quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Sucesso a conta-gotas...
Por Jader Pires
Eu poderia encerrar a matéria aqui e só a foto já seria suficiente o bastante para prender a sua atenção por alguns minutos. Mas você realmente precisa saber mais sobre ela.




Maria do Céu tem 27 anos e uma timidez que encanta. Economiza palco em suas apresentações, mas esbanja maturidade na voz e na maneira de conduzir sua carreira. Morou em Nova York quando tinha 18 aninhos e já trabalhou como garçonete e com jingles (emprestou sua voz para comercias da Volkswagen, Pernambucanas, Fiat, Shopping Morumbi, Caipirinha 51). Lançou um álbum de maneira discreta e foi encontrando público aos poucos, sem se cansar.

Seu tom de voz é sensual e sereno. Sua maneira de cantar é delicada e incisiva, o que lembra outras cantoras da atualidade como Marisa Monte, Maria Rita, Vanessa da Mata e toda a leva de novas divas que bebem da fonte consagrada por Gal Costa. Mas as influências (diretas ou não) de Céu não param por aí. Sutilmente consegue-se perceber também aquela sensação gostosa do fraseado gracioso das grandes jazzistas. Aliás, a Mãe-África está presente em suas diversas modalidades espalhadas de diferentes formas aos quatro cantos, nos arranjos e melodias de suas canções. Sim, suas canções.

Das 15 músicas de seu álbum de estréia (CéU – 2005), a cantora é autora de 2 e co-autora de 10 canções que bailam entre a MPB e Afrobeat, brinca de ser eletrônica e tribal, numa mescla suave de velho e novo.




A música Vinheta Quebrante abre o disco invocando bons fluidos numa batucada delicada e vozes que guiam até a próxima faixa que desliza colada. Com batidas densas e um violão manso, mas consistente, Lenda é um alerta aos homens mais descuidados. Cantado de forma tentadora, ganhou espaço nas rádios. Malemolência é um chamado irrecusável para cair na dança da menina que sabe misturar seu jeito meigo com uma certa ousadia nas palavras cantadas. Certamente a dualidade é o grande segredo desse álbum. Roda, Ave Cruz e Concret Jungle (ótimo cover de Bob Marley) também são destaques nesse trabalho minucioso, delicado e surpreendente.

Além de ser indicada ao Grammy Latino do ano passado, Céu continua galgando degraus lá fora. A pequenina conseguiu um fato importante ao emplacar seu álbum de estréia no ranking Heatseekers da revista norte-americana "Billboard", que registra os discos e músicas mais vendidos nos Estados Unidos. A lista reúne artistas que são considerados revelações da música, com som inovador e promessa de sucesso. Céu conquistou o topo do ranking logo na semana de lançamento do disco nas lojas norte-americanas (recentemente o Álbum CéU foi lançado e vendido nas cafeterias Starbucks), enquanto aqui no Brasil, sua música vai ecoando de noite em noite, de amigo pra amigo, de blog em blog, e crescendo assim como seu talento na voz e nos palcos. Céu vai trilhando seu caminho aqui e ali de maneira carinhosa e tranqüila, sem a pressa peculiar paulistana, lugar onde nasceu e cresceu.




E nada melhor pra acabar essa prosa toda citando uma música de Jorge Ben que poderia sintetizar bem esse dengo todo:

A noite é linda e ela mais ainda
Todinha de rosa mais linda
Mais meiga que uma rosa
Oba, lá vem ela estou de olho nela
Oba, lá vem ela estou de olho nela
”...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Carne de Vaca (mas é filé)




Um jazz fácil de ouvir.

Fácil de ouvir? Jazz?

Pode parecer incoerente, mas é.

Talvez a frase acima passe a mensagem de que fácil significa simples. E é verdade. Diferente do jazz mais conhecido, aquele som cheio de notas tortas, esse álbum é quase um convite aos curiosos que querem começar a ouvir o estilo mas não conseguem entender nada.

Mas como assim? Não tem notas tortas? Então não é Jazz!

Calma lá rapaz. Esse é um autêntico Miles Davis em seu momento mais Cool já registrado.

Miles Davis entrou em cena no auge do Bebop, estilo predominante do jazz dos anos 40, tocando com Charlie Parker, e não demorou muito para que seguisse seus próprios passos. Foi desbravando territórios desconhecidos do jazz até o fim, com suas loucuras no cenário fusion nos anos 90.

Mas não pense que isso é pouco.

Em 1947 Miles, com apenas 20 anos, empatou com Dizzy Gillespie como trompetista número 1 na votação dos críticos da revista Down Beat, revista bem conceituada da época. Como se não bastasse, cara só foi o precursor de quase todas as fases do jazz.

Se foder.



Uma das escolas praticamente criadas por Miles nesse meio tempo foi o cool jazz. Talvez a mais importante para a disseminação do jazz, afinal de contas, Kind Of Blue é o álbum mais vendido do gênero, um álbum de cool jazz.

Essa escola surgiu de uma semente que o trompetista plantou em 49 com a gravação do álbum Birth Of The Cool, um abalo sísmico no mundo do Jazz que até então estava acostumado com o vigor do bebop ou, antes, com o Dixieland, Swing e com as bigbands da época. Birth Of The Cool trazia um jazz mais calmo, simples. Mas tava quase lá.

Em 1959, Miles gravou duas sessões ousadas de improviso com seu sexteto. Nascia o Kind Of Blue.

O resultado foi a imortalidade. Miles com sua criatividade e sutileza, cria, com pouquíssimas notas, um Jazz original, altamente sofisticado e maduro. Suas melodias são naturais e bem resolvidas. As harmonias são mais simples do que tudo que o Jazz já viu. Lembrem-se que, com exceção do tema da música, tudo é improvisado, sem ensaio.

Os demais músicos não deixam a desejar em momento algum. Um grupo de ases: cada um teve sua própria carreira sólida e inspiradíssima, com destaque para John Coltrane, hoje considerado um deus do Jazz.

Assim segue o álbum inteiro, boêmio e sofisticado.

E depois? Depois o Jazz não foi o mesmo. Kind of Blue é disco que influênciou a todos e determinou rumos da música. Esse é um daqueles álbuns dignos de toda essa lambança.

Os músicos de Jazz o chamam de Bíblia. Os críticos dizem que é o album que todo fã precisa ter. Pela primeira vez na posição de músico, crítico e fã, registro aqui minha homenagem a um álbum daquela listinha que abriu minha cabeça.

Miles Davis - Kind Of Blue

Miles Davis - Trompete
Julian "Cannonball" Adderley - Sax Alto (com exceção da #3)
John Coltrane - Sax Tenor
Wynton Kelly - Piano (#2)
Bill Evans - Piano (o resto)
Paul Chambers - Rabecão
Jimmy Cobb - Batera

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Da série: álbuns que carrego no MP3 Player.
[ou da sub-série: álbuns que eu daria um dedo pra ter feito]




Não é mentira, de jeito nenhum que não é. Ainda lembro quando peguei emprestado um bag de cds do guitarrista da minha banda e lá pelo meio tinha um disco do Lobão, o "Canções Dentro da Noite Escura", de 2005. Foi ouvir uma vez e nunca mais deixar de lado. Não, eu não ligo para o Acústico MTV que o artista lançou esse ano. Pode estar lindo, bacana, uma doçura. Mas o capeta mesmo está nesse disco aqui.

Lançado junto da revista do músico, a Outracoisa [essa história toda, Lobão deixa as gravadores, abre revista, vende discos na banca, se dá bem... você conhece, né?], o "Canções Dentro da Noite Escura" tem um peso, uma sonoridade e uma eficiência de provocar espasmos. Feita pelas mãos de Lobão, Carlos Trilha e Fernando Morello [também produtores do disco], e Pedro Garcia [ex-Planet Hemp], a bolachinha tem um encanto próprio e inegável.

Deus meu, que disco... que disco!!! Treze músicas bem arranjadas, bem produzidas, bem fodas!!!

Sim, eu deixei minha parcialidade de lado, por favor, entenda... Quando um disco abre com uma música chamada “Pra sempre essa noite”, que costura os melhores versos de poesia visual numa voz rasgada, mas calma, angustiante, e também libertadora, você não pode fazer nada a não ser se render...

Com uma guitarra abusada para ser também um violão de bossa, num arremedo de calmaria, com uma acelerada programação eletrônica, o álbum abre com um perfume incrivelmente inebriante. Como será a próxima porrada?

Não há nem descanso, minha gente, não há nem mesmo aquela pausa de 2 segundos para recuperar o fôlego. Com tudo emendado, o disco segue para “Seda”, letra de Cazuza que Lobão adaptou. Um blues poderoso, esperto, embora lento, mastigado, de arranjo impecável e letra embriagada e linda. Alguém me faça parar de elogiar esse disco, por favor...

Desgraça boa vem mesmo quando abre “Boa Noite, Ciderela”, feita em homenagem à Cássia Eller. Mais uma vez um jogo de palavras poderoso [cara, o Lobão deve ter melado a cueca fazendo esse disco...], e o melhor verso do disco [e da música popular brasileira durante um boníssimo tempo] está nesse meio: “O terror agora é uma carroça tirando chinfra de carruagem”. Blues apocalíptico [note como a bateria com efeito providencia a certeza de que o mundo vai acabar logo depois dessa música].

O segundo melhor verso da música popular brasileira durante um boníssimo tempo vem na música seguinte, “O homem-bomba (basta! É o caralho!)”: “E a calmaria na madrugada sibila doce feito o vôo da granada”! Caramba, numa música com temática explicitamente dedicada à guerra, mas com uma conotação possível de desbancar pro lado do conflito amoroso, não é possível ficar calado.


I got you!


Todas as outras músicas do disco intercalam beleza, poesia, peso, urgência, blues, música eletrônica, rock, confidências à meia voz, ou gritadas, berradas, eu só não consigo falar mais delas. Eu juro que tentei, mas esse álbum é uma experiência única. Ouça e tire suas conclusões.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O homem é bom, a sociedade o corrompe.
Por Jader Pires







E se o homem é bom, por que fugir dele? - Justin Timberlake é o putão da vez.

No VMA 2007 (premiação da MTV gringa realizada no último dia 9), o artista pop abocanhou 4 das 7 categorias que concorria: Quadruple Threat (Faz-Tudo) do ano, Artista Masculino, Melhor coreografia e Melhor direção, prêmios que acabaram sendo ofuscados pelo controverso show de uma Britney Spears pançudinha e do quebra-pau entre Kid Rock e Tommy Lee para ver quem ficaria com o seio esquerdo de Pamela Anderson (ex-mulher de ambos).

Condenado por um passado de excessos de mau gosto musical, o ex-N’sync perdeu o estigma de garoto sensível com dor-de-cotovelo e entra na reta final de 2007 consagrado como o atual rei do Pop. Lançou em 2002 seu primeiro álbum solo intitulado Justified que ainda deixava marcas daquele estilo de vida de culto ao cafona, mas que convenceu a todos que o garoto não estava mais pra brincadeira. Bons momentos como a música Rock Your Body (bem parecida com os dançantes sucessos da falecida banda Jamiroquai) e lembranças claras de Michael Jackson exalando por todas as faixas garantiram o lugar de Justin na crista da onda, mesmo com pequenos tropeços como Cry Me A River, canção supostamente composta para alfinetar sua ex-namorada, Britney (até então sem a pança) Spears.

E 2007 foi mesmo um ano cheio de conquistas para o jovem Timberlake. Viu seu último álbum (FutureSex/LoveSound – 2006) vender mais de 7 milhões de cópias e espalhar hits nas paradas mundiais a esmo, estreou como ator no filme Alpha Dog e recebeu ótimas criticas por sua atuação, recebeu diversos prêmios (recentemente, além dos prêmios da MTV americana, Justin levou o prêmio Emmy por uma paródia feita no programa de comédia Saturday Night Live. A música se chama Dick In A Box) e começa a engatar uma carreira de compositor para outros artistas (Justin também está compondo material para o próximo álbum da Madonna, previsto para 2008).




O álbum FutureSex/LoveSound foi o divisor real de águas para o cantor que investiu fundo em um novo visual e filosofia. A cara juvenil de antes deu lugar a um rosto com barba por fazer e ar de quem sabe o que faz e as roupas coloridas foram trocadas por um figurino mais “gangsta” dos anos 60. Mas a sonoridade do álbum também é outra.

Michael Jackson ainda permanece emanando como influência certa, mas a proposta não é a de assustar criancinhas, mas sim fazer jus ao nome do trabalho que já tem como cartão de visitas a música homônima. A letra pretensiosa fala de um cara que tem a mulher nas mãos (ou as mãos na mulher, não importando muito a ordem). Seguindo o fluxo, SexyBack é realmente uma promessa de trazer a sexualidade de volta e fez meninas mais desatentas se perguntarem “quem está cantando essa música?” – Sim, era o próprio.

Sexy Ladies, My Love, LoveStoned/I Think That She Knows Interlude e What Comes Around...Goes Around seguem com o mesmo ar sexy, como quem diz “calma garota, que eu sei bem o que você quer”. A produção do “Midas” da indústria pop Timberland contribuiu para o sucesso dessa obra embalada por momentos sensuais, dançantes e, porque não dizer, interessantes.




Se antes o garoto falava de um amor puro e inocente, fazia caras e bocas de quem sofria a perda da pessoa amada e relutava em cultivar uma madeixa que mais parecia um miojo, hoje ele pode se gabar por ser um dos homens mais desejados (foi eleito o músico mais sexy pela grife Victoria's Secret este ano) e mais invejados nos dias de hoje (dentre suas conquistas podemos contar Cameron Diaz, Scarlet Johansson e sua atual namorada, Jessica Biel).

E podem falar bem ou mal, podem continuar com o preconceito de “não ouvi, não gostei”, mas se é pra ser POP, Justin Timberlake o faz com estilo.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Surdo-mudo-cego, rei do pinball e futuro messias. Vai encarar?

Ok. Vamos dizer que música combina tudo. Pizza, pancadaria, sexo, livros, games, quadrinhos, e [obviamente] cinema. Porém, nesse último caso, as coisas nem sempre são como deveriam ser. Nem sempre um filme musical consegue passar a energia da música [ou do músico] e seu ritmo, transformando esta experiência em algo bem decepcionante.

E é justamente isto o que acontece com o filme Tommy (1975), dirigido e roteirizado por Ken Russel, uma versão cinematográfica da “ópera rock” de mesmo nome, de 1969, da banda inglesa The Who - Pete Townshend, líder-guitarrista-narigudo que adora quebrar instrumentos carinhosamente na caixa de som, Roger Daltrey, um ótimo vocalista [mas perdido entre seus rivais de outras bandas], John Entwistle, o baixista zen [ele manda bem, mas é puro picolé de chuchu], e Keith Moon, literalmente a versão humana do chapeleiro maluco com baquetas [ele só se aquetou quando matou atropelado, sem perceber durante uma confusão, seu motorista – caiu na depressão e se curou com uma boa overdose, em 1978].






Mas antes de ir pro filme, melhor explicar um pouco de suas origens. Um pouco antes de 1969, a banda tinha finalmente conquistado prestígio no mundo [ou seja, no mercado norte americano xD, com o single “I Can See for Miles”]. Crítica e publico adoravam o misto da banda de endiabrados com garotos cabeças [através da voz de Pete Townshend em entrevistas]. Com o barco andando em bons ventos, eis que surge todo aquele lance clichê do sucesso [especialmente naquele tempo], drogas, perda de identidade, mais drogas, o lance de culto pop, e mais drogas ainda.

Nessa celoura toda, naquele lance de pop-star com peso na consciência, imaginem onde o líder da banda procura ajuda? - Uma jujuba pra quem adivinhar. Ora bolas, num guru espiritual [outro clichê]. Pete limpa seu corpo dos ácidos e se engraça com os ensinamentos do místico indiano Meher Baba, que defende o desligamento do corpo com as cousas da terra para poder se iluminar e compreender deus [olha, outro clichê!].

É deste ponto-nodal que cresce toda concepção que conduziria o mais expressivo trabalho da banda, Tommy. A premissa de Pete era criar uma ópera rock que narrasse a saga de um garoto que fica surdo-mudo-cego [desligado do mundo] após presenciar a morte do amante da mãe, Nora Walker, pelas mãos de seu pai, o capitão Walker. Por aí vai até seu estranho sucesso como jogador de pinball [!], e finalmente curado de sua mazela para virar uma entidade messiânica [o cara compreendeu deus enquanto tava deficiente. Sacaram?].






Esquecendo um pouco da história, o álbum foi um marco técnico e conceitual para seu tempo. Lançado em LP duplo, o som extraído pelo The Who era algo completamente alheio ao que eles executavam. Uma salada do velho hard-rock com progressivo. Até hoje Tommy é recordado com ótimas críticas rasgadas, um marco para a banda e pro rock [eu pessoalmente não ouvi, só conheço as mais famosas].

Bem, e o filme? É... A versão cinematográfica sofreu uma breve adaptação, tanto de roteiro como de sonoridade, mas nada sério. Na película, o capitão Walker é morto pelo amante e Tommy nunca conhece seu pai, além de algumas letras de músicas. Mas o problema mesmo, é que o filme não desce!

A história, meio psicodélica e surrealista, ganha um tom meia boca demais na visão do diretor Ken Russel. A coisa começa fria, quase congelada graças à trilha sonora morna, mas que felizmente melhora no decorrer do filme, salvo pela qualidade das últimas músicas [afinal, John Entwistle, que interpreta nosso herói, finalmente deixa de ser mudo e a gente esquece das dublagens e atuações sofríveis de alguns personagens].





O filme chega a ter momentos interessantes e bem críticos na sua mensagem, como na parte de adoração a Marilyn Monroe, cena censurada no Brasil na época [trazendo como padre o Eric Clapton], no clipe de Pinball Wizard [com Elton John] e a participação de Tina Tuner como uma prostituta junkie. O resto do filme varia entre cenas extremamente desinteressantes, que com certeza ficariam melhor nas mãos de alguém melhor no roteiro e direção. O conceito cinematográfico que sustenta o filme é completamente defasado e pouco inventivo, sinceramente já vi obras surrealistas melhores e surpreendentes.

O que realmente salva o filme é o conteúdo de suas mensagens: consumismo, adoração pop, drogas, incomunicabilidade, religião, guerra e mais drogas. Temas os quais são herança do álbum Tommy, e como aconteceu com este, o filme também foi superbem recebido, ganhando um Globo de Ouro de melhor atriz, pela atuação de Ann-Margret [que se deu muito bem como mãe de Tommy], e duas indicações ao Oscar [melhor atriz e trilha sonora].

Há quem ainda hoje adore este filme, como algo original e ousado. Por mim, ele poderia ter sido tudo isso naquela época, ou até o filme The Wall do Pink Floyd ser lançado em 1982. Atualmente, ele já anda meio datado. Mas, o álbum que deu origem ao filme não deixa de ser um clássico. O bom mesmo é assisti-los ao vivo, e lembrar quem popularizou o quebra-quebra de instrumentos em cima do palco [Porque você acha que Hedrix queimou sua guitarra em Woodstock? Pra deixar Pete fulo das calças por não ter pensado nisso antes! Pelo menos é o que diz a lenda...].


Texto por Dario Mesquita

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Da série: álbuns que carrego no MP3 Player.

Amy Winehouse - Back to Black




O disco que bombou demais ontem no caminho para casa, e que bomba em qualquer situação, é o fantástico Back to Black, da cantora inglesa Amy Winehouse. Creia-me, é um disco de jazz/blues/soul que vale cada segundo do download.

Lançado em 2006, por uma guria borra-botas de 23 anos, o disco traz lamentações, barras e confissões de quem já teve que suportar bastante coisa. Golpe de bons produtores? Vai saber… A maioria das músicas mais empolgantes e paudurecentes são da própria Amy. No máximo aparece uma parceria com algum produtor ou compositor.

Don’t believe the hype, é o que dizem... Bem, eu não ligo. Continuarei achando foda tendo sido ela a autora ou não.

O sucesso da nega café-com-leite começou com o disco Frank, de 2003, que deu a Amy uma visibilidade interessante e abriu portas para festivais americanos e europeus, além de render uma produção mais azeitada para esse Back to Black.

O bom da moça-Amy é que além de gata, tesão, coisa linda de deus, fazer uns penteados extravagantes, ter uma voz anasalada que deus me conceda, ser anoréxica e tal, ela ainda tem o dom de escrever canções com parental advisory lá em cima. A lista de coisas fofas que ela gosta de cantar passa por maconha, cana, muita cana, sexo por cima… Enfim, uma vida de prazeres. Dou valor...

O disco abre com Rehab, e Amy rasga o verbo dizendo que todo mundo quer que ela vá pra reabilitação. Ela, como mulher fina que é, diz que não vai. Em seguida, mais uma pedrada, com You Know I'm No Good, em que ela se auto-escurraça, dando a cara a tapa e admitindo que se enganou, que sabia que ia ser assim, que ia rolar um chifre mesmo amando o outro cara.

Tá, mas essa coisas de comentar letra por letra ficou lá atrás. O importante é saber que esse disco inteiro é recheado de músicas grudentas, dançantes, cantaroláveis e, principalmente, excitantes. Como é difícil encontrar alguma coisa nova que realmente te deixe com o ouvido arriado...

Bateu na trave a vinda dela pro Tim Festival deste ano. Que o interesse dos produtores não diminua, mesmo com os excessos de drogas/boatos [se bem que no fim das contas ainda pode contar como marketing...].

Álbum de caráter altamente diletante, Back to Black não sai do meu MP3 Player tão cedo.




esse disco está disponível aqui!

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Vô batê pá tu batê

Que maravilha de capa, hã?!


De tempos em tempos se tem uma iluminação musical, seja porque descobriu uma nova gama de possíveis influências, seja porque velhas influências se inserem numa rotina diferenciada de quando eles apareceram.

Mais ou menos isso me aconteceu quando eu vi minha irmã tirar de dentro de uma sacola o cd do Baiano & e os Novos Caetanos, que por mais que eu tenha procurado, vasculhado, tentado, achei poucas referências na internética. É um elo perdido da música popular impopular brasileira. Durante muito tempo execrada, agora venerada.

Mas essa não foi uma nova influência trazida a mim do nada. Nos áureos tempos da família vivendo o american way of life, tive contato com esse disco pelas mãos de meu pai, que o comprou e colocou num som CCE, na sala de casa, e me chamou para escutar.

Disco de 1974, Baiano & os Novos Caetanos, formado pelos personagens de Chico Anísio e Arnauld Rodrigues, no programa Chico City [Baiano e Paulinho], traz influências das mais diversas, sempre numa colagem entre o regional e o cosmopolita, numa leitura de deboche da conjuntura nacional da época e dos movimentos artísticos hipervalorizados, no caso a Tropicália.

São onze faixas que transitam entre uma construção do lúdico nordestino, com referências a temas clássicos do sertão, juntamente com guitarras elétricas, solos de blues, coros, sinos, apitos... Nas letras, as referências são mais amplas ainda, construindo uma colcha de suportes, uma construção em cima da desconstrução.

O que mais parece é que a tentativa de fazer uma sátira e uma crítica acabou dando certo e descambando para uma criação mais intensa de um imaginário que circula entre Nega, Cidadão da Mata e Veio Zuza, personagens nominados dentro das composições.

Por outro, clássicos como Vô Batê Pá Tu, que fala das delações na ditadura, e Urubu Tá com Raiva do Boi, uma crítica à situação econômica do país e ao falso “milagre econômico brasileiro”, fizeram de Baiano & Os Novos Caetanos um nome significativo no universo do samba-rock e da música rural.

Esse, que é o primeiro disco da dupla, abriu espaço para uma sensibilidade mais exacerbada de minha parte, que passei a olhar com mais propriedade para aquelas manifestações da nossa cultura, permanecendo, até hoje, esse misto de regional e estrangeiro. O que é totalmente possível e esperado.

Imagine-se, então, isso em 1974.

Quando escutei o disco pela primeira vez, na sua primeira reedição, que aconteceu em 1994, eu tinha 10 anos e quase nenhuma idéia do que era Tropicália e essas outras manifestações artísticas. É como eu costumo dizer: a música exerceu um papel unicamente de catalisador.

Sem idéia do que escutava, as impressões eram todas novas, era apenas a intuição funcionando, como deve ser na origem.

E por hoje é só. Fantástico.