Depois da queda, o coice?
Na vida, há certas coisas que só se aprende a fazer da segunda vez. Geralmente o sexo é assim, xingar também, cuspir, e muitas outras coisas viscerais que estão intrinsecamente ligadas a instintos, sejam eles primitivos ou não [tirando o fato de que eles são, em sua sufocadora maioria, primitivos].
Assim é também com a música. Lembro do Renato Russo falando num manifesto que ele lançou junto com a galera de Brasília à época de um festival com as bandas de lá. Aborto Elétrico, Plebe Rude, XXX, e outras... bom, o Renato disse que o rock é música da África, 4x4, instintiva. Pois é.
Existe aquela lorota no rock/música no geral, de que o segundo disco é o disco de afirmação, de mostrar que não era só um hypezinho nojento nem nada. Engraçado é ver que o Gram, com o seu ‘Seu minuto Meu Segundo’, provou a mim que eles foram mesmo um hype que deu certo. Saindo de um primeiro disco fraco [de 2004], conhecido como ‘disco do pato’ por conta da capa, o Gram tinha a cara-de-pau de colocar os grandes hits do disco logo na cara do ouvinte [coisa que eu abomino como ouvinte, como músico, como tudo... é estratégia de gravadora e cara-de-pau do artista].
Nesse segundo tiro, lançado agora em setembro de 2006, a coisa já é diferente. O disco, ainda lançado pela Deck Disk, parece mais verdadeiro, mais vivo, mais gentil, mais interessante, na verdade. Embora muita gente tenha ressalvas quanto ao Gram, e eu mesmo as tinha, é incrível como o gosto deles melhorou. Os timbres estão mais interessantes, as letras [embora existam deslizes] estão menos melosas, atingindo um padrão interessante, uma regularidade saudável de boas frases e boas tiradas, os arranjos têm soluções interessantes [minha única ressalva é justamente a música que parece ter dado nome ao disco, a última faixa, que lembra muito electro-rock-pop-punk tão em voga e na moda].
Engraçado notar também que esse segundo disco do Gram parece mais sincero, e assim, feito por instinto, ou com os instintos mais primitivos à flor da pele. Cada música parece ser mais sincera, madura e menos apelativa que no outro disco. Não há gatinhos aqui. Claro que há algumas aloprações, principalmente quanto às letras, como em Lupado. Mas vamos por partes.
O disco abre com ‘O rei do Sol’, que tem um arranjo simples, um baixo muito bem executado e abre um perfil dentro desse disco do Gram: muitos dedilhados de guitarra e violão. Sim, as canções estão mais leves, e o melhor... elas já começam a se distanciar [com passos largos] da sombra do Los Hermanos que todo mundo insiste em jogar em cima de toda banda que quer fazer uma coisa mais diferente.
Daí chegamos a ‘Você tem’. “Você tem/O que eu sempre quis/Você sabe o que quer/Também sabe o que tem/Ou pode ter quem quiser/Você passou e riu/Me faz pensar que sim/Sempre quero alguém/Que jamais olhou pra mim” é a simples maneira de tratar as paixões adolescentes [e a maioria das paixões, sejamos sinceros]. Começa com a identificação de um perfil, um encaixe de preferências, uma suposição apaixonada [claro...] e a desilusão fudida. Sim, por que o que mais acontece é um tipo de desilusão clássica originada unicamente pela fantasia que a paixão nos leva a atingir. E ai a gente se lasca.
‘Antes do fim’ é o tipo de composição que fala sem dizer muito. O conjunto de estrofes jogadas quase que aleatoriamente constituem um caleidoscópio idiossincrático, formatando, assim, várias identificações a cada frase.
A quarta canção do disco, ‘Parte de Mim’, é uma das mais belas, que fala mais, por que é complicado acreditar que uma coisa possa ir do “Fomos tanto/Que sempre tinha gente aqui/Pra ver de perto/O que alguém chamou de amor”, para o “E nos dias/Nas datas pra comemorar/A gente não jurava mais nada/E só bebia pra esquecer/O que era lindo se foi/Agora é normal e chato, um tédio”. Mas no fim das contas a gente sabe que é possível. Não sabe? Sabe sim.
Talvez a resposta para o que se configura em “Parte de Mim” seja “Melhor Assim” [formando a tríade do IM]. O cara que foi esculachado na música passada esculacha a moça nessa. Não quer mais pedir permissão para respirar, não quer ir pra festa dela, nem liga, não está nem aí, sabe que ela escolhe as coisas para anulá-lo de forma quase covarde. É um bom tapa na orelha. “Você engole só o que lhe convém/Pra cuspir sua vida em mim”. E ele não quer isso nem um pouco. E dá-lhe esculacho. Embora ainda role um interessezinho, eclipsado pela indiferença do outro lado.
O fim da tríade abre espaço para músicas um pouco mais experimentais, como ‘Vivo de Novo’, ‘Me trai comigo’ [uma ótima sacada para a letra], ‘Lupado’ [a da letra problemática/escalafobética] até chegar na ‘Em nome do Filho’, bela canção de amor, de um filho reconhecendo o pai. ‘Vale a pena’ tem o baixo mais bonito do disco, e a música é uma amostra de que os ‘hits’ estão pelo disco todo. Por fim, a mudança do diálogo vem para ‘Tem Cor’, com o pai querendo que o filho cresça, e convença. Por fim, a theklaxonsniana ‘Teu Minuto, Meu Segundo’, que mesmo com uma melodia chinfrim, convence pela letra e, principalmente, pelo refrão. “A vida é hoje/E é com ou sem você”. E sempre é.
Na vida, há certas coisas que só se aprende a fazer da segunda vez. Geralmente o sexo é assim, xingar também, cuspir, e muitas outras coisas viscerais que estão intrinsecamente ligadas a instintos, sejam eles primitivos ou não [tirando o fato de que eles são, em sua sufocadora maioria, primitivos].
Assim é também com a música. Lembro do Renato Russo falando num manifesto que ele lançou junto com a galera de Brasília à época de um festival com as bandas de lá. Aborto Elétrico, Plebe Rude, XXX, e outras... bom, o Renato disse que o rock é música da África, 4x4, instintiva. Pois é.
Existe aquela lorota no rock/música no geral, de que o segundo disco é o disco de afirmação, de mostrar que não era só um hypezinho nojento nem nada. Engraçado é ver que o Gram, com o seu ‘Seu minuto Meu Segundo’, provou a mim que eles foram mesmo um hype que deu certo. Saindo de um primeiro disco fraco [de 2004], conhecido como ‘disco do pato’ por conta da capa, o Gram tinha a cara-de-pau de colocar os grandes hits do disco logo na cara do ouvinte [coisa que eu abomino como ouvinte, como músico, como tudo... é estratégia de gravadora e cara-de-pau do artista].
Nesse segundo tiro, lançado agora em setembro de 2006, a coisa já é diferente. O disco, ainda lançado pela Deck Disk, parece mais verdadeiro, mais vivo, mais gentil, mais interessante, na verdade. Embora muita gente tenha ressalvas quanto ao Gram, e eu mesmo as tinha, é incrível como o gosto deles melhorou. Os timbres estão mais interessantes, as letras [embora existam deslizes] estão menos melosas, atingindo um padrão interessante, uma regularidade saudável de boas frases e boas tiradas, os arranjos têm soluções interessantes [minha única ressalva é justamente a música que parece ter dado nome ao disco, a última faixa, que lembra muito electro-rock-pop-punk tão em voga e na moda].
Engraçado notar também que esse segundo disco do Gram parece mais sincero, e assim, feito por instinto, ou com os instintos mais primitivos à flor da pele. Cada música parece ser mais sincera, madura e menos apelativa que no outro disco. Não há gatinhos aqui. Claro que há algumas aloprações, principalmente quanto às letras, como em Lupado. Mas vamos por partes.
O disco abre com ‘O rei do Sol’, que tem um arranjo simples, um baixo muito bem executado e abre um perfil dentro desse disco do Gram: muitos dedilhados de guitarra e violão. Sim, as canções estão mais leves, e o melhor... elas já começam a se distanciar [com passos largos] da sombra do Los Hermanos que todo mundo insiste em jogar em cima de toda banda que quer fazer uma coisa mais diferente.
Daí chegamos a ‘Você tem’. “Você tem/O que eu sempre quis/Você sabe o que quer/Também sabe o que tem/Ou pode ter quem quiser/Você passou e riu/Me faz pensar que sim/Sempre quero alguém/Que jamais olhou pra mim” é a simples maneira de tratar as paixões adolescentes [e a maioria das paixões, sejamos sinceros]. Começa com a identificação de um perfil, um encaixe de preferências, uma suposição apaixonada [claro...] e a desilusão fudida. Sim, por que o que mais acontece é um tipo de desilusão clássica originada unicamente pela fantasia que a paixão nos leva a atingir. E ai a gente se lasca.
‘Antes do fim’ é o tipo de composição que fala sem dizer muito. O conjunto de estrofes jogadas quase que aleatoriamente constituem um caleidoscópio idiossincrático, formatando, assim, várias identificações a cada frase.
A quarta canção do disco, ‘Parte de Mim’, é uma das mais belas, que fala mais, por que é complicado acreditar que uma coisa possa ir do “Fomos tanto/Que sempre tinha gente aqui/Pra ver de perto/O que alguém chamou de amor”, para o “E nos dias/Nas datas pra comemorar/A gente não jurava mais nada/E só bebia pra esquecer/O que era lindo se foi/Agora é normal e chato, um tédio”. Mas no fim das contas a gente sabe que é possível. Não sabe? Sabe sim.
Talvez a resposta para o que se configura em “Parte de Mim” seja “Melhor Assim” [formando a tríade do IM]. O cara que foi esculachado na música passada esculacha a moça nessa. Não quer mais pedir permissão para respirar, não quer ir pra festa dela, nem liga, não está nem aí, sabe que ela escolhe as coisas para anulá-lo de forma quase covarde. É um bom tapa na orelha. “Você engole só o que lhe convém/Pra cuspir sua vida em mim”. E ele não quer isso nem um pouco. E dá-lhe esculacho. Embora ainda role um interessezinho, eclipsado pela indiferença do outro lado.
O fim da tríade abre espaço para músicas um pouco mais experimentais, como ‘Vivo de Novo’, ‘Me trai comigo’ [uma ótima sacada para a letra], ‘Lupado’ [a da letra problemática/escalafobética] até chegar na ‘Em nome do Filho’, bela canção de amor, de um filho reconhecendo o pai. ‘Vale a pena’ tem o baixo mais bonito do disco, e a música é uma amostra de que os ‘hits’ estão pelo disco todo. Por fim, a mudança do diálogo vem para ‘Tem Cor’, com o pai querendo que o filho cresça, e convença. Por fim, a theklaxonsniana ‘Teu Minuto, Meu Segundo’, que mesmo com uma melodia chinfrim, convence pela letra e, principalmente, pelo refrão. “A vida é hoje/E é com ou sem você”. E sempre é.
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