domingo, 9 de março de 2008

O que é que o paulista tem (Parte II)
Por Jader Pires


"E quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende depressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso"




E é assim mesmo que começa o primeiro álbum da banda Pedra Branca. Um vento suave e curto (na canção chamada Feixe de Luz) conduzindo a atenção para uma batida viva, um coração pulsando música, pulsando vontade, pulsando diversidade, pulsando serenidade e acompanhado de gemidos singelos e bem marcados. Uma cítara aparece e vai ao encontro das tablas e de uma voz melodiosa que nasceu dos gemidos e se tornou letra que reverencia o fato único que seria ver, à meia-noite, o Sol Brilhante (que é o título da segunda canção).

O projeto da banda Pedra Branca iniciou-se em 2001, com Luciano Sallum e Aquiles Ghirelli (esse mesmo, um dos vocalistas do Projeto Nave). Composições, gravações, shows dentro e, posteriormente, fora do estado, a adição de João Ciriaco no projeto (além de diversas participações nos vários dhows da banda, como as de Daniel Puerto Rico incrementando a percussão, Ana Eliza com sopros, San tocando baixo e diversas apresentações de dança contemporânea quando se faz necessário), dentre outros fatores, resultaram no álbum de mesmo nome, Pedra Branca em 2004. Em 2006 gravaram o segundo álbum intitulado Feijoada Polifônica e emprestaram alguns de seus sons para coletâneas de lounge e world music.



As músicas em sí de ambos os álbuns da banda resumem-se a enormes viagens com destinos indefinidos e trajetos diversos, dependendo do estado de espírito e da disponibilidade a abrir outros ouvidos no corpo e absorver cada instrumento, cada efeito eletrônico, cada voz que, com ou sem propósito de ter uma letra, tem um poder muito grande de prender a atenção.

E mais do que uma banda, a Pedra Branca é um produto. Produto industrializado na capital dos negócios, dos homens engravatados, do trânsito, da confusão de pessoas e de veículos públicos, de passeio, de carga, de trabalho, de sons que transtornam e tomam de assalto nossa paciência. A Pedra Branca é um produto necessário pra acelerar a fuga da realidade caótica e pra aliviar a agonia de um dia-a-dia em São Paulo. Não por estratégia, a Pedra não é um produto tangível com estampas e rótulos nas prateleiras. É um produto do meio, uma forma encontrada pela própria cidade para manter o equilíbrio e sustentar sua longevidade. Os músicos da Pedra Branca são instrumentos que usam instrumentos que usam o ar pra se propagar, deslizando por ondas calmas e bem definidas.



Junta o Oriente e o Ocidente numa brincadeira cheia de graça e textura. Mistura as batidas eletrônicas mais atuais com a hipnose da cítara e o zunido milenar do didjeridu aborígine, invocando novos e velhos espíritos a conhecer ainda as tablas tão fáceis de se identificar, todas as percussões que enchem o espaço e enriquecem cada faixa com nomes também bem convidativos, como Encontro Encantado, Kama Sutra (ambos do primeiro álbum), Metamusica e Território Ancestral (que compõem o segundo cd).

Uma visão tranqüila sobre uma banda que esbanja qualidade e criatividade. A experiência de ouvir e, mais ainda, entender a proposta das músicas é como a sensação de ver algo rotineiro, mas com outros olhos. Entender a mensagem da Pedra Branca é como redescobrir São Paulo, encontrar beleza nessa cidade e, ao olhar para alguma avenida ou reflexo das árvores nas janelas espelhadas dos prédios colados, soltar um sorriso sem perceber.




Sorria com os sons do Pedra Branca aqui!

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Adoro Pedra Branca... Conheci há pouco tempo e a música é de uma leveza envolvente que nos faz trocar de órbita... Acho que vale a pena divulgar aqui o Myspace dos caras, (myspace.com/pedrabranca) onde tem muitas informações de apresentações, sons, história e blas... Ahhh São Paulo.. :)

21 de março de 2008 às 21:09  

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