segunda-feira, 7 de abril de 2008

Onde os fracos não têm vez
Por Jader Pires

É fato que a mulher exerce uma supremacia sobre os homens. Dizem por aí que as mulheres não são donas vitalícias do planeta por questão de um único ponto fraco: A insegurança.

Se todas elas tivessem a noção do poder que possuem nas mãos delicadas e enfeitadas com unhas grandes e vermelhas, nesse momento estaríamos todos presos a bolas de ferro, executando trabalhos forçados para sustentar seus prazeres e mazelas.

Na verdade tudo isso já ocorre de maneira intangível e sutil, trocando as bolas duras e pesadas por pensamentos levianos que nos aprisionam com mais eficácia. Devaneios sobre pezinhos, alcinhas, decotezinhos, pinduricalhozinhos diversos e tudo que se pode dizer no diminutivo. Cada qual com sua peculiaridade, acabamos sempre de quatro por alguma delas: Lolitas, fogosas, tímidas, feministas, femininas, sonhadoras, recatadas, devassas, presumidas, mulheres de negócios, mulheres do povo, mulheres de deus. O projeto 3 Na Massa tem tudo isso e mais um pouco.






Imagine três homens morando num mesmo local. Realize agora a quantidade de momentos em que as mulheres davam a tônica da conversa entre esses três homens. Trace agora o plano de que são músicos, sendo esses músicos Dengue, Pulillo (ocupam respectivamente o baixo e bateria da Nação Zumbi) e Rica Amabis (Instituto).

Pode parar de imaginar.

No tempo em quem residiram no mesmo local, a tríade em questão criou alguns sons no tempo livre e resolveram formar algo com as bases acumuladas. Surgia aí a idéia que não chega a ser inovadora, mas é sempre apetitosa. Chamaram um bando de amigos pra escrever letras com o eu lírico feminino, como Jorge Du Peixe (Vocal da Nação Zumbi), Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), China (que lançou um álbum muito bom ano passado), Rodrigo Amarante (Los Hermanos e Orquestra Imperial), Catatau (Cidadão Instigado) e outros.

Mas só isso não seria suficiente, não é mesmo? O que seria de um projeto sobre mulheres sem mulheres pra dar aquele tempero tão tentador? - Eles pensaram a mesma coisa.

Pra completar o "voyeurismo auditivo", assim como todo relacionamento que começa ou toda paquera que começa a esquentar, todo um cuidado foi tomado pelos três para convidar e gravar com as mulheres mais interessantes, amigas e com as vozes mais apropriadas pra cada canção. No final de três anos as músicas estavam prontas e o álbum terminado, intitulado Na Confraria das Sedutoras.







O culto ao ideal (ou não) de feminilidade começa com a canção Certeza, interpretada pela atriz de cabelos cacheados Leandra Leal (além de cantoras, o trio convidou atrizes que pudessem interpretar as letras e aguçar ainda mais a libido). Com arranjos que dão a ambientação de música de elevador, a mocinha de olhos grandes vai declamando frases em francês e abrindo qualquer guarda que se possa fazer para resistir à investida da obra. "Sei que vai ser muito bom...pois eu tenho uma imaginação fértil e gosto de agradar". É com essa frase em português, o jogo de sedução já começa a ser ganho...por elas, claro.

Thalma de Freitas (Orquestra Imperial) toma a frente num swing de matar. O talento da cantora é inquestionável e sua interpretação em O Seu Lugar é tranqüila e mostra o controle da situação.

Em Doce Guia, a cantora Céu adentra no ambiente da sedução aguda, em meio a arranjos eletrônicos e metais lascivos. A pequena paulistana de narizinho desenhado leva consigo uma voz atraente de quem está sussurrando brincadeiras no ouvido pra hipnotizar e ter nas mãos mais uma pobre feliz alma.

Um tecladozinho totalmente doce abre a canção Tatuí em que Karine Carvalho, esposa de Rodrigo Amarante, canta versos com ternura. A letra é do próprio Amarante e a música é quase infantil, alegre que daria gosto gosto se não fosse a letra que vai por outra direção (bem como o ex-Los Hermanos gosta).

Com qualquer homem aos pés, a música Estrondo (interpretada pela cantora Geanine) domina com a verdadeira sensação de entrega ao ato e aos fatos. A letra é quase falada, afagada com delírios e pedidos deliciosos que são um dos pontos altos do álbum.

Outro destaque da pegação é a parceria entre Lirinha e Pitty. A cantora baiana dos olhos firmes e rosto simetricamente redondo canta a letra do poeta pernambucano e tudo casa tão bem como um romance impossível que dá certo. A interpretação de Lágrimas Pretas lembra as loucuras do vocalista do Cordel, mas é genuinamente Pitty, que foge um pouco do estereotipo rockeira e canta com mais graça que força (sem falar que a guitarra de Lúcio Maia, guitarrista pra lá de competente da Nação Zumbi é de dar água na boca).

A música Pecadora é a mais tensa do álbum todo. A atriz Simone Spoladore, que atuou no belíssimo (talvez o mais belo) filme nacional Lavoura Arcaica. A canção tem uma instrumentação densa e efeitos pesados como chuvas e trovões envoltos a notas repetidas incessantemente. A falta de um bom afago é o motivo de tamanho desespero que culmina em uma masturbação pra lá de aproveitada pela personagem solitária que recebe vida na voz de Simone.

Nina Becker resgata a tranqüilidade em O Objeto. Sua voz é acalentadora demais e os teclados de Chiquinho (Mombojó) dão um toque especial na identificação das vontades da mocinha.





O Cantor e compositor China (ex-Sheik Tosado, atual artista solo e que brinca com um projeto paralelo chamado Del Rey, que faz releituras mais atuais de Roberto Carlos) assina Quente Como Asfalto. Quem nos deleita com sua voz é a mais conhecida como jurada do programa Ídolos, Cyz. A pernambucana de voz delicada, movimentos delicados e sotaque delicado sussurra, ri deliciosamente, brinca com a voz antes de começar a cantar o pedido de mais e mais. Delicadamente insaciável.

A ex-vocalista da bem conceituada banda Smoke City, Nina Miranda (que fazia um som meio bossa pra gringo, mas de boa qualidade) faz uma participação em Morada Boa. Em meio a um sambinha com sopros danadinhos, a menina radicada em Londres dá conta do recado e impõe a voz de quem não quer deixar ir (até porque o álbum ainda guarda deliciosos momentos).

Karina Falcão, apesar de ter projetos musicais em Pernambuco, é uma atriz em seu estado principal. Atuou no badalado Cidade de Deus e aqui no Confraria, ela assina uma carta com devaneios pós-separação e pré-volta certa. Interpreta frases desesperadas e é incisiva nas declarações que apelam por sossego.

Lurdes da Luz envia rimas secas e diretas em Sem Fôlego. Embalada por uma cozinha bem estruturada de linha de baixo e bateria dançante, a MC paulistana de lábios grandes e apetitosos mostra a independência da mulher nos dias atuais e toda a parte boa dessa situação (para ambos).

Em Tarde Demais, Alice Braga (mais conhecida como a atual brasileira a alcançar os bons contratos de Hollywood, atuando com Will Smith em Eu Sou A Lenda) nos diz em pouco mais de um minuto o óbvio do ápice da situação. O orgasmo puro e derradeiro leva a bela morena de sorriso contagiante a nos confessar sua (ou nossa!?) incapacidade de resistir a tamanho prazer. A cena de uma cama ainda quente e duas pessoas (ou mais) completamente exaustas depois de tantas peripécias é mais do que obrigatório. Um convite inusitado e impossível de se recusar é o desfecho irremediável dessa obra impregnada de cheiro de cabarés, de suor a dois, de beijos fortes e respirações aceleradas.

Depois de tudo isso? - Nada mais resta a fazer do que vê-las cair no sono enquanto brincamos com seus cabelos ou sentimos a temperatura de seus corpos caírem quando se acaricia a coxa descoberta, enquanto pegamos o controle remoto do aparelho de som para recolocar esse álbum que é sinônimo de pecado.



Se estiver tentado, sinta os toques no ouvido de A Confraria Das Sedutoras Aqui!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Tô atrasado...tô atrasado!
Por Jader Pires




Estou acelerado, minha agitação tem motivo e esse motivo tem nome: Jack White.

Não há modos de acompanhar a carreira do meninão de Detroit sem levar consigo uma boa dose de empolgação e disposição, uma vez que ele me faz o seguinte: Lança o álbum Get Behind Me Satan do White Stripes em 2005, surpreende com um projeto novo em 2006 e põe pra rodar o primeiro álbum intitulado Broken Boy Soldiers e em 2007 lança outro álbum da dupla vermelho-preto-e-branco Icky Thump que é considerado um dos melhores álbuns do ano passado aqui no Calo na Orelha.

Como se não bastasse para o fôlego dele, ainda no primeiro trimestre desse ano, sem mais nem menos, o Raconteurs anuncia o lançamento do segundo álbum que recebeu o nome de Consoler Of The Lonely. O intrigante anúncio foi feito à imprensa apenas uma semana antes, sem um dia a mais ou a menos.





Apesar de ainda ser chamada de "banda paralela do cara do White Stripes", o Raconteurs possui um núcleo criativo que se divide em duas metades: Uma delas fica realmente com Jack White, que tem uma bagagem vasta e muito interessante de Blues e Rock'n Roll, além de ser detentor de um afinadíssimo bom gosto ao medir o velho e no novo em riffs que não agridem e não enchem os bagos com o tempo. A outra metade fica a cabo de Brendan Benson que possui uma carreira bem estruturada com ambientações roqueiras e de folk.

O novo álbum que chegou no último dia 25 tem 14 faixas e uma capa em preto e branco bem ao estilo vintage da banda. A sonoridade também é marcada pelo estilo do álbum anterior, quando o rock setentista foi resgatado em alto grau.

A diferença que encontramos em Consoler Of The Lonely é que o resgate foi feito, mas acrescido de um certo frescor nos arranjos que contam com metais e harmonias que fogem um pouco daquele classic rock.

A música de abertura é homônima ao álbum e tem uma pegada muito boa de riffs e bateria. A guitarra inicial lembra um pouco o White Stripes, mas Jack White canta uma melodia diferente da sua outra banda, e é acompanhado por uma segunda voz bem sutil. O ponto mais legal dessa canção é a alternância muito boa de levada dançante e tensa, tensa e dançante e os agudos quase desafinados no refrão.





Salute Your Solution é talvez a música que mais de aproxima do álbum anterior, cheia de energia e cantada de um jeito frenético. O clipe disponível no youtube é vertiginoso, mostrando bem a pegada da banda em fotos seqüenciais em PB.

As próximas faixas You Don't Understand Me, Old Enough e The Swhich and the Spur fazem cair um pouco a adrenalina, mas sem perder a qualidade (a última citada tem metais bem interessantes).

Hold Up já volta a dar mais pressão com batera acelerada, guitarras destorcidas e berros de ambos os vocalistas. Many Shades Of Black é a música mais intrigante. Uma balada pra abalar qualquer baile. Metais lastimando uma briga inevitável e Brendan Benson cantando uma harmonia que até então parecia impossível de se conceber para a banda e encaixada na letra longa que sugere um desabafo de quem não agüenta mais tamanha tensão num relacionamento. Uma canção chorosa, linda, digna e muito curiosa.

Five on the Five reaquece o motor do álbum que sobe e desce sem chegar a encher o saco. Rock febril, folk animado, baladas interessantes com pitadas de blues como a rapidinha Pull The Blanket no piano.







É um álbum bom de cabo a rabo, mas que não chega a suprir as boas sensações de seu antecessor. Um álbum que foi mantido em segredo e lançado com a mesma pressa que Jack White tem pela música, pela boa música. Um álbum de uma banda que não tem muita pressa pelo futuro, mas que parece não estar mais tão apegada ao passado.



Corra, pule e dance com o Raconteus Aqui!