É samba que vocês querem? Lá vai!
Por Jader Pires
Sim, ele estava lá.
Vestindo um terno marrom e com cabelo emaranhado, Rodrigo Amarante subiu ao palco às 22:10 do dia 23 à frente da Orquestra Imperial e abriu o show com a música O Mar e o Ar, do primeiro álbum do grupo intitulado Carnaval Só o Ano Que Vem.
Sim, eles estavam lá.
Órfãos da banda Los Hermanos compareceram em peso para matar saudades e ver (ou rever) o ruivo em ação. E ele assim o fez, mas não sozinho.
O show aconteceu num Citibank Hall lotado, porém morno. O público parece não ter entendido a proposta da banda de retomar os velhos bailes de gafieira recheados de casais dançando agarradinho, embalados pelo som contagiante dos metais e das percussões. Pessoas formavam um amontoado virado para o palco disfarçando passos falsos e pulinhos discretos afinal, as músicas não eram muito propícias para uma versão mais rock de curtir um show.
Mas no palco a coisa era bem diferente. Os 18 músicos subiram ao palco tranqüilos (na verdade a banda é formada por 19 músicos, mas Pedro Sá está no momento em turnê com Caetano Veloso) e iniciaram um baile que parecia fadado ao marasmo. Canções mornas começavam a dar o tom da festa, tom esse que mudou em pouco tempo.
Após algumas músicas, o show se transformou em uma grande festa, principalmente pelo ânimo da banda em cima do palco que estava completamente despreocupada com presença ou performance. Lá em cima a ordem era de diversão e descontração, o que surpreendeu devido à qualidade do som apresentado (por parte da banda, porque a casa falhou deixando as vozes baixas por um tempo e provocando algumas microfonias). Músicas como as divertidas Ereção, Supermercado do Amor e Yarusha Djaruba agitaram o salão e mostraram que o ótimo álbum Carnaval Só o Ano Que Vem caiu nas graças do público que nesse momento já se mostrava mais descontraído e determinado a sacolejar com a mesma alegria que imperava no palco.
Rodrigo Amarante ficou bom tempo como coadjuvante, ajudando na percussão e dando espaço para as musas da banda: Thalma de Freitas e Nina Becker. A presença feminina no palco deu o ar da graça com deslumbrantes vestidos dourados, danças sensuais e vozes muito talentosas. Os outros músicos da banda também não deixaram a desejar: Rubinho Jacobina, Domenico, Kassin (que também é o produtor do álbum) e o “mestre” Wilson das Neves deram conta do recado nas quase três horas de show. O palco fervia de empolgação e borbulhava de participações pra lá de especiais: A Orquestra Imperial trouxe ao palco nomes como Jorge Mautner e seu violino e também ótimo guitarrista Lanny Gordin, expoente da Tropicália que já gravou álbuns de Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Rita Lee.
Para o grupo de músicos consagrados, em carreiras-solo ou em grupo, a Orquestra Imperial começou como uma brincadeira e acabou virando coisa séria, para a felicidade tanto da banda quanto do público que pode desfrutar de momentos muito agradáveis ao som da trupe carioca. É colocar o chapéu na cabeça, lustrar os sapatos e aproveitar o que o gênero tem de melhor a oferecer: boa música, boas conversas e promessas de noites interessantes.