quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Back to the future (ou Pai Mei tupiniquim).
Por Jader Pires




Todos conhecem (ou deveriam conhecer) a carreira do diretor de cinema Quentin Tarantino. Rato de locadora, roteirista do filme Assassinos Por Natureza e criador maior dos já clássicos Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Kill Bill (Vol. I e II).

Reza a lenda que todas as obras do Tarantino tem conexões bizarras umas com as outras, ligando personagens e fatos numa grande trama que atravessa suas películas (entenda melhor o fato conferindo o vídeo Tarantino’s Mind, estrelado pelos ótimos Selton Mello e Seu Jorge). O que se sabe realmente é que Tarantino nada mais faz do que usar sua enorme bagagem de quem trabalhou em uma locadora quando jovem e devorou a seção de filmes B para criar obras recheadas de homenagens a essas peças raras. Seus trabalhos são compilados de cenas que ele sempre adorou.

No Brasil nós temos o Kassin. Nerd por natureza, muito mais introspectivo que Tarantino, mas igualmente brilhante. Produtor de nada mais, nada menos que Vanessa da Matta, Los Hermanos e Orquestra Imperial, Kassin também resolveu encarar outro projeto ambicioso: o +2.

Ao lado de Moreno Veloso (filho do Caetano) e de Domenico Lancelotti (que também toca na Orquestra Imperial, entre outros projetos), o projeto +2 consiste em formar um trio para gravar músicas. Mais ou menos assim:

Em 2001, lançaram o álbum Máquina de Escrever Música, com o nome de Moreno +2, em que o líder do projeto era justamente Moreno. Já em 2003, foi a vez de Domenico encabeçar a coisa com o Domenico +2, lançando o álbum Sincerely Hot.

Como é de se esperar, em 2006 Kassin fica à frente do projeto e lança o álbum Futurismo usando seu selo (Ping Pong Discos). Tava formado o Kassin +2.



O álbum que consegui para escutar foi uma versão nipônica com 20 faixas (a versão nacional possui apenas 14). Os arranjos têm um cuidado especial e faz com que cada vez que se ouve, descubra novos instrumentos, novos detalhes em cada música. Os estilos também são bem variados passando pelo samba, rock, levadas latinas, e com lembranças de várias bandas como na música de abertura, O Seu Lugar, que tem uma pegada bem de Orquestra Imperial, soando como trilha de gafieira, assim como a canção Tranqüilo, que embalaria tranqüilamente um salão de baile. Conseguimos perceber um estilo bem Paralamas do Sucesso na faixa Água, uma bateria bem Planet Hemp em Ponto Final, Los Hermanos incrustados na belíssima Pra Lembrar e em Antes da Chuva que termina com aquele barulhinho gostoso das gotas entrando em contato com alguma superfície qualquer.

Momentos difíceis de digerir também ocorrem nas faixas Astronauta e Sal do Pedro Sá, onde o peso de uma e a forma desafinada da outra soam como provocação ou pura ironia, assim como Tarantino também gosta de fazer em seus filmes. Até Queens Of The Stone Age aparece como influência (direta ou não) no álbum, com três faixas que funcionam como vinhetas de uma rádio japonesa (No álbum Songs For The Deaf de 2002, que contou com a participação de Dave Grohl nas baquetas, a banda também inseriu vinhetas de rádios no final e começo de algumas músicas).




O fato é que, ouvindo o álbum, percebe-se claramente os bons ares de tudo que Kassin conhece e participa. Um álbum gravado com instrumentos, músicos e ritmos diversos, arranjos brincando entre o clássico, o nostálgico e como não haveria de faltar, o futurismo. Assim mesmo, tudo junto e misturado, adicionando letras com propósitos difusos e inquietos. Enquanto Tarantino utiliza tudo que admira, Kassin se apropria de coisas que ele mesmo ajudou a criar. Kassin usa o Futurismo para homenagear a si mesmo, ou melhor, sua música. Na verdade ele não faz homenagens, mas apenas usa a despretensão para criar uma obra gostosa e sincera. É Kassin até o osso e armação de óculos!

4 Comentários:

Blogger leideia disse...

bacaníssimo,agora estou querndo ouvir...
bj

26 de novembro de 2007 às 15:59  
Anonymous Anônimo disse...

Despretensão calculada, futurismo retrogrado, ironia sem graça, "bossa" pra gringo ver. Assim é esse projeto +2 em todas as suas facetas. Se esse é o futuro da música brasileira, como afirmam alguns críticos, estamos indo de mau a pior. Até pq,como sugere o texto, qual a vantagem mesmo de ser produtor da Vanessa Da Mata??!

26 de novembro de 2007 às 23:17  
Blogger Jader Pires disse...

Editoral.

qual a vantagem mesmo de ser produtor da Vanessa Da Mata??!

Resposta: ganhar dinheiro, amigo(a). ganhar dinheiro...

26 de novembro de 2007 às 23:32  
Blogger Curiosa disse...

respondendo...a questão de transitar com o eu e "Alice", foi pra causar mais impacto na hora de reforçar alguma afirmação, mas sei que mesmo se quisesse me esconder do "eu" não daria, todos saberião que era eu mesma, rsrs. Mas vou mudar, sempre na primeira pessoa agora!!!

27 de novembro de 2007 às 10:45  

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