Eu te odeio. Tu me odeias. Nós nos odiamos.
[Atari Teenage Riot]
Não se sente mesmo cheiro de anos atrás. Aquele cheiro de pólvora mistura ao barulho estridente de guitarras deformadas e gritos de ódio. Aquele ar de indignação mesmo, o puro sentimento de destruição política e moral que imperava algumas bandas de protesto [anarquistas ou não, irônicas ou não].
De 1980 pra cá, trataram de f**** o idealismo e os movimentos de esquerda pesados [ok, uma boa parcela eram uns alienados esquerdistas analfabetos que mal sabiam ler filosofia – que nem sabiam que curulhas era “intelectual orgânico”. Enfim, eles mesmos se destruíram ou se deformaram]. O que restou com o fim de tudo isso [e outras coisas] na cena musical, foi uma hedionda cena regada pela própria auto-destruição química e financeira da alegria, e uma overdose irritante de solidariedade pop [que até hoje se discute se essas ações realmente trazem resultados a longo prazo, ou só são via de promoção para celebridades].
Nessa salada do bom consumista dos anos 1990, a música de protesto ainda suspirava um pouco através de bandas como Rage Against the Machine, Asian Dub Foundation e outras menores. Entretanto, os gêneros musicais mais politizados iam pro buraco do mainstream comportado [limpinho, esteticamente saudável]. O punk já caminhava pra virar som de pirulito, o hardcore foi pro mesmo sentido, e o hip-hop... é, vocês sabem, e só basta olhar bem aqui do lado pra ver um tal de D2 tocando junto com coisas como NX Zero, pra depois declarar que a experiência foi algo “legal” [Tudo bem que ninguém deve se prender a condutas ideológicas, mas isso é ridículo!!!].
São estragos idiotas como esses acima que me fazem ter gosto de ouvir Atari Teenage Riot - ATR, criado da discórdia moral e política para gerar a desordem. Formado em 1992 por três jovens: Alec Empire, o líder [que fundou sua própria gravadora, a Digital Hardcore, depois de passar a perna num contrato com a Phonogram Records, e nunca devolver o dinheiro], Hanin Elias, que berra como uma louca, e MC Carl Crack, maestro do caos. Todos filhos de uma Alemanha violentada após a II Guerra e durante a Guerra Fria. Depois veio a nipo-americana Nic Endo que se juntou ao grupo apenas em 1997, estampando no rosto o ideograma japonês para “resistência”, além de contribuir mais ainda para a barulheira toda - fazia e montava samples ruidosos e dava uma ajudinha nos gritos.
De 1980 pra cá, trataram de f**** o idealismo e os movimentos de esquerda pesados [ok, uma boa parcela eram uns alienados esquerdistas analfabetos que mal sabiam ler filosofia – que nem sabiam que curulhas era “intelectual orgânico”. Enfim, eles mesmos se destruíram ou se deformaram]. O que restou com o fim de tudo isso [e outras coisas] na cena musical, foi uma hedionda cena regada pela própria auto-destruição química e financeira da alegria, e uma overdose irritante de solidariedade pop [que até hoje se discute se essas ações realmente trazem resultados a longo prazo, ou só são via de promoção para celebridades].
Nessa salada do bom consumista dos anos 1990, a música de protesto ainda suspirava um pouco através de bandas como Rage Against the Machine, Asian Dub Foundation e outras menores. Entretanto, os gêneros musicais mais politizados iam pro buraco do mainstream comportado [limpinho, esteticamente saudável]. O punk já caminhava pra virar som de pirulito, o hardcore foi pro mesmo sentido, e o hip-hop... é, vocês sabem, e só basta olhar bem aqui do lado pra ver um tal de D2 tocando junto com coisas como NX Zero, pra depois declarar que a experiência foi algo “legal” [Tudo bem que ninguém deve se prender a condutas ideológicas, mas isso é ridículo!!!].
São estragos idiotas como esses acima que me fazem ter gosto de ouvir Atari Teenage Riot - ATR, criado da discórdia moral e política para gerar a desordem. Formado em 1992 por três jovens: Alec Empire, o líder [que fundou sua própria gravadora, a Digital Hardcore, depois de passar a perna num contrato com a Phonogram Records, e nunca devolver o dinheiro], Hanin Elias, que berra como uma louca, e MC Carl Crack, maestro do caos. Todos filhos de uma Alemanha violentada após a II Guerra e durante a Guerra Fria. Depois veio a nipo-americana Nic Endo que se juntou ao grupo apenas em 1997, estampando no rosto o ideograma japonês para “resistência”, além de contribuir mais ainda para a barulheira toda - fazia e montava samples ruidosos e dava uma ajudinha nos gritos.
A banda nasceu mais como um grito [literalmente] de indignação com o ambiente esquizofrênico que Berlim experimentava após a queda do Muro. Berço de toda uma forte linha esquerdista da Alemanha, a cidade se via, depois da “liberdade”, infectada pela proliferação de raves festivas que iam de choque com o sentimento pessimista de toda uma geração que ainda se adaptava dolorosamente ao novo ambiente, além do avanço assustador do movimento neo-nazista, que pegava carona nessa mesma geração perdida e que agia violentamente sem uma intervenção dura das autoridades.
ATR foi umas das primeiras bandas a mixar de forma explícita metal, punk, hip-hop e drumb’n’bass experimental, dando luz a um som caótico [o digital hardcore], gritado com todo sentimento de destruição, chamando os ouvintes para uma mobilização, para um despertar pessoal e social num mundo de sonhos comprados e vazios – nada de falatório político meia boca, ou paz e amor. Um som ensurdecedor e extremamente agressivo para ouvidos delicados.
Ouça no topo pérolas como “Hetzjagd Auf Nazis!” [algo como 'cace os nazistas e os mate'], “Into The Death”, “Deutschland (Has Gotta Die!)”, “Sick to death”, “Death Of A President D.I.Y.!”, e saia com os ouvidos zunindo por um bom tempo.
Não era incomum eles torrarem com o equipamento de som em apresentações ao vivo, ou promoverem a desordem durantes elas. Dentre as confusões mais famosas, cito o espancamento promovido pela Hanin Elias [uma moça delicada!], com seu singelo microfone em cima de um segurança durante turnê no Brasil, em 1997; e o acontecido em plena nas ruas de Berlim, em 1999, com tudo devidamente registrado e sintetizado no vídeo abaixo – o gás lacrimogêneo tomando o lugar e mesmo assim eles não param de tocar.
ATR foi umas das primeiras bandas a mixar de forma explícita metal, punk, hip-hop e drumb’n’bass experimental, dando luz a um som caótico [o digital hardcore], gritado com todo sentimento de destruição, chamando os ouvintes para uma mobilização, para um despertar pessoal e social num mundo de sonhos comprados e vazios – nada de falatório político meia boca, ou paz e amor. Um som ensurdecedor e extremamente agressivo para ouvidos delicados.
Ouça no topo pérolas como “Hetzjagd Auf Nazis!” [algo como 'cace os nazistas e os mate'], “Into The Death”, “Deutschland (Has Gotta Die!)”, “Sick to death”, “Death Of A President D.I.Y.!”, e saia com os ouvidos zunindo por um bom tempo.
Não era incomum eles torrarem com o equipamento de som em apresentações ao vivo, ou promoverem a desordem durantes elas. Dentre as confusões mais famosas, cito o espancamento promovido pela Hanin Elias [uma moça delicada!], com seu singelo microfone em cima de um segurança durante turnê no Brasil, em 1997; e o acontecido em plena nas ruas de Berlim, em 1999, com tudo devidamente registrado e sintetizado no vídeo abaixo – o gás lacrimogêneo tomando o lugar e mesmo assim eles não param de tocar.
No final, a própria banda encontrou sua auto-destruição. Em 2000, ATR encerra as atividades após uma tulmutuada turnê que certamente comprometeu o convívio entre os integrantes. Assim, Alec Empire e Nic Endo prosseguem trabalhando juntos na Digital Hardcore Recordings, Hanin Elias funda sua própria gravadora, a Fatal Recordings [que está nas ultimas], voltada exclusivamente para bandas femininas, e Carl Crack morre de overdose em 2001.
Como herança, a banda deixou uma limitada discografia com músicas de estúdio: Delete Yourself! (1995), The Future of War (1997) – o melhor álbum, banido das lojas alemãs em 2002 [época de caça aos terroristas, sabe como é!] – e 60 Second Wipeout (1999). O resto na lista de seus trabalhos se estende para uma dúzia de gravações ao vivo, EPs, B-sides e coletâneas com músicas remixadas.
Não é nada que mostre alguma evolução musical da banda, ou que deixe uma forte influência para cena eletrônica [como o Daft Punk fez]. E eles podem realmente soar repetitivos em seus trabalhos – samples vão e voltam, refrões são resgatados de faixa em faixa, mas tudo isto trabalha como uma forma de fixação da mensagem da banda, entretanto, às vezes pode encher o saco de alguns.
Mesmo assim, quase oito anos depois do fim de ATR, o som deles me faz falta. Diante de tantas mudanças políticas e sociais nesse período, a temática de suas músicas é mais que atual, o que demonstra que nada mudou sinceramente. A sensação que fica é aquela pura hipocrisia e desespero humano mostrado em filmes como “Réquiem para um Sonho” e “Tropa de Elite”. Não que eu seja alguém engajado pelas mudanças [sou tão “verme” como milhares], mas ao menos sou capaz de reconhecer que um pouco de ódio e revolta são capazes de acordar uma alma apática, e podem salvar alguém duma vida vegetativa de mentiras.
Como herança, a banda deixou uma limitada discografia com músicas de estúdio: Delete Yourself! (1995), The Future of War (1997) – o melhor álbum, banido das lojas alemãs em 2002 [época de caça aos terroristas, sabe como é!] – e 60 Second Wipeout (1999). O resto na lista de seus trabalhos se estende para uma dúzia de gravações ao vivo, EPs, B-sides e coletâneas com músicas remixadas.
Não é nada que mostre alguma evolução musical da banda, ou que deixe uma forte influência para cena eletrônica [como o Daft Punk fez]. E eles podem realmente soar repetitivos em seus trabalhos – samples vão e voltam, refrões são resgatados de faixa em faixa, mas tudo isto trabalha como uma forma de fixação da mensagem da banda, entretanto, às vezes pode encher o saco de alguns.
Mesmo assim, quase oito anos depois do fim de ATR, o som deles me faz falta. Diante de tantas mudanças políticas e sociais nesse período, a temática de suas músicas é mais que atual, o que demonstra que nada mudou sinceramente. A sensação que fica é aquela pura hipocrisia e desespero humano mostrado em filmes como “Réquiem para um Sonho” e “Tropa de Elite”. Não que eu seja alguém engajado pelas mudanças [sou tão “verme” como milhares], mas ao menos sou capaz de reconhecer que um pouco de ódio e revolta são capazes de acordar uma alma apática, e podem salvar alguém duma vida vegetativa de mentiras.
1 Comentários:
texto seguro e rico. um primor.
e não se faz mais música de protesto [nem público de música de protesto] como antigamente...
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