terça-feira, 28 de outubro de 2008

E assim segue...

Durante mais de um ano, o Calo na Orelha teve como casa este blogspot aqui.

Hoje isso mudou, o blog cresceu de um espaço para exercício da resenha cultural e agora somos, eu, Pedro Jansen, e Jader Pires, co-editores do site Calo na Orelha.

Com muito orgulho, sempre.

Você que nos lia aqui está convidado a conhecer a nova casa. Esperamos que goste.

Abraços!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Parece que faz tanto tempo...
Por Jader Pires.




Quando lançou seu primeiro trabalho solo (Yours To Keep) em 2007, Albert Hammond jr disse que “se você não estiver procurando por um quarto disco do Strokes, esse vai ser um álbum para se apaixonar”. Seguindo a mesma linha de raciocínio, o guitarrista californiano que ganhou o mundo em Nova York continua doce e dúbio em ¿Cómo Te Llama?, mas com um gás renovado.

 

O rapaz é supostamente uma máquina criativa. Carreira solo bem comentada justamente pelas composições que fogem um pouco da banda que o projetou e agora, além de um novo álbum, começa a atuar também no mercado da moda, criando modelos de ternos com a designer Ilaria Urbinati. Territórios desconhecidos provaram ser bem férteis para este moço que sempre teve uma cara confiante. Não uma confiança de quem sabe fazer, mas de quem simplesmente faz.

 

Em ¿Cómo Te Llama?, temos a voz que ainda encanta por sua mistura ditosa e levemente melancólica que deixa todas as composições carregadas de uma dualidade entre alegria e tristeza (fator primordial para o estilo power pop que Albert resolveu adentrar com seu projeto solo). GfC é o exemplo mais interessante de uma letra muito triste (“inside me there's a sad machine, wants to stop movin'”) com um arranjo mais alegre e uma voz que caminha nas duas direções para ser interpretada conforme a disponibilidade do dia para se estar feliz ou triste.



O trio que o acompanha é o mesmo e isso dá um tom mais ímtimo e, embora não inovando assim como em Yours..., estão claramente mais descontraídos. Essa tal intimidade tanto da banda, como a de Albert em compor sozinho, fez com que, além de lançar dois discos pra um mesmo projeto paralelo num período de um ano, as alternâncias de estilo também se fizeram aparecer na obra. Toda a sonoridade é mais solta, ampla e segura que no trabalho anterior fazendo até com que uma canção como In My Room (uma das melhores) pudesse ser gravada com uma pegada deliciosamente parecida com Strokes, mas sem soar realmente como a banda e mostrando que o garoto dos ternos também sabe falar de relacionamentos conturbados tão bem ou, dependendo da liberdade dos olhos e ouvidos de quem ouve, melhor que Julian Casablancas.

 

As canções Lisa e Rocket são bem densas e industriais enquanto You Won’t Be Fooled By This é uma (em)balada gostosa e sincera que antecede a bela Spooky Couch, uma viagem de teclados e cordas que contou com a participação de Sean Lennon (que já havia participado do álbum anterior). É uma canção instrumental cercada de surrealismos sonoros, simples e encantadores.




Logo após, uma seqüência ótima em que Albert leva todas as características de seu som para a concepção de dub poderoso (Borrowed Time), um emaranhado de alegrias (G Up) e um reggae com direito a inserções de percussão (Miss Myrtle), todos aos moldes de ¿Cómo Te Llama?, que é finalizado com a inspirada Feed me Jack or How I Learned To Stop Worrying And Love Peter Sellers. Aliás, a julgar pelos dois trabalhos que Albert já lançou em sua trajetória solo, posso concluir que o garoto sabe muito bem como terminar um cd.



Albert começa já na saudade (parece que faz tanto tempo...) e termina sem demonstrar um mínimo de cansaço ou falta de motivação (não é tarde demais pra ficar um pouco mais...). Se depender de mim, será sempre bem vindo. Se depender de um som sempre com essa cara boa, será sempre bem esperado.


Mate a saudade de Albert Hammond Jr. Aqui



segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A satisfação de uma curiosidade antiga

Elvis Costello nunca foi exatamente o tipo de artista que sempre figurou na minha discografia básica. Havia uma curiosidade distante desde a inserção do artista no clássico [ao menos para mim] Austin Powers: The Spy Who Shagged Me, mas nada além de uma curiosidade.



Eis que o tempo cuida de provocar certos incidentes maravilhosos e numa noite qualquer de junho o amigo Rodrigo Mesquita deixa a dica: "o novo do Elvis Costello tá muito bom". Deixei aquilo na cabeça, mas tão assoberbado de trabalho estava que ficou só na cabeça mesmo e nunca passou para o SLSK ou coisa que o valha. Até que um dia, esperando o início de um show de amigos meus, fui dar uma banda pela FNAC e no meio da seção de CDs se destacou a capinha roxa com o nome de Costello em laranja. Momofuku, disco cujo nome homenageia o inventor do macarrão instantâneo Ando Momofuku e o espírito em que o disco foi gravado, esperava pela minha audição, quieto e passivo.



Selecionei o tal disco no seletor da loja de departamentos e No Hiding Place invadiu o péssimo fone de ouvido. E mesmo com a qualidade duvidosa daquele som que chegava aos meus ouvidos, sabia que estava diante de uma obra singular do cantor e compositor inglês. Mesmo com a presença constante de baladas de qualidade, o forte de Momofuku são bons rocks, com riffs espertos e arranjos criativos e dançantes. Sim, por que não se dança só músicas incrivelmente animadas. O meio termo também é convidativo e o The Imposters, banda que acompanha Elvis Costello, soube executar isso com maestria.

O trio que abre o disco tem uma beleza singular. Me interesso muito pelas músicas que abrem discos, geralmente são elas que trazem uma mensagem escancarada, são elas que traduzem a cabeça do artista dentro daquela produção. E No Hiding Place já abre o jogo, dizendo que pagou seus pecados imortais, que conhece o inimigo que um interlocutor traz consigo e que não há esconderijos. Não, realmente não há esconderijos para nada, seja você fiel a um deus ou ateu. É algo que se precisa aprender a lidar: um problema não some só por que você fechou os olhos.



A segunda canção, American Gangster Time, com um arranjo de piano simples e gracioso capaz de deixar qualquer 5º beatle com inveja fala do mundo da máfia americana, seus excessos e extravagâncias. Tudo com um toque de bom humor e ironia. Turpentine, no entanto, é ácida, longa e "sombria", com aspas para determinar a dificuldade em precisar os limites deste sombrio. Trata sobre passado, acidentes com química e outras experiências ruins. Uma tríade poderosa para abrir um disco.

Então temos a primeira balada, Harry Worth, apresentando um atestado de "memento mori" para um casal que aparentemente não está se dando bem. Destaque para os arranjos das faixas seguintes. Flutter and Wow, Stella Hurt [com seu piano nervoso marcando o baixo e falando da minha mulher preferida, toda e qualquer Stella...], Mr. Feathers conta uma história com voz, piano e bateria.

My Three Sons é o momento corujice do disco, em que Costello declara sua completa paixão pelos três filhos, dois deles com a pianista e cantora Diana Krall, com quem é casado desde 2003. Song with Rose e Pardon Me Madam, My Name Is Eve são músicas um tanto menores dentro do disco, mas que mantém o esmero de Elvis nos arranjos de sua obra. Por sua vez, para fechar o disco, nada mais apropriado que o ótimo e suave rock de Go Away.



Momofuku é uma obra justa, sem grandes supresas, mas que mantém acessa a chama dos álbuns como amostra de um artista. Se lançado apenas como diversos singles, online e sem a formatação de obra fechada, talvez o álbum fosse um estrondoso sucesso, indo além do modesto 59º lugar da Billboard. Ainda assim, Momofuku vale o download, a audição carinhosa e o suspiro de satisfação.




Você pode baixar este disco aqui.