terça-feira, 26 de junho de 2007

No pulo do gato


Parece peculiar achar que o passado pode alimentar e se alimentar do futuro. Pode até parecer interessante crer que o passado é base para o futuro, embora isso seja totalmente lógico.

Hoje, quando eu escuto de novo o “Revolver”, de 1966, daquela banda lá de Liverpool, fico pensando como ele deve ter feito a cabeça de muitos jovens, beatlemaníacos ou não.

Loucura somada a genialidade, ele preparou o terreno que foi limpo pelo Rubber Soul, sedimentando influencias, abrindo portas da imaginação, libertando composições. Indo do rock direto à canção de amor, passando pelo transcendental [palavra que perdeu o sentido que a preenchia com os anos], esse Revolver bem que poderia ser o primeiro disco que um novo roqueiro ganharia do tio chato que se viu na obrigação de dar um disco de rock pro guri.

Seria lindo demais abrir o pacote e ver o desenho da capa de autoria do artista de Hamburgo, Klaus Voorman. Eu gostaria de ter ganho esse disco de alguém, mesmo que fosse um tio chato. Não iria me importar.

Depois de ter passado alguns meses com o Rubber Soul em casa, lutando para que o cd fosse lido pelo som CCE, foi ótimo descobrir que aquela obra prima era descendente direta do mesmo fluxo de idéias que se uniram para criar “You won’t see me”, “Think for yourself”, “I’m looking through you”. Assim, as mesmas cabecinhas pensantes de antes pariram, um ano depois, esse disco, o Revolver.

Se antes, com o Rubber Soul, o choque foi quase anafilático, agora, com o disco apreendido da casa de um amigo, o momento era bem mais sublime, com direito a suspiros e paixões pela música eternamente. Só fiquei satisfeito depois de aprender a cantar “i’m only sleeping” e tocar “For no one” no violão.

Bom... vamos lá... Taxman é a primeira música de George Harrison que abre um disco dos Beatles. Mas isso não é um detalhe qualquer. Dentro da ditadura que a banda representava, dentro do duo Mac-Lennon, ter uma música abrindo um disco da banda é [ainda mais um disco como o Revolver] uma maravilha, coisa linda de deus.

Só que, definitivamente, esse não é um disco qualquer. Taxman é uma irônica tirada com as taxas de impostos que comiam os lucros dos Beatles [e que terminaram levando a banda para os EUA]. A seguir, Eleanor Rigby, uma das canções sobre solidão e pessoas solitárias mais espetaculares e espetacularmente soturnas que eu já tive o prazer de escutar.

Logo depois, a minha predileta, a que me traz mais bons cheiros de passado que influencia o futuro. “I’m only sleeping”. Por que em alguns momentos a gente está apenas dormindo. E se acorda de mal humor. Então é melhor ficar lá na cama, não é mesmo? Estirado? Ótimo. Pois me deixe, que eu estou apenas dormindo. Uma música que trata de um assunto relativamente banal, mas que é linda. Principalmente pelo solo de guitarra ao contrário. Foda!

A seguir, “Love you to”, mais uma do Harrison, dessa vez com direito a piração indiana, cítara e tabla e translação de texto indu. Curte? Pois aqui está uma música consagrada a isso.

Depois, “Here, There and Everywhere”, com sua poesia claramente inspirada em Beatles, daquele tipo de letra e melodia inconfundíveis. Linda canção, lindo arranjo, lindo tudo. Ai vem “Yellow Submarine”, com vocal de Ringo Star. E pra mim, só vale por isso. Não a acho divertida nem nada. Para mim, é a música dos Beatles que o Ringo canta. Vale?

Depois da viagem de “Yellow Submarine”, voltamos ao rumo anterior de boas músicas pops, com “She Said She Said”, de versos como “when i was a boy everything was right”...

Com 14 canções, o bloco final merece uma resenha só para ele. Good Day Sunshine é uma ode otimista e feliz. And Your Bird Can Sing Atente para Paul e George fazendo a 2ª voz. For No One Canção linda! Doctor Robert, mesmo com leve inspiração pelo mundo das drogas, é uma bela canção. Terceira canção de Harrison no disco, caso raro, I Want To Tell You, e principalmente, com vocal do próprio George!

Got To Get You Into My Life é uma ótima canção de amor. E Tomorrow Never Knows é uma boa canção para se ouvir bebendo. Ou bêbado.

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