As duras verdades da vida
Difícil não começar esse texto pelo caminho mais fácil. Há nela um sobrenome [e se pensar com carinho, dois...] e/ou uma história cabulosa. Motes perfeitos para justificar uma resenha "filho de peixe, peixinho é" ou "vamos todos rir da desgraça alheia!". Mas não.
Vamos pensar um pouco...
É acho que dá pra abrir uma terceira via. Ok, vamos lá.
---
Este é um disco que fala de amor. Este é um belo disco que fala de amor. Este é um belo disco que fala do amor como alimento da alma, mas também como veneno do corpo. Este é um disco que fala de alma, corpo, veneno, alimento, amores carnais e fraternais.
Este é um disco cheio de coisas. De letras, de sons, mas, fundamentalmente, um disco cheio de símbolos e significados.
Participante freqüente dos discos de sua mãe, Sean Lennon [filho dele e dela, sim] fez sua primeira aparição no mundo da música em 1981, mas só lançou um disco seu em 1998, o esquisito-bossa-eletrônico-super-cool Into the Sun, gravado junto com a sua namorada à época, Yuka Honda [Cibo Matto]. O cara foi elogiado, recebeu boas críticas, lançou um disco de remixes e alguns novidades no ano seguinte [o médio Half Horse, Half Musician], e caiu em um silêncio voluntário que durou sete anos.
Entretanto, sua opus magnum ainda não havia surgido. A verdadeira obra-prima de Sean Lennon veio em 2006, com o lançamento do disco Friendly Fire. Teríamos discos mais interessantes na praça se mais bandas valorizassem o silêncio como Sean. Neste segundo álbum, 90% dos tiros são certeiros. E para alguém que tem bala na agulha mas não faz tanta questão assim de apertar o gatilho, é um resultado fantástico.
Agora que a cortina foi aberta e já conhecemos os personagens desta resenha, vamos à história cabulosa que envolve o disco. Sean era um rapaz apaixonado. Muito apaixonado. Amava uma moça chamada Bijou Phillips. E Sean tinha um amigo, um grande amigo, um amigo chamado Max LeRoy. E Bijou e Max resolveram estreitar ainda mais os laços partindo para um affair de proporções beligerantes.
Fim do romance com Bijou, corte de relações com Max, dor de cotovelo eterna somada à morte repentina do amigo num acidente de moto, esse é o sumo de Friendly Fire. Sim, é verdade mesmo. Se esse disco fosse uma laranja, o suco proveniente dele teria amor, traição, dor e desprendimento, com um sabor acentuado de fel.
E isso Sean expõe muito bem ao longo de todo o álbum [e dos clipes elaborados em forma de história para algumas das faixas do disco]. Não é preciso muito esforço para entender que todas as chagas do relacionamento desfeito e da morte do amigo ainda estão presentes ali. Os arranjos são soturnos e em escalas menores [usando inclusive o famoso acorde apaixonado - o F#m], a voz é sussurrada, e as letras são um destaque impossível de ser ignorado. São as letras são doloridas, confidenciais, deliciosamente bregas e pungentes, muito pungentes.
E são muitas as sacadas durante o disco inteiro...
Em Dead Meat, Sean dispara: "Don't you know you're dead meat/You just messed with the wrong team"
Em Friendly Fire, Sean acusa: "You launched the assault with the first cannon ball/My soldiers were sleeping"
Em Parachutes, Sean indaga: "If life is just a dream then which of us is dreaming/And who will wake up screaming?"
Em Spectacle, Sean lamenta: "You said you would/But you never will change/You only do it if I do the same"
Em Tomorrow, Sean mente: "I promise to stop thinking of you constantly/and wishing i could wake up every morning next to you"
E é assim que Sean acredita que se pode expiar uma dor.
"Dead Meat" e entrevista em que Sean fala sobre a motivação do disco
Difícil não começar esse texto pelo caminho mais fácil. Há nela um sobrenome [e se pensar com carinho, dois...] e/ou uma história cabulosa. Motes perfeitos para justificar uma resenha "filho de peixe, peixinho é" ou "vamos todos rir da desgraça alheia!". Mas não.
Vamos pensar um pouco...
É acho que dá pra abrir uma terceira via. Ok, vamos lá.
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Este é um disco que fala de amor. Este é um belo disco que fala de amor. Este é um belo disco que fala do amor como alimento da alma, mas também como veneno do corpo. Este é um disco que fala de alma, corpo, veneno, alimento, amores carnais e fraternais.
Este é um disco cheio de coisas. De letras, de sons, mas, fundamentalmente, um disco cheio de símbolos e significados.
Participante freqüente dos discos de sua mãe, Sean Lennon [filho dele e dela, sim] fez sua primeira aparição no mundo da música em 1981, mas só lançou um disco seu em 1998, o esquisito-bossa-eletrônico-super-cool Into the Sun, gravado junto com a sua namorada à época, Yuka Honda [Cibo Matto]. O cara foi elogiado, recebeu boas críticas, lançou um disco de remixes e alguns novidades no ano seguinte [o médio Half Horse, Half Musician], e caiu em um silêncio voluntário que durou sete anos.
Entretanto, sua opus magnum ainda não havia surgido. A verdadeira obra-prima de Sean Lennon veio em 2006, com o lançamento do disco Friendly Fire. Teríamos discos mais interessantes na praça se mais bandas valorizassem o silêncio como Sean. Neste segundo álbum, 90% dos tiros são certeiros. E para alguém que tem bala na agulha mas não faz tanta questão assim de apertar o gatilho, é um resultado fantástico.
Agora que a cortina foi aberta e já conhecemos os personagens desta resenha, vamos à história cabulosa que envolve o disco. Sean era um rapaz apaixonado. Muito apaixonado. Amava uma moça chamada Bijou Phillips. E Sean tinha um amigo, um grande amigo, um amigo chamado Max LeRoy. E Bijou e Max resolveram estreitar ainda mais os laços partindo para um affair de proporções beligerantes.
Fim do romance com Bijou, corte de relações com Max, dor de cotovelo eterna somada à morte repentina do amigo num acidente de moto, esse é o sumo de Friendly Fire. Sim, é verdade mesmo. Se esse disco fosse uma laranja, o suco proveniente dele teria amor, traição, dor e desprendimento, com um sabor acentuado de fel.
E isso Sean expõe muito bem ao longo de todo o álbum [e dos clipes elaborados em forma de história para algumas das faixas do disco]. Não é preciso muito esforço para entender que todas as chagas do relacionamento desfeito e da morte do amigo ainda estão presentes ali. Os arranjos são soturnos e em escalas menores [usando inclusive o famoso acorde apaixonado - o F#m], a voz é sussurrada, e as letras são um destaque impossível de ser ignorado. São as letras são doloridas, confidenciais, deliciosamente bregas e pungentes, muito pungentes.
E são muitas as sacadas durante o disco inteiro...
Em Dead Meat, Sean dispara: "Don't you know you're dead meat/You just messed with the wrong team"
Em Friendly Fire, Sean acusa: "You launched the assault with the first cannon ball/My soldiers were sleeping"
Em Parachutes, Sean indaga: "If life is just a dream then which of us is dreaming/And who will wake up screaming?"
Em Spectacle, Sean lamenta: "You said you would/But you never will change/You only do it if I do the same"
Em Tomorrow, Sean mente: "I promise to stop thinking of you constantly/and wishing i could wake up every morning next to you"
E é assim que Sean acredita que se pode expiar uma dor.
"Dead Meat" e entrevista em que Sean fala sobre a motivação do disco
A traição e perda na visão de Sean Lennon aqui.