quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A volta dos que ainda não foram

Finalmente sai da toca uma das primeiras crias da onda revival rock no início da década de 2000 [lembra? Vines, White Stripes, Strokes e cia]. The Hives enfim lançou no último outubro o álbum "The Black and White Album", depois de uns três anos escondidos e um trabalho meio ofuscado pelos sucessos anteriores - "Tyrannosauraus Hives" (2004), que é considerado o sucessor sonoro do segundo álbum deles, "Veni Vidi Vicious" (2000), clássico do garage rock.

Mas antes de ir direto pro novo trabalho, uma retrospectiva vem a calhar para entender melhor onde "The Black and White Album" se encaixa na carreira da banda, e porque ele é importante para o The Hives, mesmo correndo o risco de não agradar seus fãs.




Já bem calejados dos instrumentos, a banda sueca teve seu princípio em 1993, ainda na adolescência dos cinco integrantes devidamente rebatizados: Howlin' Pelle Almqvist (Per Almqvist) nos vocais, Nicholaus Arson (Niklas Almqvist) e Vigilante Carlstroem (Mikael Karlsson Åström) nas guitarras, Dr. Matt Destruction (Mattias Bernvall) no baixo e Chris Dangerous (Christian Grahn) na bateria. Jovens que, segundo diz a lenda, foram encorajados por um tal de Randy Fitzsimmons, produtor da banda e escritor de todas as músicas, mas que nunca foi visto vivo ou morto.

Há indícios que Randy seja mais uma figura alegórica da banda, que já tem todo aquele jeito de "boy-garage-band" uniformizada em dual-tone e músicas ligeiras bem despretensiosas. O que seria um personagem fictício criado pelo vocalista, que sendo verdadeiro ou não, levou a banda pro caminho certo no lançamento do primeiro álbum em 1997, "Barely Legal", grande sucesso na época no país de origem do grupo [Suécia].




Daí só foi cair direto no colo da indústria musical e na graça do grande público com o arrebatador "Veni Vidi Vicious", lançado na Europa em 2000 e relançado dois anos depois nos Estados Unidos, recheado de hits instantâneos como "Hate to Say I Told You So" e "Die, All Right!". Veio "Tyrannosauraus Hives" em 2004 e a fórmula da banda se manteve, som curto e grosso, voz gritada em refrões grudentos, ótimos riffs num ritmo dançante e bem humorada.

Chega agora "The Black and White Álbum" e o tom preto e branco da banda fica um tanto diferente, ou completamente distinto para certos ouvidos. A irreverência ainda continua, o que é bem explícito logo no título, uma referência de duas mãos: às roupas da banda e aos álbuns "White Album", dos Beatles, e "Black Album", do Metálica. Instrumentalmente, piano, sintetizadores sessentistas, batidas eletrônicas, gritinhos femininos e ritmos adversos podem fazer caretas nos fãs mais fervorosos do som tradicional do punk-garage.

O resultado disso é meio estranho, algo contraditório, contrastante, como já alerta o título do trabalho. O resultado chega a ser ruim na primeira audição, mas até que funciona muito bem se vermos um lado positivo.

Na maturidade e na coragem do grupo, The Hives deve ter se visto na obrigação de mexer um pouco no seu som, que já não tem nada de novo desde sua origem. E foi tanta vontade de mexer assim, que convocaram até o produtor Pharrell Williams para trabalhar em algumas faixas. Pharrell é bem mais reconhecido por suas parcerias no cenário hip-hop americano [Grewn Stefani, Snoopy Dog] do que trabalhar com rock [ainda mais numa potência próxima do punk], mas que tem meu sincero respeito por cantar melhor que muita gente que ele próprio produz e manter uma ótima banda de rock-funk-soul music chamada N.E.R.D.

E se quer sentir esse desejo de mudança logo de cara, pule todas as faixas do CD [me sinto um dinossauro falando em "CD"] e vá logo ouvir T.H.E.H.I.V.E.S. Não pode ser um ótimo começo, mas esta é a música mais "explícita" de "The Black..." [mas não espere coisa boa]. Uma quase disco-music-sei-lá-o-que é cantada por um Per Almqvist de voz fina e enfeitada pela imaginação do ouvindo que quase enxerga todos os integrantes da banda dançando naquele ritmo. Uma piada musical, completamente.

Pegando o mote de T.H.E.H.I.V.E.S., o nome da música em si já é outra referência do álbum. Percebe alguma semelhança com o nome da banda de Pharrell [N.E.R.D.], que produziu a faixa?

Outras pontas nesse sentido ainda podem ser percebidas. "Well Allright!" me lembra em certos momentos um Nick Cave fundindo melancolia com um blues "pra cima", gritado. "Bigger Hole to Fill" e "It Won´t Be Long" tem aquele vocal imortal de Joey Ramone, regado por um refrão característico do The Hives. "You Dress Up for Armageddon" tem aquele pancada sutil do The Clash.

Há até um instrumental sem guitarras! Bateria eletrônica e um piano sintetizado dão o compasso de "A Stroll Through Hive Manor Corridors". O resultado até agrada os desavisados [alguns, perdão].

Se tudo acima lhe assusta, se contente muito bem com "Tick Tick Boom" [já ovacionado como um dos melhores hits do ano], "Hey Little World" e "You Got It All... Wrong". Não é em grande número, mas garantem ótimos minutos de musica punk em alto volume, manufaturados com a velha fórmula e com pouco tempero novo. E são ótimas pra dançar. 80% do álbum é quase todo feito para isso.




Num panorama, The Hives "brinca" de incorporar várias facetas, interpretando bandas e estilos diferentes de rock, algo bem afeito ao seu espírito teatralizado que forma a imagem deles como uma banda de rock. Não agrada como um todo, acerta longe diante dos seus outros trabalhos. Porém, ao menos sabemos que, de agora em diante, podemos esperar mais coisas que apenas riffs, refrões gritados de forma desajeitada e punk dançante. Mas ainda assim não é possível levá-los a sério. O que é ótimo, afinal, eles perderiam a graça e tudo iria pro saco.

[Texto por Dario Mesquita]

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Honestamente, ouço Hives desde Barely Legal (um presente de minha amada mamãe) e nunca vi lá grandes coisas na banda. Sinto falta de uma dose a mais de personalidade, como os conterrâneos Cardigans tem de sobra...

8 de novembro de 2007 às 11:45  
Blogger J. disse...

concordo com o caro amigo Artur, embora haja dois lados [de início] na música: a personalidade e a diversão.

o que eles não tem de personalidade, de novidade, tem de diversão. me divirto muito com o som deles, no entanto, esse disco, está mais fraco nesse aspecto em relação aos outros.

enfim, um salto no escuro. espero que caiam em solo firme. :D

8 de novembro de 2007 às 11:59  
Anonymous Anônimo disse...

pois eh. mas isso pode ate ser justificavel jah que grande parte da imagem deles eh fake. Cara, eles sao uma boy-band punk xD - cinco garotos que se juntam na adolescencia guiados por um produtor. desde o produtor, que escreve as musicas, até a ultima nota das musicas. de tudo um pouco eles sempre puxam de outras bandas [ainda mais stooges, mas so algumas coisas!]. ao menos eles sabem reciclar muito bem, e deixam fazer tudo parecer uma brincadeira até hoje. Oq eh bom, quando tem banda por ai que faz um som meia boca e se acha a banda que se socou no cu de alguem.

8 de novembro de 2007 às 12:27  
Blogger .:. Jenny Montez .:. disse...

dexa eu falar
odeio essas bandas acabou-voltou-acabou-voltou
querendo conseguir publicidade.

ótimo blog!

www.missmontez.blogspot.com

10 de novembro de 2007 às 15:38  

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