segunda-feira, 3 de março de 2008

O que é que o paulista tem (Parte I)
Por Jader Pires


“Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João.”





São Paulo pode ser facilmente denominada como “Pangéia Cultural”. Bares, baladas, inferninhos, raves, botecos, bibocas e moquifos se fundem com teatros, restaurantes, lojas, cinemas, parques e galerias se confundindo e se maquiando em ruas, avenidas, alamedas, esquinas, praças, viadutos, passarelas e favelas, tornando-se “Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba/ mais possível novo quilombo de Zumbi”. Tudo está em São Paulo e todos querem São Paulo, ou “São Pã” como diria o diretor de teatro Zé Celso e, dentro desse universo criativo em forma de cidade, com um pouquinho de esforço na tentativa de desenvolver um olhar mais peculiar, podemos encontrar pérolas musicais das mais atrativas. Farei questão de compartilhar algumas delas.



O Projeto Nave iniciou-se no ano de 1997 com a proposta de expandir os horizontes e conhecer novas capacidades sonoras. Partindo dessas mesmas necessidades, Aquilez (Voz, electribe, escaleta e programações), Gralha (Voz, trompete, flugelhorn e escaleta), B8 (Toca-discos e Samples), Marcopablo (Guitarra), Alex Dias (Baixo) e Flávio Lazzarin (Bateria) decidiram juntar forças e talentos para formar O projeto. E como denominar esse projeto urbano e experimental? – Nave. Todos os integrantes da Nave tinham outros projetos na época (muitos ainda os tem) e a idéia inicial era a de brincar e misturar sonoridades. A grande proposta da banda é de testar ao máximo, pois como disse Aquilez “em termos de música, tudo já foi feito”. A banda tem a filosofia de que “A vida é um sampler”, então os integrantes se juntam e cada um expõe o que tem de melhor em suas experiências musicais e vivência urbana.

Com a Nave montada, a banda pôde se enfiar em todo tipo de local alternativo para divulgar suas músicas, experimentar variações ao vivo, ganhar público (Venceram o festival Skol Rock de 1999) e espaço no cenário musical paulistano. Mas a nave precisava de uma peça fundamental para ganhar a propulsão necessária para vôos mais estáveis.
Gravaram em 2004 um cd homônimo e independente, disponibilizaram as músicas na Internet em formato mp3 no site oficial da banda (http://www.projetonave.com/) e o álbum físico só seria lançado em 2005. São 12 faixas que sintetizam toda a brincadeira paulistana de mistura de estilos, gêneros, estados, sabores, culturas e propostas, uma vez q as gravações são feitas mais ou menos nos moldes de gravações de jazz, ou seja, no improviso. Mercado Industrial já aquece qualquer turbina, com um início eletrônico que guia a audição para um baixo e trompete suaves que quase são engolidos pela voz do vocalista Aquilez e suas rimas em espanhol. A nave alça vôo na canção Fora Das Órbitas jogando metais e guitarras de surf music em cima de uma bateria frenética. Garrafa Vazia dita o ritmo convulso e nos trás um riff potente e um groove enlouquecedor. As letras são curtas, visuais e de uma precisão cirúrgica. Frases pequenas e repetidas, que martelam reflexões inerentes à vida urbana e ao caos criativo e desordenado da maior cidade do hemisfério sul. Urbanóides e Sapatos Voadores sintetizam bem essa idéia ao relatar, respectivamente, a idéia de cidade e todo o stress urbano (“autos, que são móveis / humanos, que são nóides”), ou então as paranóias e a solidão que destorcem a realidade (“Ele está a caminhar de sapatos voa-dores / na mão, linda flores”).



De São Paulo para o mundo e do mundo para São Paulo. Essa é a viagem do Projeto Nave, que preza pela liberdade criativa e pela criatividade que liberta, participando com isso tudo da música regional paulistana (e você pensava que Sampa não tinha uma música genuinamente regional, hein?!). Desapegados a estilos e modismos, a banda trilha um caminho frenético e cumpre bem a sua missão: desbravar novos territórios sonoros e romper as barreiras dos sentidos, misturando sonoridade e visualidade em letras urbanas e de forte impacto, que se completam com um instrumental frenético, pulsante e inovador. Um projeto formado de integrantes competentes que se tornaram engenheiros da nave que sobrevoa o underground coletando e projetando músicas pra se ouvir, dançar, pensar e sentir (tudo isso com muito, mas muito estilo). Então, nada melhor que aproveitar a ausência de limites dessa Nave e aproveitar de modo único toda a sensibilidade múltipla que a nova música pode nos oferecer. Nada melhor que cair na noite paulistana e se deparar com esse emaranhado musical que nos permite voar alto, nos libertando também das velhas amarras comercias.



Sobrevoe com os sons do Projeto Nave aqui!

5 Comentários:

Blogger Alícia Melo disse...

o 'aqui' não tem link. =~ mas no site tem tudo além de ser lindo. =D
e eu adorei o título. =)
=*

4 de março de 2008 às 04:52  
Blogger J. disse...

EDITORIAL

a ausência do link para o site do Projeto Nave já foi revista.

4 de março de 2008 às 11:48  
Blogger Carlos Lustosa Filho disse...

achei muito interessante, baixando já...

13 de março de 2008 às 10:00  
Anonymous Anônimo disse...

o "aqui" ainda cai no site

=/

23 de março de 2008 às 00:24  
Blogger haleimaabendroth disse...

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