segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A ciência do Metal(lica).
Por Jader Pires



Enquanto os olhos da ciência estão voltados para a experiência do grande acelerador de partículas (LHC) que “recria” em menor escala (obviamente) o fenômeno do Big Bang, tivemos no dia 12 último um fenômeno interessante de lapso no espaço-tempo.





O Metallica lançou seu nono disco de estúdio (sem contar o duplo Garage Inc., que contém apenas covers) chamado Death Magnetic (será que tem algo a ver com os tais testes na França e Suíça!?). O lapso aconteceu porque, em resumo, a obra toda parece ter sido concebida entre o clássico ...And Justice For All (1988) e o primeiro chute no saco dos fãs, Black Album (1991). Toda a sonoridade de Death Magnetic parece ser uma mistura desses dois álbuns ou então influências diretas da primeira fase da banda (aquele metal agressivo e muito bem trabalhado) e a segunda (o metal mais denso, potente e comercial). O mais curioso é que o produtor Bob Rock foi um dos principais responsáveis pelas várias facetas que o Metallica teve durante toda a carreira e, nesse novo trabalho, a produção ficou com o excelente Rick Rubin, que já trabalhou com Slayer, System of a Down e Rage Against The Machine. Com essa alteração, a banda acabou optando por criar o que sabe fazer de melhor, após o enorme fiasco de St. Anger (provavelmente quase tão grande que o Big Bang e definitivamente maior que o teste que chegou a ser ridiculamente acusado de criar um buraco negro e acabar com todo o universo).




É muito Metallica. A complexidade certa nas linhas de guitarra, as paradas, as alternâncias na melodia, os solos. That Was Just Your Life (com exorbitantes 7:08 min) já inicia a pancadaria com o vigor da fase inicial da banda, com direito a berros agudos de James Hetfield, mas bem mais contido do que o garoto que liderava a banda no início dos anos 80. Outro ponto que vale ressaltar é que as composições permanecem com todas as características metallianas, com frases como “the slave becomes the master” (The End of the Line), “we die hard” e “show your scar” (Broken, Beat Scarred). O single The Day That Never Comes é a que mais tem a cara do Black. Um começo lento e a voz bem encaixada de Hetfield no tempo todo da canção pesada, mas comedida.

The Unforgiven III soa como tiro no pé (ou súplica de mais grana nos bolsos), mas surpreende pela idéia que a letra passa e a inspiração máxima (ou nostalgia maior) está na derradeira My Apocalypse, uma peça pesada até os ossos digna de destaque nas apresentações ao vivo.




Com o tempo eu aprendi a enxergar coisas boas em (quase) todos os trabalhos do Metallica. Os Load e ReLoad têm ótimas canções de hard rock, a fase caipira do Garage é muito divertida, o S&M (com a orquestra) é um show fantástico e a banda sempre mandou bem ao vivo. Mesmo assim, esse momento de voltar às raízes sem soar anacrônico é muito saudável e louvável para uma banda que experimentou muita coisa nessa vida (os médicos que cuidaram da reabilitação de James Hetfield que o digam). Sem querer ter o mesmo discurso dos xiitas do metal, a melhor coisa que a banda poderia fazer depois do desastre sintético do último disco e das galhofas contra a distribuição de música pela Internet era justamente voltar ao casulo e recomeçar só os quatro com seus instrumentos, reunidos entre passado e presente para acelerar riffs e reproduzir os antigos sons explosivos que deram origem ao que eles atualmente são.

Confira se o Metallica ainda está em forma aqui!

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