Se José Saramago escrevesse um livro baseado nos fatos que ocorreram nos últimos dias, ele provavelmente começaria assim: E naquele dia, nenhum cd foi vendido.
Divagação literária à parte, foi praticamente o que aconteceu. A guerra foi declarada na época em que o Napster começou a machucar o calcanhar das majors. Músicas começaram a ser compartilhadas a torto e a direito e daí por diante, o estado de sítio foi instalado. De um lado, as grandes gravadoras comandadas por obesos de ternos caros, charutos na boca e acompanhados de suas esposas a la Mariah Carey. Do outro lado da trincheira, artistas dependentes e independentes que queriam liberdade criativa, liberdade de escolha, liberdade pessoal e profissional. E o desenrolar da história todos conhecemos: Kazaa, P2P, E-Mule, SoulSeek, Torrent, Youtube, queda vertiginosa nas vendas de cds, pirataria, desaparecimento de uma leva de artistas que eram dependentes demais (boys band e outros), MTV deixando o videoclipe em segundo plano na sua grade de programação, bandas encerrando atividades e parcerias com as grandes gravadoras ao criar, produzir e distribuir suas músicas por conta própria, o fim do cd, mp3, mp4, Ipod, Arctic Monkeys, Ufa!!!
Até o começo de outubro de 2007, a musica dominou o mundo digital e fuzilou gravadoras, fazendo-as sangrar em notas e moedas. E como em toda guerra, o inimigo nunca é perdoado, o tiro de misericórdia foi dado quando uma das bandas mais respeitadas do mundo resolveu vender seu mais recente trabalho de duas maneiras: 1 - o cliente compraria previamente o álbum duplo mais um vinil por um valor equivalente a um valor aproximado de R$150,00 para receber tudo em dezembro; 2 - o interessado entraria no site da banda e compraria as músicas de forma digital, para recebê-las em mp3 no dia 10 de outubro, assim mesmo pela Internet. O preço? Quanto você quiser. Sim, se quiser pagar. Se não quiser, coloca aí no lugar do valor o número zero. Sim, você também vai receber as músicas.
Obviamente, o site congestionou até travar. Obviamente, a mente dos ex-poderosos das ex-grandes gravadoras fritaram até travar. Obviamente, a música e a sua forma de distribuição nunca mais serão as mesmas. Obviamente, o público ganha e perde com isso (ganha no sentido de se abrir cada vez mais o leque de bandas e artistas pra se conhecer e perde por que a cada dia o tangível da música vai desaparecendo). Obviamente, a banda que causou todo esse alvoroço atestou sua genialidade no golpe final contra a indústria fonográfica e na música, nos presenteando com um ótimo álbum que, com certeza marcará a história musical para todo o sempre.
Senhoras e senhores, é com muita honra e prazer que lhes apresento, Radiohead em In Rainbows.
[por Jader Pires]
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Meu arco-íris são pixels
O que direi abaixo, passa a quarteirões de ser alguma análise técnica. Não sou bem um músico [como os outros daqui devem ser], nem tenho muito saco de dissecar letras e entrelinhas de sentidos [importantes, mas...], sou muito mais orgânico pra descrever algum sentimento ao toque invertebrado de melodias. E é disto que mais me alimento quando ouço e re-ouço "In Rainbows" nesses dias [principalmente nesses dias em que tudo conspira para ele].
Se ainda há alguém com dúvidas ou que simplesmente negue que Radiohead é a maior banda dos últimos tempos e a mais influente entre o Mar Vermelho do rock [como eu vi em algumas declarações em matérias comemorativas dos 10 anos de Ok Computer], se mate! Ver seu último trabalho publicado de forma tão corajosa, inovadora e reflexiva [quanto eu valho para seus sentimentos?], para ainda de quebra tomar listas de discussão, blogs e o escambal, onde segundos depois do lançamento no dia 10/10, centenas de pessoas se agregavam para debater cada centímetro das música e descrever sua experiência com o álbum, tudo isso e um pouco mais, já tornam Radiohead uma das coisas únicas que [graças] perduram no cenário musical.
E ouvir "In Rainbows"... bem, desde mui tempo a banda não criava algo tão redondo, construindo um sentimento de continuidade entras as faixas, algo explícito em Ok Computer mas que ficou confuso de ser percebido depois de Kid A. Algumas das músicas já são velhas conhecidas de apresentações, a exemplo de Nude, que se conjugaram com outras inéditas de uma forma natural e correta, evitando que uma ou outra música sejam saltadas pela estranheza do primeiro toque.
Correr pelas faixas deste álbum pode ser algo decepcionante para uns que esperavam algo mais "genial/inovador", elas [as músicas] são como engrenagens integrantes de uma máquina simples, que conjuga um trabalho coeso e maravilhoso para aqueles que esperavam apenas ouvir e mergulhar num ambiente tortuoso de emoções das músicas do Radiohead. O piano agonizante [Videotape], a guitarra estridente [Bodsnatchers], a bateria meio jazz eletrônica [Reckoner], o coro de vozes suplicantes [Nude], a música que lhe dá vontade de berrar [Jigsaw Falling into Place] e o sentimento de se estar inconformado com a vida pessoal [seja consigo e com outros através dos relacionamentos], está tudo casado, todo aquele estilo que faz do Radiohead a banda que ela é e montou no decorrer de sua carreira.
Este é um álbum que como poucos merece ser visitado mais de trinta vezes [todos da banda merecem isto, mas este em especial], de abraçar cada filigrana para enfim perceber que não importa mais pensar que a banda vai fazer algo parecido ao The Bends, Ok Computer ou Kid A novamente, nem tentar revolucionar as coisas. Este é, como os dois clássicos da banda, um trabalho pessoal para quem ouve, que conversa aos ouvidos para lhe fazer pensar e então fazê-lo perceber que o chão vai mais abaixo que os pés, cobrindo-lhe até os ombros com aquela atmosfera linda e melancólica para depois se sentir vivo e renovado. E só agora, depois de ouvir trocentas vezes [e até levar uma multa de velocidade por desatenção ao ouvi-lo no carro] percebo que não haveria melhor título para este trabalho da banda, numa visão íntima, que se desmembra em vários caminhos e cores.
O que você consegue avistar entre o arco-íris de pixels?
[Texto por Dario Mesquita]
6 Comentários:
O engraçado é que o Radiohead só liberou de "graCa" as músicas já "velhas" e as novasd de verdade tem que pagar...que revolução!
E veja aí abaixo como a industria musical ta tremendo de medo da Internet e dos mp3.
Os aumentos:
Shows e merchandise: alta de +4%
Faixas digitais: alta de +46%
Ringtones: alta de +86% no ano passado, mas, provavelmente, de apenas um dígito em 2007
Licenciamento para comerciais, TV, filmes e videogames: alta (Warner Music viu seu licenciamento aumentar cerca de US$20 million em 2006)
Singles em vinil: venderam mais do que o dobro no Reino Unido
E, se o iPod for considerado parte da indústria da música, como Anderson argumenta que deveria ser, a alta já é de +31% neste ano
Só a venda de CDs caiu (-18%).
O engraçado é que o Radiohead só liberou de "graça" as músicas já "velhas" e as novas de verdade tem que pagar...que revolução!
E veja aí abaixo como a indústria musical ta tremendo de medo da Internet e dos mp3.
Os aumentos:
Shows e merchandise: alta de +4%
Faixas digitais: alta de +46%
Ringtones: alta de +86% no ano passado, mas, provavelmente, de apenas um dígito em 2007
Licenciamento para comerciais, TV, filmes e videogames: alta (Warner Music viu seu licenciamento aumentar cerca de US$20 million em 2006)
Singles em vinil: venderam mais do que o dobro no Reino Unido
E, se o iPod for considerado parte da indústria da música, como se argumenta que deveria ser, a alta já é de +31% neste ano
Só a venda de CDs caiu (-18%).
( cometário aí é o mesmo, só que com alguns erros)
Editorial:
somando a grana de todos esses aumentos não chega perto da grana q os cds rendiam nos bons tempos.
é o mesmo que perder o emprego de diretor de alguma empresa e começar a sustentar a família com bicos de contador.
grande evolução, hein!?
mas e um comentário muito bem feito, espero ver a coisa pegar fogo aqui.
Gostaria de dizer parabéns pelos textos e pelos comentários. Eu, como grande admirador do Radiohead era um daqueles citados no texto.
Esperava um disco cheio de inovações e variações ritmicas que vinham caracterizando a banda pelos últimos três discos. Me decepcionei. Porém, revo admitir que o disco é sim, genial, à sua maneira.
Ele trabalha as paisagens sonoras como só o Radiohead poderia fazer. Mas para mim, o Radiohead quebrou uma linha evolutiva que vinha seguindo nos últimos discos. O disco está redondinho, coeso, realmente, mas apenas como obra isolada. Como fruto de uma cadeia evolutiva da banda ele soa como algo que perdeu o caminho quando subia a escada no escuro. Um pequeno tropeço. Nada mais.
eu acho que essa foi uma das melhores resenhas que eu já li sobre esse "discoso" do radiohead.
o rainbows é lindo!!
=*
Alguém tem o vinil?
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