segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A satisfação de uma curiosidade antiga

Elvis Costello nunca foi exatamente o tipo de artista que sempre figurou na minha discografia básica. Havia uma curiosidade distante desde a inserção do artista no clássico [ao menos para mim] Austin Powers: The Spy Who Shagged Me, mas nada além de uma curiosidade.



Eis que o tempo cuida de provocar certos incidentes maravilhosos e numa noite qualquer de junho o amigo Rodrigo Mesquita deixa a dica: "o novo do Elvis Costello tá muito bom". Deixei aquilo na cabeça, mas tão assoberbado de trabalho estava que ficou só na cabeça mesmo e nunca passou para o SLSK ou coisa que o valha. Até que um dia, esperando o início de um show de amigos meus, fui dar uma banda pela FNAC e no meio da seção de CDs se destacou a capinha roxa com o nome de Costello em laranja. Momofuku, disco cujo nome homenageia o inventor do macarrão instantâneo Ando Momofuku e o espírito em que o disco foi gravado, esperava pela minha audição, quieto e passivo.



Selecionei o tal disco no seletor da loja de departamentos e No Hiding Place invadiu o péssimo fone de ouvido. E mesmo com a qualidade duvidosa daquele som que chegava aos meus ouvidos, sabia que estava diante de uma obra singular do cantor e compositor inglês. Mesmo com a presença constante de baladas de qualidade, o forte de Momofuku são bons rocks, com riffs espertos e arranjos criativos e dançantes. Sim, por que não se dança só músicas incrivelmente animadas. O meio termo também é convidativo e o The Imposters, banda que acompanha Elvis Costello, soube executar isso com maestria.

O trio que abre o disco tem uma beleza singular. Me interesso muito pelas músicas que abrem discos, geralmente são elas que trazem uma mensagem escancarada, são elas que traduzem a cabeça do artista dentro daquela produção. E No Hiding Place já abre o jogo, dizendo que pagou seus pecados imortais, que conhece o inimigo que um interlocutor traz consigo e que não há esconderijos. Não, realmente não há esconderijos para nada, seja você fiel a um deus ou ateu. É algo que se precisa aprender a lidar: um problema não some só por que você fechou os olhos.



A segunda canção, American Gangster Time, com um arranjo de piano simples e gracioso capaz de deixar qualquer 5º beatle com inveja fala do mundo da máfia americana, seus excessos e extravagâncias. Tudo com um toque de bom humor e ironia. Turpentine, no entanto, é ácida, longa e "sombria", com aspas para determinar a dificuldade em precisar os limites deste sombrio. Trata sobre passado, acidentes com química e outras experiências ruins. Uma tríade poderosa para abrir um disco.

Então temos a primeira balada, Harry Worth, apresentando um atestado de "memento mori" para um casal que aparentemente não está se dando bem. Destaque para os arranjos das faixas seguintes. Flutter and Wow, Stella Hurt [com seu piano nervoso marcando o baixo e falando da minha mulher preferida, toda e qualquer Stella...], Mr. Feathers conta uma história com voz, piano e bateria.

My Three Sons é o momento corujice do disco, em que Costello declara sua completa paixão pelos três filhos, dois deles com a pianista e cantora Diana Krall, com quem é casado desde 2003. Song with Rose e Pardon Me Madam, My Name Is Eve são músicas um tanto menores dentro do disco, mas que mantém o esmero de Elvis nos arranjos de sua obra. Por sua vez, para fechar o disco, nada mais apropriado que o ótimo e suave rock de Go Away.



Momofuku é uma obra justa, sem grandes supresas, mas que mantém acessa a chama dos álbuns como amostra de um artista. Se lançado apenas como diversos singles, online e sem a formatação de obra fechada, talvez o álbum fosse um estrondoso sucesso, indo além do modesto 59º lugar da Billboard. Ainda assim, Momofuku vale o download, a audição carinhosa e o suspiro de satisfação.




Você pode baixar este disco aqui.

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