. A cidade perigosa... As minhas teorias são várias para o que acontece em Pernambuco [e deve acontecer em outros lugares também, estejamos atentos]. Cordel do Fogo Encantado, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Mombojó, Mula Manca e a Fabulosa Figura, China... tantos e tão variados nomes e estilos que não se sabe mesmo o que acontece. Apenas explode. E o novo disco de China, lançado no último dia 08 no Studio SP aqui em Sampa, mostra muito bem isso. A coisa toda explode, e é bom ficar na frente que é garantia de coisa toda boa.




Simulacro é o nome desse disco de China, sucessor de Um Só, de 2003, e que, uau, é uma delícia. Delícia do início ao fim.

Rock, bossa, jovem guarda, eletrônico, o disco de China é meio que tudo, dosando e mostrando misturas e concepções de músicas diversas. China e suas crias não transgridem limites [o disco não é absurdamente inovador ou revolucionário], mas mostram uma competência fora do comum em serem ótimos, como Canção que não Morre no Ar mostra bem, em som e imagem.

E isso no que diz respeito às melodias e harmonias. Quando prestamos atenção às letras, aí, meu amigo, o bicho pega. E pega pesado. Com boas frases, nervosas e calmas, doces e amargas, firmes e viajantes, China leva seu repertório de idéias para passear num campo que parece ser só seu. Existe um domínio na forma e na escrita que encanta. A proximidade com os rapazes do Mombojó [de quem China é amigo de longa data] faz com que se note uma semelhança incrível entre o lirismo dos dois. "A gente anda junto, compõe junto, toca junto... É natural que tenha algo deles no meu disco e algo meu no disco deles. Além do mais, o nome do disco é Simulacro, então, qualquer comparação com outro som é massa, mostra que atingi o que queria", defende o artista.




Essa defesa se estende não só à proposta do disco, mas ao disco como um todo, que China abraça como o seu trabalho mais livre. "Acredito que esse é o meu melhor trampo, pelo menos é o mais livre... Mais cheio de amigos participando".

Um Dia Lindo de Morrer, Jardim de Inverno, Câncer, Durmo Acordo são clássicos imediatos de 2007. Belas letras, com imagens e construções visuais, dosada euforia e ritmo bom de dormir ou dançar. Simulacro é um puta disco.



Canção que não Morre no Ar


BOM PAPO

Entrevistei China pelo msn tem um tempo. Confira as melhores partes desse papo.

Calo na Orelha
Você se enxerga nas suas letras, ou é um processo de composição livre de experiências suas?
China
São experiências minhas, de outras pessoas, de coisas que eu vejo, da novela, de tudo. Mas uma coisa mudou no processo de composição: na época do sheik eu escrevia em terceira pessoa, agora eu escrevo em primeira, mais confessional.
Calo na Orelha
E essa mudança foi natural, ou um esforço seu como artista?
China
Natural... Man, trabalho por prazer. Saí do Sheik [Sheik Tosado foi a banda que China manteve de 1997 a 2001 e que o catapultou para o mercado musical] porque não existia mais prazer... não forço um som, uma pessoa...sou isso.
Calo na Orelha
Não digo que seja um processo forçado, mas sim uma intenção sua, um exercício, um desejo que precisou ser lapidado...
China
Não, não... acho que fiquei um cara mais verdadeiro... [risos]
Calo na Orelha
Como você receberia uma crítica negativa ao teu disco?
China
Cara... Já passei por tanta coisa na vida, tantos altos e baixos na carreira, que, na boa, se nego num gostar, beleza. Não dá pra agradar todo mundo. Me agradando, agradando meus amigos e minha família, já tá bom... Criticar é fácil, difícil é fazer!!!
Calo na Orelha
China, o que você mais curtiu em fazer nesse disco? Não vale dizer que tudo, deve ter tido alguma coisa que você curtiu mais... [risos]
China
Na boa, ia dizer tudo... [risos] Curti gravar ele em casa, na casa dos amigos, gravar de qualquer jeito. Ser o técnico de gravação, gravar guitarra, teclado. Porra, a liberdade é uma coisa muito boa. Gostei de saber que em Recife dá pra fazer um disco com qualidade sonora, sem precisar ter que gravar em SP ou RJ, entende? Nunca tinha gravado um disco em Recife.
Calo na Orelha
China, do que você sente vergonha?
China
Porra, boa pergunta... Vou sentir muita vergonha se não conseguir dar um futuro bacana pros meus moleques.
Calo na Orelha
Você acha que tem alguma coisa na água de Recife mesmo ou a mídia dá uma puxadinha na brasa?
China
A mídia? A mídia só olhou pra gente depois que a cena mangue aconteceu, foram obrigados a falar de nós. Agora é diferente, Recife marcou com força a musica brasileira... Então eles têm que noticiar.
Calo na Orelha
China, e me diz, o que você quer alcançar com esse disco...?
China
O mundo!!! [risos]

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A volta dos que ainda não foram

Finalmente sai da toca uma das primeiras crias da onda revival rock no início da década de 2000 [lembra? Vines, White Stripes, Strokes e cia]. The Hives enfim lançou no último outubro o álbum "The Black and White Album", depois de uns três anos escondidos e um trabalho meio ofuscado pelos sucessos anteriores - "Tyrannosauraus Hives" (2004), que é considerado o sucessor sonoro do segundo álbum deles, "Veni Vidi Vicious" (2000), clássico do garage rock.

Mas antes de ir direto pro novo trabalho, uma retrospectiva vem a calhar para entender melhor onde "The Black and White Album" se encaixa na carreira da banda, e porque ele é importante para o The Hives, mesmo correndo o risco de não agradar seus fãs.




Já bem calejados dos instrumentos, a banda sueca teve seu princípio em 1993, ainda na adolescência dos cinco integrantes devidamente rebatizados: Howlin' Pelle Almqvist (Per Almqvist) nos vocais, Nicholaus Arson (Niklas Almqvist) e Vigilante Carlstroem (Mikael Karlsson Åström) nas guitarras, Dr. Matt Destruction (Mattias Bernvall) no baixo e Chris Dangerous (Christian Grahn) na bateria. Jovens que, segundo diz a lenda, foram encorajados por um tal de Randy Fitzsimmons, produtor da banda e escritor de todas as músicas, mas que nunca foi visto vivo ou morto.

Há indícios que Randy seja mais uma figura alegórica da banda, que já tem todo aquele jeito de "boy-garage-band" uniformizada em dual-tone e músicas ligeiras bem despretensiosas. O que seria um personagem fictício criado pelo vocalista, que sendo verdadeiro ou não, levou a banda pro caminho certo no lançamento do primeiro álbum em 1997, "Barely Legal", grande sucesso na época no país de origem do grupo [Suécia].




Daí só foi cair direto no colo da indústria musical e na graça do grande público com o arrebatador "Veni Vidi Vicious", lançado na Europa em 2000 e relançado dois anos depois nos Estados Unidos, recheado de hits instantâneos como "Hate to Say I Told You So" e "Die, All Right!". Veio "Tyrannosauraus Hives" em 2004 e a fórmula da banda se manteve, som curto e grosso, voz gritada em refrões grudentos, ótimos riffs num ritmo dançante e bem humorada.

Chega agora "The Black and White Álbum" e o tom preto e branco da banda fica um tanto diferente, ou completamente distinto para certos ouvidos. A irreverência ainda continua, o que é bem explícito logo no título, uma referência de duas mãos: às roupas da banda e aos álbuns "White Album", dos Beatles, e "Black Album", do Metálica. Instrumentalmente, piano, sintetizadores sessentistas, batidas eletrônicas, gritinhos femininos e ritmos adversos podem fazer caretas nos fãs mais fervorosos do som tradicional do punk-garage.

O resultado disso é meio estranho, algo contraditório, contrastante, como já alerta o título do trabalho. O resultado chega a ser ruim na primeira audição, mas até que funciona muito bem se vermos um lado positivo.

Na maturidade e na coragem do grupo, The Hives deve ter se visto na obrigação de mexer um pouco no seu som, que já não tem nada de novo desde sua origem. E foi tanta vontade de mexer assim, que convocaram até o produtor Pharrell Williams para trabalhar em algumas faixas. Pharrell é bem mais reconhecido por suas parcerias no cenário hip-hop americano [Grewn Stefani, Snoopy Dog] do que trabalhar com rock [ainda mais numa potência próxima do punk], mas que tem meu sincero respeito por cantar melhor que muita gente que ele próprio produz e manter uma ótima banda de rock-funk-soul music chamada N.E.R.D.

E se quer sentir esse desejo de mudança logo de cara, pule todas as faixas do CD [me sinto um dinossauro falando em "CD"] e vá logo ouvir T.H.E.H.I.V.E.S. Não pode ser um ótimo começo, mas esta é a música mais "explícita" de "The Black..." [mas não espere coisa boa]. Uma quase disco-music-sei-lá-o-que é cantada por um Per Almqvist de voz fina e enfeitada pela imaginação do ouvindo que quase enxerga todos os integrantes da banda dançando naquele ritmo. Uma piada musical, completamente.

Pegando o mote de T.H.E.H.I.V.E.S., o nome da música em si já é outra referência do álbum. Percebe alguma semelhança com o nome da banda de Pharrell [N.E.R.D.], que produziu a faixa?

Outras pontas nesse sentido ainda podem ser percebidas. "Well Allright!" me lembra em certos momentos um Nick Cave fundindo melancolia com um blues "pra cima", gritado. "Bigger Hole to Fill" e "It Won´t Be Long" tem aquele vocal imortal de Joey Ramone, regado por um refrão característico do The Hives. "You Dress Up for Armageddon" tem aquele pancada sutil do The Clash.

Há até um instrumental sem guitarras! Bateria eletrônica e um piano sintetizado dão o compasso de "A Stroll Through Hive Manor Corridors". O resultado até agrada os desavisados [alguns, perdão].

Se tudo acima lhe assusta, se contente muito bem com "Tick Tick Boom" [já ovacionado como um dos melhores hits do ano], "Hey Little World" e "You Got It All... Wrong". Não é em grande número, mas garantem ótimos minutos de musica punk em alto volume, manufaturados com a velha fórmula e com pouco tempero novo. E são ótimas pra dançar. 80% do álbum é quase todo feito para isso.




Num panorama, The Hives "brinca" de incorporar várias facetas, interpretando bandas e estilos diferentes de rock, algo bem afeito ao seu espírito teatralizado que forma a imagem deles como uma banda de rock. Não agrada como um todo, acerta longe diante dos seus outros trabalhos. Porém, ao menos sabemos que, de agora em diante, podemos esperar mais coisas que apenas riffs, refrões gritados de forma desajeitada e punk dançante. Mas ainda assim não é possível levá-los a sério. O que é ótimo, afinal, eles perderiam a graça e tudo iria pro saco.

[Texto por Dario Mesquita]

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Killers murdering my diseases

Estava eu numa das mil andanças pela universidade, terça-feira última, quando me deparo com um antigo conhecido que resolveu crescer e criticar as coisas sem muito fundamento. Chegou perto de mim e já foi logo dizendo:

- Natália, fiquei sabendo que você foi ao Tim Festival.
- Sim, fui sim. Cheguei ontem à noite.

- Você gostou do show do The Killers? Ouvi dizer que foi horrível!!!
- Pra mim, foi o melhor! - Respondo tentando conservar resquícios de educação.

- Me disseram que o show foi tão oco quanto a banda.
- Fazer o que, né? Pena você achar isso, porque eu fui e gostei bastante.

Pois bem, espero que esta mesma pessoa tenha a oportunidade de ler o que vou escrever agora.

Embarquei rumo a São Paulo sem muitas expectativas em relação ao festival. Não conhecia Spank Rock nem Hot Chip; considerava a emoção de ver o show da deusa Björk como um resgate da adolescência; Juliette, pra mim, mais grita, malha e encena no palco que quaisquer outras coisas; e Arctic Monkeys fedem a leite. Me restou o tal oco do The Killers.

Confesso, contei as horas para ver o bem aprumado Brandon Flowers soltar os pulmões cantando pra mim as músicas do Hot Fuss - álbum preferido. Sem decepções. Nem mesmo as três horas de atraso distribuídas ao longo de todo o evento me fizeram esquecer o propósito de estar ali.




Às 4 horas da manhã acendiam-se as luzes de Welcome e Sam's Town, letreiros colocados no palco juntamente a luzes pontuais e flores ornamentais. Uma decoração que remetia ao glamour da cidade de Las Vegas (hometown da banda) e um pouco da breguice do natal. Mas, Brandon Flowers pode tudo e, mesmo com todo mundo já frio e cansado de esperar, soube comandar como ninguém o melhor show da noite. Vestido de forma irreverente e classuda, meu deus da noite regeu sua orquestra com muita simpatia e competência, fazendo de seu concerto, o melhor do evento.

A banda iniciou o show de aproximadamente uma hora ao som de "Sam's Town" e "When You Were Young". Brandon notou no público certa frieza e soltou um charmoso "you're so quiet today", que foi seguido de "Bones". Mas, parece que só "Somebody Told Me" (um pouco mais lenta que o normal) conseguiu acordar o público de vez.




Dali pra frente não existia alma na Arena Skol Anhembi que conseguisse controlar os movimentos. A banda mesclou bem o novo álbum com o antigo, não esquecendo de "Jenny Was a Friend of Mine", "Smile Like You Mean It" e "Mr. Brightside", músicas mais animadinhas, que garantiram o sucesso do show.

Em "All These Things That I've Done", Flowers deixou por nossa conta e risco o "I got soul, but I'm not a soldier", que foi cantado em uníssono por todos os que resistiram ao sono, à fome e ao frio.

O show terminou aproximadamente às 5 horas de uma segunda-feira em que todos os que saíam do Arena Skol Anhembi só sentiam que tinha valido muito a pena a espera.




O quarteto formado por Brandon Flowers (vocal e teclados) David Keuning (guitarra), Mark Stoermer (baixo) e Ronnie Vannucci (bateria), definitivamente, não é de fazer som oco. E, a quem teve a oportunidade de ir e não foi, perdeu muita coisa sim.

Texto por Natália Vaz

Fonte das Fotos [da apresentação no RJ]: Uol
Too fast; too furious
Por Jader Pires

Quatro shows já haviam se passado e eu estava muito cansado. Corpo, mente, alma...nada mais era como já foi um dia, ainda mais com a experiência extraterrena que tive ao ver o show da Björk (sim, ela provou não ser deste planeta). Um atraso gigantesco entre uma banda e outra me fazia sentar e esfriar o corpo. O cansaço que ia e vinha foi ficando cada vez mais potente.

O show mais esperado por mim e pela maioria do público começou por volta de 2 da manhã, com algumas horas de atraso (estava marcado para meia-noite). Holofotes como os do vídeo de Brianstorm eram a única iluminação do palco no momento em que Alex Turner apareceu com seu Arctic Monkeys, mas eu só conseguia ver silhuetas se movimentando, pois os telões laterais ao palco estavam desligados (sim, bem na hora do show principal).




A introdução à paulada começou na instrumental Sandtrap, que foi seguida pela This House Is a Circus, fazendo ouvidos zunirem nos primeiros berros do vocalista. Meus pulos acompanhavam outros milhares, todos tomados de plena exaltação em ver aqueles prodígios desferindo riffs tão rápidos.

Luzes em tons de azul e prata banhavam os quatro garotos ingleses que fizeram por merecer todo o frenesi anterior, quando uma Julliet ensandecida berrou quem aqui quer ver o arctic monkeys?! - Delírio geral tomou conta do Anhembi.

O que vimos do Arctic Monkeys no Tim Festival 2007 foi um show rápido em todos os sentidos. Acordes velozes e violentos tocados por um rapaz magro, aparentemente calmo e taciturno. Uma bateria frenética e alucinante fazendo gemer o chimbal com toda veracidade, assim como deveria ser nos curtos 50 minutos de apresentação.




Apresse-se rapaz! - Era o que eu tentava dizer a mim mesmo, tentando acompanhar os instrumentos e a bateria de músicas que a banda despejava no público, com um set executado praticamente sem pausas e/ou conversas. Brianstorm, Still Take You Home e Dancing Shoes foram levando o público ao delírio estafante quando tudo veio abaixo com Fake Tales On San Fransicso, uma das melhores músicas da banda.

Balaclava foi tocada com o dobro de velocidade fazendo cabeças entrarem em parafusos até a chegada do hit que abala qualquer festa: I Bet That You Look Good On The Dancefloor e seu refrão ignorante atestaram a ótima qualidade criativa da banda que ainda mandou Fluorescent Adolescent, e encerrou tudo com A Certain Romance, fazendo metade do público dobrar os joelhos de cansaço ou reverência.




Sem ser antipático, mas com a frieza peculiar inglesa, Alex turner interagiu com alguns Obrigados e soltando algo como Olá, nós somos os Arctic Monkeys e gostaríamos de tocar pra vocês a noite toda, mas não podemos (provavelmente alfinetando alguém pelo grande atraso do evento).

O saldo dessa viagem ligeira foram pernas bambas, voz quase ausente por completo, um celular e documento do carro perdidos, sorriso de orelha a orelha e aquele refrão na cabeça...The best you ever had is just a memory...

Fonte das Fotos: Uol

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Are you speaking my language?

Rock'n'roll. Essa é a língua de Juliette Lewis. À frente dos Licks, a ex-estrela de Hollywood mostra do que o rock é feito: atitude.

Festival grande é aquela coisa, muita gente diferente. Lá no fundão, nem todo mundo se empolgou com o show de Juliette and the Licks, mas lá na frente o bicho pegou. Os fãs se acabaram, gente chorando no telão e tudo.

Juliette grita com classe, e suas letras dela falam de amor, sexo e meninos mais novos, entre outros temas. O som tem elementos setentistas, de hard rock, punk e até grunge. Juliette se joga. Literalmente. Faz caras e bocas, rebola, dança, rola no chão. Calça justa vermelha, top e penacho na cabeça. Há quem diga que tudo não passa de representação. Não acho.

A banda, competente, parece estar à altura da frontwoman. O repertório privilegiou as músicas do 2º disco, "Four on the Floor". A música mais comercial, "Hot Kiss", foi a que mais empolgou a galera - toca no rádio, né? Mas quem já conhecia a banda e o talento de Mallory Knox nos vocais gostou do show. Além de "Smash and grab", também estavam na lista "Get up", American boy" e "Death of a whore". Sempre tem quem critique, mas vá cantar, pular e agitar assim sem perder o fôlego! Iggy Pop consegue? Lovefoxx também não.





Juliette é uma fofa. Pediu para o público rebolar, ou mexer os peitos, ou lamber os beiços. Divertida e carismática, ganhou a simpatia de todos. E nem precisava se enrolar na bandeira do Brasil. Mandou beijos e pediu para que as pessoas beijassem quem estava do lado (sim, rolou um momentinho 'a paz de Cristo', hahaha).

Por fim, apresentou a banda, cada um deu seu solinho (o rock e seus clichês). Aí veio "You´re speaking my language", do 1º disco, para encerrar.

Como ela própria já definiu, esta é uma banda de rock, apenas isso. E, mais do que técnica, rock é atitude e diversão. Tá na cara que ela se diverte. Não podemos esquecer que a moça abriu mão da vida glamourosa de atriz de cinema para cair na estrada com a banda.




Apesar de gostar bastante dos discos e dela, eu esperava mais do show. Talvez músicas mais rápidas, não sei. A moça merece uma platéia mais vibrante. Um show menor, para fãs de verdade, seria mais justo. Bem, ela disse que volta ano que vem, quem sabe?

É como uma amiga disse, depois que a apresentação acabou: "Eu quero ser amiga da Juliette".

Texto de Márcia Campos

Fonte das fotos: Uol
A deusa estendeu a mão para mim

Preguiça e preconceito. Senti muito isso pela mocinha da música eletrônica, do experimentalismo, da loucura aparente, da doçura sobrenatural. Senti muito isso a vida inteira. Sempre tive certo cansaço em ouvir Björk, em saber dela, em pesquisar seus sons. Tanto que fui para o Tim Festival interessado apenas no show dos Macacos do Ártico. Os outros seriam meras bandas de abertura.

Só que ver a Björk é o tipo de obrigação para uma/qualquer pessoa que gosta de música, mesmo que você não ligue pro que ela faz. A mulher tem mais de 20 anos de carreira e é aclamada como a grande musa da experimentação na música eletrônica. A chance de ver a mocinha de 41 anos no palco deve ser aproveitada.

Não só isso, diga-se. No meu primeiro contato com a artista, passei dias devorando Hunter, do disco Homogenic. Antes do TIM, resolvi baixar a guarda e catar o Volta, novo disco da guria islandesa. Earth Intruders foi a melhor porrada do ano. E logo a primeira música. De resto, nada mais sabia da moça. Perceba como meu interesse por Björk era uma coisa assim louvável.




Pois é, cara, não era mesmo. O ponto é que não foi a música, não foi o visual, não foi a curiosidade que me fizeram crer fortemente que a guria islandesa é a coisa mais próxima de um deus que a música tem/teve desde o Led Zeppelin. Mas sim o simples fato de que você sabe quando está em frente a um deus. Não há como fugir dessa sensação.

E foi isso que eu senti ao ver Björk vestida, literalmente, de arco-íris. Entrando no palco, pelo lado esquerdo. As cantoras do coral sendo batedoras do seu caminho, correndo levemente, na ponta dos pés. Eu estava bem longe do palco, mas sabia que elas sorriam. Nenhuma outra feição deveria ser possível. Elas cantavam e faziam parte dos sopros das canções. Ao fundo, uma orquestra. Tínhamos também um baterista. E um semi-deus no sample. Na platéia, corações cheios de alegria. E Björk dançando, Björk cantando, apontando, fazendo reverências. Björk correndo de um lado para o outro. Berrando. Ela respirava, ela comandava, tomava partido das nações, delegava trabalhos, ribombava seus desejos, lançava seu olhar sobre as plantações. Ela sabia fazer chover, mas não o fez. Trouxe um frio bom, espantou o calor. Deu água para o gado e afagou a cabeça das crianças. Tudo ao mesmo tempo agora. Björk é a deusa mais linda que eu já vi.




Earth Intruders, do disco novo, quebrou tudo de cara. Hunter veio depois e levou todo mundo. Meu conhecimento musical a respeito da moça acaba aí. O que realmente pouco importava. Tudo ali remetia à apoteose, remetia a transe, a um ritual para elevar espíritos. As canções se sucediam, se seguiam, mas a experiência do todo é que contava. A única diferença notável entre os fãs e os parcos conhecedores sobre o trabalho da moça era o balbuciar das letras. De resto, apenas uma massa sorrindo.

No fim, quando algumas pessoas ainda resistiam à tortura de estar ali e não poder tocar tudo aquilo que era tão lindo logo acolá no palco, ela liderou Declare Independence. Ela cantou mais, enxergou mais, como deusa que é soprou, cuspiu, conjurou pedaços de papel para o alto. Raise your flag! [Higher, higher!]




Tudo turvo, não se via nada, só papéis, e cores, e sabores. E se sabia, naquele momento, que o mundo era diferente, que as terras estavam mais fecundas, mesmo que apenas dentro de você. Porque uma deusa, vestida de arco-íris, tinha por ali passado. E nada mais foi como era antes.

Fonte das fotos: Uol