O início da volta do retrô no rock
Um rasgadinho aqui, uma franjinha ali, uma guitarrinha 80´s acolá... Foi assim que muita gente definiu a banda nova-iorquina The Strokes, quando o boom da patota aconteceu. O ano era 2001 e mais uma vez o rock tinha morrido, não se tinha grandes bandas novas, com sangue e alma renovados. Aí esses guris começaram a fazer zuada lá em NYC, e sem quê nem pra quê, se picaram pra Londres, tentar a sorte por lá...
De banda totalmente desconhecida, o Strokes (formado pelo vocalista Julian Casablancas, os guitarristas Albert Hammond Jr. e Nick Valensi, o baixista Nicolai Fraiture e o baterista Fabrizio Moretti, que nasceu no Rio de Janeiro), com suas três cançõeszinhas (Last Nite, Hard to Explain e The Modern Age) fizeram o povo de Londres ficar de queixo caído. Os shows começaram a lotar, com ingresso sendo disputado a tapa, facada, tiro e o escambau. Daí pra consagração foi, como eu gosto de dizer, um pulo. Gravadora disse 'vem cá, meu nego' e os Strokes lançaram 'Is this it' no finalzinho de 2001. Depois do petardo, veio outra bomba. Os meninos passaram no teste de fogo do segundo disco, e o 'Room on Fire' dos caras ainda vai pintar por essas bandas em breve. Um terceiro álbum já está quase na fôrma, para ser prensado.
Mas a coluna versa mesmo é sobre o 'Is this it', de 2001. A redenção foi imediata. O título do álbum já dava um direcionamento do que eles iam falar. 'É isso mesmo?'. Niilismo completo. Os rapazes, a maioria vinda de famílias cheias do tutu e acostumadas a flashes e coisas assim, já sabiam como era o lance do sucesso. Por isso, 'nem te ligo'. Muita gente condenou a banda a um 'grupelho de mauricinhos', mas o impacto das canções desse primeiro álbum calou essas bocas. Eles podem até ser mauricinhos, mas fazem música boa. As doze canções do álbum chamaram a atenção de meio mundo de gente e dá-lhe festival pro Strokes participarem. A banda, que era muito rotulada por conta de um retorno incessante à década de 80, foi comparada com Velvet Underground, Television e Blondies. Mas era bobagem. Os caras manjavam do assunto. A cartilha era ser rápido, pungente, moderno, retrô, e urbano. Claro... Vindos de New York, como não serem urbanos?
Essa urbanidade ficou provada, não só no vestuário da banda, que passou a ser imitado constantemente pelos indies de plantão, mas principalmente nas letras das canções. Todas as canções, com exceção de 'Last Nite', que virou arroz de festa e fala de amores rápidos e intensos e coisas afins, falam, de uma forma ou de outra, de problemas, conflitos, mudanças, adaptações e coisas 'urbanas'. Essas coisas urbanas falam de tanta coisinha...
O fato é que se tem poesia urbana a balde, retratando conflitos por conta de filosofias de vida, hora para ir pra casa, droga demais, vícios demais, sexo demais, coisas demais. Mas temos também muito amor e vontade de ficar. É mais fácil entender com exemplos. No caso de Is This It, Casablancas manda dizer que "oh querida, você não está vendo? São eles, não sou eu/nós não somos inimigos, nós só discordamos". Claro! Óbvio, ululante... Duas pessoas que não concordam com alguma coisa não precisam necessariamente se matar. Respeito... Mais para frente temos The Modern Age, que rasga o verbo dizendo "pare de fingir, pare de ficar fingindo/parece que esse jogo não vai acabar nunca".
É difícil ir citando os versos das canções, por que cada uma dela tem algo para falar e fala realmente. Como em Soma, a terceira canção do disco. O título e a letra fazem uma referência à santa droga descrita no livro Admirável Mundo novo, de Aldous Huxley. O soma fazia os personagens do livro ficarem calmos e dormentes, longe da realidade e dos problemas. Então a letra vai dizendo, descaradamente, que essa droga continua (ou não) sendo usada. "Soma é o que eles tomam/Quando os tempos difíceis abrem os seus olhos/Viram a dor de um novo jeito". E o quê que a gurizada mais faz pra fugir da realidade? Pois é... O resto do álbum é todo recheado de pérolas assim. Expressões vivas e berradas, acordes rápidos, solos bacanas, bateria socada, baixo sem invencionice. Tudo do bom e do melhor.
The Strokes é uma banda de futuro promissor, que já se consolidou no cenário indie alternativo rock retrô qualquer que seja o rótulo da vez. O meu medo é que como os caras são porra-louca, eles comecem a tomar pico ou qualquer coisa assim, morram de overdose e a banda acabe... O rock atual iria perder bastante.
The Strokes - Is This It
Is This It
The Modern Age
Soma
Barely Legal
Someday
Alone, Together
Last Nite
Hard To Explain
New York City Cops
Trying Your Luck
Take It Or Leave It
Coluna originalmente publicada no Jornal O Dia, no caderno Torquato, na edição do dia 19.07.05
Um rasgadinho aqui, uma franjinha ali, uma guitarrinha 80´s acolá... Foi assim que muita gente definiu a banda nova-iorquina The Strokes, quando o boom da patota aconteceu. O ano era 2001 e mais uma vez o rock tinha morrido, não se tinha grandes bandas novas, com sangue e alma renovados. Aí esses guris começaram a fazer zuada lá em NYC, e sem quê nem pra quê, se picaram pra Londres, tentar a sorte por lá...
De banda totalmente desconhecida, o Strokes (formado pelo vocalista Julian Casablancas, os guitarristas Albert Hammond Jr. e Nick Valensi, o baixista Nicolai Fraiture e o baterista Fabrizio Moretti, que nasceu no Rio de Janeiro), com suas três cançõeszinhas (Last Nite, Hard to Explain e The Modern Age) fizeram o povo de Londres ficar de queixo caído. Os shows começaram a lotar, com ingresso sendo disputado a tapa, facada, tiro e o escambau. Daí pra consagração foi, como eu gosto de dizer, um pulo. Gravadora disse 'vem cá, meu nego' e os Strokes lançaram 'Is this it' no finalzinho de 2001. Depois do petardo, veio outra bomba. Os meninos passaram no teste de fogo do segundo disco, e o 'Room on Fire' dos caras ainda vai pintar por essas bandas em breve. Um terceiro álbum já está quase na fôrma, para ser prensado.
Mas a coluna versa mesmo é sobre o 'Is this it', de 2001. A redenção foi imediata. O título do álbum já dava um direcionamento do que eles iam falar. 'É isso mesmo?'. Niilismo completo. Os rapazes, a maioria vinda de famílias cheias do tutu e acostumadas a flashes e coisas assim, já sabiam como era o lance do sucesso. Por isso, 'nem te ligo'. Muita gente condenou a banda a um 'grupelho de mauricinhos', mas o impacto das canções desse primeiro álbum calou essas bocas. Eles podem até ser mauricinhos, mas fazem música boa. As doze canções do álbum chamaram a atenção de meio mundo de gente e dá-lhe festival pro Strokes participarem. A banda, que era muito rotulada por conta de um retorno incessante à década de 80, foi comparada com Velvet Underground, Television e Blondies. Mas era bobagem. Os caras manjavam do assunto. A cartilha era ser rápido, pungente, moderno, retrô, e urbano. Claro... Vindos de New York, como não serem urbanos?
Essa urbanidade ficou provada, não só no vestuário da banda, que passou a ser imitado constantemente pelos indies de plantão, mas principalmente nas letras das canções. Todas as canções, com exceção de 'Last Nite', que virou arroz de festa e fala de amores rápidos e intensos e coisas afins, falam, de uma forma ou de outra, de problemas, conflitos, mudanças, adaptações e coisas 'urbanas'. Essas coisas urbanas falam de tanta coisinha...
O fato é que se tem poesia urbana a balde, retratando conflitos por conta de filosofias de vida, hora para ir pra casa, droga demais, vícios demais, sexo demais, coisas demais. Mas temos também muito amor e vontade de ficar. É mais fácil entender com exemplos. No caso de Is This It, Casablancas manda dizer que "oh querida, você não está vendo? São eles, não sou eu/nós não somos inimigos, nós só discordamos". Claro! Óbvio, ululante... Duas pessoas que não concordam com alguma coisa não precisam necessariamente se matar. Respeito... Mais para frente temos The Modern Age, que rasga o verbo dizendo "pare de fingir, pare de ficar fingindo/parece que esse jogo não vai acabar nunca".
É difícil ir citando os versos das canções, por que cada uma dela tem algo para falar e fala realmente. Como em Soma, a terceira canção do disco. O título e a letra fazem uma referência à santa droga descrita no livro Admirável Mundo novo, de Aldous Huxley. O soma fazia os personagens do livro ficarem calmos e dormentes, longe da realidade e dos problemas. Então a letra vai dizendo, descaradamente, que essa droga continua (ou não) sendo usada. "Soma é o que eles tomam/Quando os tempos difíceis abrem os seus olhos/Viram a dor de um novo jeito". E o quê que a gurizada mais faz pra fugir da realidade? Pois é... O resto do álbum é todo recheado de pérolas assim. Expressões vivas e berradas, acordes rápidos, solos bacanas, bateria socada, baixo sem invencionice. Tudo do bom e do melhor.
The Strokes é uma banda de futuro promissor, que já se consolidou no cenário indie alternativo rock retrô qualquer que seja o rótulo da vez. O meu medo é que como os caras são porra-louca, eles comecem a tomar pico ou qualquer coisa assim, morram de overdose e a banda acabe... O rock atual iria perder bastante.
The Strokes - Is This It
Is This It
The Modern Age
Soma
Barely Legal
Someday
Alone, Together
Last Nite
Hard To Explain
New York City Cops
Trying Your Luck
Take It Or Leave It
Coluna originalmente publicada no Jornal O Dia, no caderno Torquato, na edição do dia 19.07.05
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial