segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O lado negro da força
Por Jader Pires


O Justice é um Frankenstein de duas cabeças. Uma é boa, artística, centrada nas batidas certas pra fazer a coisa ferver. A outra é vil, violenta, desprovida de dignidade e qualquer tipo de sentimentalismo. É uma mistura de graciosidade e agressividade gratuita. Uma cabeça tentando dominar a outra num jogo psicológico sem tréguas, sem vencedores aparentes. Esse monstro tocou em São Paulo esse final de semana.




O ímpeto do duo francês encontrava-se atrás de uma enorme cortina negra que estava postada frente ao palco do Skol Beats 2008. Após a apresentação interessante do Mixhell (formado por Iggor Cavalera e sua esposa, Laima Leyton), as tais cortinas se abriram e liberaram a visão de dezenas de amplificadores Marshall simetricamente dispostos em cada um dos lados, que davam poderio ao altar eletrônico enfeitado por uma cruz bem no centro que emanava uma claridade branca que até o momento não sei dizer se era alegria ou um pedido de ajuda. Por trás de todo esse aparato estavam as duas mentes que, juntas, metralharam inúmeros elementos sintetizados que eram, ao mesmo tempo, atraentes e perturbadores.

 

Assim como no álbum (ou Cross - 2008), Genesis foi a canção escolhida para o prenúncio do apocalipse sonoro. Pancadas graves golpeavam meu estômago e reverberavam em minha garganta, juntamente com as inserções de Phanton (ainda antes de o primeiro som terminar). Era uma seqüência interminável de impactos e alívios que ainda não entendi como pudemos todos suportar uma tortura com tanto prazer.





Gaspard Augé (de cabelos enrolados) parecia mais concentrado, um ar mais hardworker (sem deixar de curtir e aproveitar os momentos de maior rockstar da atual cena eletrônica). Do outro lado, Xavier Rosney (de cabelos desgrenhados) já se mostrava mais despojado, com olhares fulminantes para a platéia (ao melhor estilo Liam Galagher), enquanto degustava todos os cigarros possíveis e imagináveis naquela uma hora de show. D.A.N.C.E. e The Party viraram baladinhas, mas isso não quer dizer que ficaram menos nervosas (até nos momentos mais carinhosos, a besta dentro da dupla se manifesta de modo rude, incômodo). Já nos momentos críticos, as provocações são das mais perigosas. O Remix de We Are Friends (original dos remixadores ingleses do Simian Mobile Disco)  foi iniciada só com a voz (because we are your friends/you’ll never be alone again) histericamente acompanhada na platéia, com repetições de “oh, come on! oh, come on!”, enquanto Stress virou um épico de cólera. Colagens de violinos dramatizavam ainda mais a tensão e a pancadaria psicológica não dava fôlego (enquanto a pancadaria física rolava no chão do Anhembi, com pés já completamente tomados pela adrenalina).

 



O inferno só parou (infelizmente) quando a música cessou e Garpard apareceu no telão com os braços formando uma cruz e Xavier já desaparecia no breu do canto do palco. Soturno, pesado, frenético e competente. O Justice é uma extravagância poderosa e detentora de um charme bem irascível. Difícil é sair ileso.


(Fotos gentilmente cedidas por Marcelo Elídio

3 Comentários:

Blogger Rafael Campos disse...

como disse no msn:

¬¬

30 de setembro de 2008 às 00:19  
Blogger oseguinte disse...

é bom conhecer o desconhecido
;}

1 de outubro de 2008 às 00:19  
Blogger Alícia Melo disse...

tô com o Rafa.
=~

5 de outubro de 2008 às 04:12  

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