quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma noite linda de morrer (China)
Por Jader Pires


Depois de uma tarde de sábado reconfortado na companhia de amigos da melhor estirpe, vi a noite caindo pesada com um vento forte que sugeria um fim mais próximo, mas que na verdade estava a sussurrar o começo de algo especial.

 

O Studio SP é reduto de quem gosta de música brasileira e corre atrás de novas sonoridades que na verdade não tem nada de novo, só não é moldado nos padrões propostos (ou impostos) pela atual indústria fonográfica nacional. Para outros artistas, o Studio SP também é um refúgio para conseguir shows bons sem ter que cair nas garras das gravadoras, mas acabam por focar suas apresentações mais em Sampa (a terra prometida), deixando muitos outros lugares do país a ver navios. Opções da vida (não se pode ganhar sempre).



Assim como já foi dito aqui no Calo na Orelha, Pernambuco deve ter algo de errado na água ou a tensão de pensar tubarões nas praias pra ferver tanta musicalidade boa por lá. Zilhares de bilhares de bandas, grupos, cantores, interpretes, compositores e todo tipo de mau elemento que faz um ótimo show saíram dos mangues, das regiões da mata ou do eixo Recife-Olinda pra fazer a vida com suas músicas. No sábado, depois de uma tarde reconfortado na companhia de amigos da melhor estirpe, eu fui ao Studio SP pra ver o show de um bando de pernambucanos mau elementos que saíram da lama, da mata e do eixo pra viver de música. E ó só, como vivem.

 

Enquanto estávamos sendo aquecidos passivamente e positivamente pela discotecagem precisa do, às vezes DJ, quase sempre vocalista da banda Jumbo Elektro, Tatá Aeroplano (que fazia o som da casa na noite), a H Stern Band adentrou ao palco, ainda no escuro, portando seus instrumentos e, ao centro, China estava impecavelmente posicionado com sua camiseta listrada, seu chapéu quadriculado e microfone em mãos.




O groove poderoso de Colocando Sal nas Feridas adentrou em todos os ouvidos quase ao mesmo tempo em que a luz de um amarelo forte atacou todo o palco com um “Mick Jagger brasileiro” (“Não... é o Mick Jagger Chinês!”, disse uma amiga da melhor estirpe) já inerte em seus movimentos epiléticos, fazendo bicos e soltando as palavras faladas da canção. Sua voz era completamente encoberta por uma maré de berros da galera na pista, praticamente toda tomada por fãs (característica do local). A banda toda é detentora de um equilíbrio sonoro tremendo, colocando a potência certa, o swing certo, a paulada certa, a malemolência certa. O Cantor e compositor China (ex-Sheik Tosado) parece estar abduzido o tempo todo, imerso completamente em sua função. Dança freneticamente, canta com sinceridade e contagia todo o ambiente. 

 

Praticamente tudo de seu último álbum (Sumilacro, 2007) é tocado com uma ótima pegada dançante com pitadas bem pesadas. Jardim de Inverno, Sem Paz tiveram suas letras acompanhadas de ponta a ponta, com explosões nos refrões, nas vozes, nos pulos e nos dedos apontando o ar, o teto, o amigo ao lado, o China, a banda. Asas Nos Pés foi provavelmente a mais agitada: público faiscando e China com seus espasmos bailados, enquanto Um Dia Lindo de Morrer e Canção Que Não Morre no Ar foram as mais comemoradas.




Tudo escuro de novo. China os chama, assim como previsto. Mesmo assim, a sensação é de surpresa quando o Mombojó todinho sobe ao palco, cada qual com seu instrumento e fazem a seqüência final que contou com Câncer e uma releitura bem densa de Você Não Serve Pra Mim do Roberto Carlos que foi engolida por um final alucinante da banda descendo o cacete do hardcore.

 

Já tinha garantido a minha noite linda de morrer. O China já tinha garantido a sua noite linda de morrer.  Estávamos ambos reconfortados por amigos da melhor estirpe, no Studio SP, envolto de maus elementos que respiram música. Melhor, impossível.



(Fotos gentilmente cedidas por Gian Lucca)

3 Comentários:

Blogger Alícia Melo disse...

vcs dois super me matando de inveja. =~
=*

17 de setembro de 2008 às 05:07  
Blogger oseguinte disse...

né, alícia?

17 de setembro de 2008 às 23:21  
Blogger Didi Blanco disse...

nossa, devia estar cheio mesmo... e pensar que no show de lançamento do simulacro no antigo studio sp só tinha eu, a ju e os caras do mombojó na platéia. hahahaha

18 de setembro de 2008 às 11:01  

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