terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Costas quentes; Dentes acesos; Olhos de espelho; Cabeça de leão.
Por Jader Pires


A Nação Zumbi é mesmo uma fera mitológica e constantemente mutável. Criatura que se desenvolveu no mangue recifense e ganhou força e notoriedade com os álbuns Da Lama Ao Caos (1995) e Afrocibederlia (1996), quando ainda contavam com Chico Science nos vocais. Os álbuns posteriores correram por diversos estilos e propostas, do eletrônico ao psicodélico, aumentando a fama de devoradores de respeito e propagadores de boa música.

Sempre lembrados por despontar junto com o movimento Manguebeat, a banda não tem intenção nem de apagar essa memória e nem de viver dela. O maracatu ainda pesa uma tonelada e, dessa vez, o bicho vem com Fome De Tudo.

O sétimo álbum do grupo pernambucano foi lançaado no último mêss de novembro pela Deckdisc, marca a despedida da Trama e continuação do caminho que sempre trilharam: o da inovação e do desapego com o passado consagrado.

Mas o desapego não é por completo, pois uma das propostas cumpridas pela Deckdisc foi a de contratar o produtor Mario Caldato Jr. (que trabalhou, dentre outros projetos, com Beastie Boys, Beck, Marisa Monte e Vanessa da Mata), que chegou a se envolver com a banda na mixagem de Afrocibederlia, mas não chegou a contribuir criativamente com o trabalho.



O Fome De Tudo é o álbum mais cru da banda, que tranqüiliza um pouco as alfaias e abusam da diversidade, mesclando peso, swing latino, maracatu, Jamaica, samba e mais uma infinidade de sonoridades, adicionadas das letras poéticas e reflexivas mais da voz grave e agradavelmente pouco melodiosa de Jorge Du Peixe (o vocal assina todas as composições, sendo 3 com parcerias).

Lúcio Maia lançou um álbum solo no meio do ano chamado Maquinado, e trouxe muita coisa boa desse álbum pro Fome De Tudo. Sua guitarra é hipnotizante, potente e de uma competência pra lá de elogiada. Lucio mostra a cada trabalho ser competente e talentoso.

Bossa Nostra abre o álbum e foi a escolha perfeita para um primeiro single do trabalho. Percussão dinâmica que acompanha o ótimo riff que conduz ao refrão forte "E-levei minha alma pra passear". Infeste talvez é a música mais interessante do álbum, disputando com Inferno, que conta com a participação da cantora Céu. A tal participação é bem sutil e leva sensualidade pra essa canção intrigante tanto nos arranjos como na letra.






Nascedouro é dançante e tem metais muito bons, assim como a música Assustado, que também contribui com o chacoalhar gostoso das ancas (essa música conta com a participação do tecladista Money Mark, que gravou em vários discos dos Beastie Boys).

A música homônima do álbum é a mais pesada e tem uma letra direta e atual. Fecham a coisa toda a trilogia A Culpa, Originais do Sonho e No Olimpo. Esta última canção lembra, claro que no contexto e não na criação, a música A Day In The Life, derradeira no Sgt. Peppers, criação maior dos Beatles. A música segue rumo e chega num emaranhado de sons e melodias que fazem prender a respiração até sossegar e recomeçar o rumo que vai novamente para o aglomerado de sons, de instrumentos até culminar no ápice da obra e da canção. Encerra-se aqui mais uma brilhante criação vinda de Recife.




Todo projeto da Nação Zumbi é sempre muito esperado, comentado e o mais interessante é que a banda consegue seguir com uma tranqüila carreira criativa e comercial na medida do possível, longe do foco das celebridades e da vida de rock stars. Com isso, se consolidam como músicos de peso, renome e respeito.

O mito cresce a cada dia e a fera fica mais e mais faminta...de tudo.

2 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Estralei até os dedos quando vi o teor desse post [música nordestina consen e contêmpora]; enfim, alguma resenha crítica sobre algo regional com sotaque global, conforme o seja o Nação Zumbi, banda que segue experiente agora o legado de Chico Science e mais outras pilas e milas de manguebitnickagens.
Aqui em Teresina tá mó legal, nuns dias e tardes (e nas noites nem respondo por minha capitolina) rola pedrada no Sol e na Lua, facada indo e voltando risca o chão-solta faísca e bala toca até campainha sozinha já. Dá pra ter uma noção do que fora o Recife dos meados de 80 até os finados de 90, quando surgiu o novo pop nordestinado, e éra isso aê, foda-se então.

12 de dezembro de 2007 às 15:28  
Blogger leideia disse...

jadear, desde o início freqüento o calo pra saber das novidades filtradas por vocês e apresentadas de modo interessante/estimulante de toda essa cena musical tão atemporal e importante.
pois, tá na minha hora de te dizer que, pra mim, o seu texto tá crescendo em textura...pro meu modo de perceber ele é "agressivo, do bem", diferente por isso... estiloso.
continue pra sempre...
bj
le

14 de dezembro de 2007 às 09:55  

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